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O Livro de Gênesis O Sétimo Dia Oitava videoconferência de uma série sobre o sentido espiritual do livro de Gênesis
Concluímos, na semana passada, o estudo sobre os seis da criação no primeiro capítulo de Gênesis, de acordo com a explicação da obra Arcanos Celestes, de Swedenborg. Está claro que o relato de Gênesis não pode ser compreendido ao pé da letra, porque assim teríamos vários paradoxos. O fato é que a Bíblia consiste tanto de história real quanto de parábolas, compostas por tipos simbólicos a fim de transmitir de modo um inteligível a realidade espiritual, que de outra maneira seria abstrata. Esse estilo, de parábola, e não de história, é como foram escritos os onze primeiros capítulos de Gênesis, incluindo a história da criação, a queda do homem, o dilúvio e a torre de Babel. Cada evento desses descreve, de fato, estados de formação, progressão ou degeneração do homem quanto ao seu espírito e, por conseguinte, da religiosidade ou igreja de cada época. No caso da criação, tivemos a oportunidade de ver que cada dia significa uma fase da regeneração, com seus símbolos tomados do universo natural. E essas fases vão se sucedendo em ordem, gradativamente, pois o nascimento espiritual não é instantâneo, nem é operado por Deus independentemente da pessoa, porque leva em conta a sua liberdade, racionalidade, hereditariedade, suas ações más e boas, em resumo, tudo o que compõe a sua personalidade, que não pode ser violada nem mudada a não ser lentamente. O fim dessa obra Divina é que a pessoa adquira a vida espiritual ao receber a caridade e a fé, e se torne a imagem de Deus, conforme é descrito no sexto dia. Continuando o nosso estudo no capítulo 2 do Gênesis, lemos: “E foram acabados os céus e a terra, e todo o exército deles. E acabou Deus no dia sétimo a obra Sua, que fez. E descansou no dia sétimo de toda a obra Sua, que fez. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou, porque nele descansou de toda a obra Sua, que criou Deus fazendo. Estas são as natividades dos céus e da terra, quando os criou, no dia em que Jehovah Deus fez a terra e os céus. E nenhum rebento do campo havia ainda na terra, e nenhuma erva do campo ainda germinava, porque Jehovah Deus não fizera chover sobre a terra, e homem nenhum para cultivar o humo.” (Vers. 1 a 5). Parece que há uma repetição aqui: criação dos céus, vegetais e o homem, mas a semelhança é porque se trata também de uma formação, mas agora do homem celeste, seu conhecimento, sua vida e sua inteligência. “O homem, quando de morto se torna espiritual, de espiritual se torna celeste” ... “O seu conhecimento e o seu racional são descritos pelo ‘rebento e pela erva do humo regado pelo vapor’; ... Sua vida é descrita pela ‘inspiração de uma alma de vidas’... Depois, a sua inteligência é descrita pelo “’jardim em Éden para o oriente’, no qual as ‘árvores desejáveis à vista’ são as percepções do vero, e ‘as árvores boas para comida’ são as percepções do bem. O amor é descrito pela ‘árvore de vidas’ e a fé pela ‘árvore da ciência’...” (AC 73-77) O homem se torna celeste quando o amor se torna o principal e a fé, o secundário (vide AC 84). “Quando a obra chega a ponto de a fé ser conjunta ao amor, é chamada “muito boa”, porque, então, o Senhor o conduz como “semelhança” Sua. O homem celeste é representado pelo “sábado”, o sétimo dia, no qual se diz que o Senhor descansa, porque não precisa combater pelo homem que triunfou sobre os males. “No fim do sexto dia, os maus espíritos se afastam e são substituídos pelos bons, e o homem é introduzido no Céu ou Paraíso celeste, do qual se tratará no capítulo seguinte”. Acontece que, no final da nossa última palestra, nós tínhamos lido a seguinte passagem (13) nos Arcanos: “Dos que estão sendo regenerados, nem todos chegam a este estado, mas alguns, e hoje a maioria, chegam somente ao primeiro; alguns apenas ao segundo; alguns ao terceiro, quarto, quinto; raramente ao sexto e quase ninguém ao sétimo.” Quer dizer, em nossa época, quase ninguém se torna homem celeste mais. Se for assim, por que se fala desse homem no segundo capítulo de Gênesis? Quem é ou quem são os que se tornam homem celeste? Aprendemos nos Escritos de Swedenborg que em nossa Terra, num passado remotíssimo, a raça humana tinha características diferentes da de hoje, tinha outra relação com o Criador e podia ser regenerada até o grau celeste, quando se tornavam homens e mulheres celestes. Essa raça antiquíssima, homens e mulheres, é representada por Adão, ou Homem, e a inteligência daquelas pessoas é simbolizada pelo jardim do Éden e todas as coisas que são mencionadas no jardim: rios, árvores e pedras preciosas. Isto foi na chamada Idade de Ouro, citada por alguns sábios do passado. Então, o capítulo 2 do Gênesis fala da formação espiritual, da vida e da inteligência da raça adâmica. Adão, termo que quer dizer simplesmente, “homem”, no hebraico, é o gênero humano masculino e feminino, pois no capítulo anterior foi dito: “macho e fêmea os criou”. A raça antiquíssima tinha outro tipo de respiração e podia falar normalmente com os anjos e ser instruído por eles. Não tinham uma revelação escrita, mas oral. Tinham, além disso, a percepção, e podiam ver nos objetos da natureza a representação das coisas do céu. O indivíduo nascia natural e corpóreo, mas não era corrompido pelos males. E no processo de sua formação se torna espiritual e, finalmente, celeste. Não sabemos o quanto durou essa era, se milhares ou milhões de anos, mas durante esse tempo o homem estava na inocência e na integridade e era conduzido por Deus em todas as coisas até ser levado aos céus. Todavia, por causa do livre arbítrio, chegou um tempo em que aquelas pessoas começaram a olhar para si mesmas e desejaram ter alguma vida própria, algo que fosse delas e não de Deus. Essa mudança é contada simbolicamente na história da criação da mulher, na ultima parte do capítulo 2. E é óbvio que “mulher”, ali, não é o ser humano feminino, pois ela já existia e foi criada com o masculino, “macho e fêmea os criou”. A “mulher”, formada da costela do homem, significa aí o proprium, o ‘ego’ do indivíduo, seja ele homem ou mulher. Representa essa sensação de individualidade, pertencente a si mesmo, sua vida como se estivesse nele e fosse dele, e não do Senhor. Isto se chama de “proprium”, e daí é que vem a sensação de que a vida está em nós, independentemente do Criador. Então, a criação desse sentimento, representado pela criação da mulher, foi um desvio da integridade primitiva dos antiquíssimos, mas não chegava a ser, em si, um mal. Mais tarde, porém, por causa do abuso dessa independência, o proprium do homem se deixou seduzir cada vez mais pelos raciocínios e pelas ilusões dos sentidos, e quis se tornar por si mesmo, à parte da sabedoria de Deus. Isto é representado pela sedução da serpente e pelo ato de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. E então o homem caiu, isto é, perdeu sua integridade e sua sabedoria angélica, o que foi representado pela expulsão do Éden. Todo esse relato está descrito, no sentido interno, no capítulo 3, e nós estamos falando do 2. Mas a antecipação é necessária para mostrar quem é, ou quem foi, basicamente, esse homem celeste cuja formação é descrita no capítulo 2. Para explicar melhor a natureza do homem celeste, os Arcanos fazem uma comparação entre o homem antes da regeneração (chamado “morto”), o homem espiritual (do fim dos seis dias) e o homem celeste (o sétimo dia), dizendo que há grande diferença entre eles. O homem chamado morto só reconhece a verdade que se refere ao corpo e ao mundo. O homem espiritual reconhece a verdade e o bem espirituais e celestes, mas pela fé. Já o homem celeste crê na verdade e no bem espirituais e celestes, e os percebe. O homem morto não luta contra os males, ou, se luta, quase sempre é vencido por eles; “os males e falsos governam nele, e ele é o servo”. Os únicos vínculos que o refreiam são vínculos externos, como o temor da lei, da perda da vida, da riqueza, dos proveitos e da reputação. O homem espiritual está em luta e sempre vence. Seus vínculos, pelos quais age, são os internos e da consciência. O homem celeste não está em luta, já venceu os males e falsos e não tem vínculos a não ser as percepções do bem e da verdade. O homem espiritual age pela consciência, o celeste age pela percepção. A consciência é formada pelas verdades que a pessoa aprende e obedece; ela se forma, portanto, pela via externa, ao passo que a percepção é uma intuição que vem do Senhor, por via interna, uma espécie de sensação interna que diz se algo é uma verdade e se é um bem. Assim, enquanto o espiritual tem de aprender as verdades, o celeste é instruído imediatamente pela percepção. Já o homem morto não tem sequer consciência, “e a maior parte das pessoas não sabe o que é consciência e ainda menos o que é percepção.” Além disso, no homem espiritual, o SENHOR influi pela fé em suas coisas intelectuais, enquanto no homem celeste o SENHOR influi pelo amor e pela fé do amor, em suas coisas intelectuais. (AC 99) Mesmo enquanto o homem é espiritual, ainda há conflito entre sua mente externa e a interna. Mas quando as afeições más são subjugadas e a mente externa é reduzida à obediência, o homem externo serve ao interno, e o conflito cessa. O homem celeste é chamado o “sábado”, ou repouso, porque cessa a luta. “Os maus espíritos se afastam e os bons se aproximam e, então, vêm os anjos celestes. Quando estes estão presentes, os maus espíritos não podem ficar, mas fogem para longe. E, como não foi o homem mesmo quem lutou, mas o SENHOR, só, pelo homem, diz se que “o SENHOR descansou”. Daí vem a tranquilidade espiritual, que “é significada pela “chuva” e pelo “vapor”... Essa tranquilidade, que pertence à paz, produz as coisas que são chamadas “rebento do campo” e “erva do campo”, que são particularmente as coisas racionais e os conhecimentos de uma origem celeste espiritual. “E formou JEHOVAH DEUS o homem, pó do humo; e soprou em suas narinas fôlego de vidas; e o homem tornou se alma vivente”. “Formar o homem, pó do humo” é a formação do homem externo no homem celeste. “Soprar em suas narinas fôlego de vidas” é dar lhe a vida da fé e do amor. “Por “vidas”, no plural, são entendidos o Amor e a Sabedoria, que ambos são essencialmente Deus, porque quanto mais o homem recebe e aplica estes dois essenciais da vida, que procedem continuamente de Deus, e influem continuamente nas almas dos homens, mais ele se torna almas viventes; porque a vida é a mesma coisa que Amor e Sabedoria” (Coronis 25). “O homem se tornou alma vivente” é que o homem externo também tornou se vivo. “E plantou JEHOVAH DEUS um jardim em Éden para o Oriente, e pôs ali o homem a quem formou”. Pelo “jardim” é significada a inteligência; pelo “Éden”, o amor; pelo “Oriente” o SENHOR. Assim, pelo “jardim em Éden para o Oriente” é significada a inteligência do homem celeste que flui do SENHOR por meio do amor. “E JEHOVAH DEUS fez brotar do humo toda árvore desejável à vista e boa para comida; e a árvore de vidas no meio de jardim; e a árvore da ciência do bem e do mal”. “Árvore” significa percepção; “árvore desejável à vista”, a percepção do vero; “árvore boa para comida”, a percepção do bem; “árvore de vidas”, o amor e a fé procedente do amor; “árvore da ciência do bem e do mal”, a fé que vem dos sentidos ou dos conhecimentos. “A ‘árvore de vidas’ é o amor e a fé que procede do amor; “no meio do jardim” é na vontade do homem interno.” No homem celeste, o amor e a fé estão no íntimo do seu ser, o meio do jardim, ou na vontade, que “na Palavra se chama ‘coração’”. Porém, depois da queda, a vontade do homem irregenerado se tornou um acúmulo de cobiças, uma massa caótica, “a terra era vácua e vazia, e a escuridão sobre as faces do abismo.” “E tomou JEHOVAH DEUS o homem e pô-lo no jardim do Éden para cultivá-lo e para guarda-lo”. Pelo “jardim do Éden” são significadas todas as coisas que estão no homem celeste, das quais se trata aqui; por “cultivá-lo e guarda-lo” é significado que lhe foi concedido fruir de todas essas coisas, mas não possuí-las como suas, porquanto são do SENHOR. “E JEHOVAH DEUS ordenou ao homem a respeito dele, dizendo: De toda árvore do jardim, comendo comerás”. “Comer de toda árvore” é conhecer e saber, pela percepção, o que é o bem e o vero, pois, como foi dito, a percepção é a “árvore”. Como a raça adâmica tinha a percepção vinda de Deus e por ela podiam receber a sabedoria angélica, eles não tinha necessidade de outra fonte de instrução. “Mas da árvore da ciência do bem e do mal, não comerás dela, porque no dia em que comeres dela, morrendo morrerás”. Essas expressões, bem como as anteriores, significam que é permitido, por toda percepção vinda do SENHOR, conhecer o que é a verdade e o bem, mas não por si mesmo e pelo mundo, ou inquirir os mistérios da fé pelas coisas dos sentidos e dos conhecimentos, pelo que o celeste do homem morre.” “Comer da árvore da ciência do bem e do mal” é querer ser sábio por seu próprio meio, pelos conhecimentos vindos pelos sentidos e não pela instrução Divina. Este foi a razão da queda do raça antiquíssima, Adão, ou da Igreja daquele tempo. Por aí vemos como é ingênua a interpretação que se faz, geralmente, desse relato, a respeito da tentação pela serpente, a sedução da mulher, o fruto – que acham ser maçã – e a queda do homem, no que as pessoas se acostumaram a colocar uma conotação sexual. Mas comer da árvore da ciência é priorizar os conhecimentos dos sentidos em detrimento da revelação. É quando o homem condiciona a crença aos seus princípios, quando só crê naquilo que vê e compreende, e com isso rejeita tudo o que se opõe ao que ele entende ser verdadeiro. A continuação desse caminho leva ao ateísmo, porque ele não vê Deus ou as operações de Deus na natureza. “Quanto mais deseja saber por esse meio, mais se cega, até o ponto de não crer em mais nada, nem mesmo que exista algum espiritual ou a vida eterna. Isso vem do princípio que adotou. É isto que é ‘comer da árvore da ciência do bem e do mal’”; quanto mais ele come dessa árvore, mais fica morto.” A atitude saudável, espiritualmente falando, é, em primeiro lugar, reconhecermos com humildade que existe um Deus, uma Verdade Divina, e que ela está acima de nossos conceitos humanos do que seja a verdade e o bem. Em segundo lugar, que precisamos aprender essa Verdade e saber como ela se aplica à nossa vida. Por último, que pautemos nossas vidas pelo que a Verdade ensina, porque o propósito dela é nosso bem, nossa felicidade, sobretudo na vida eterna. “Eis aqui, então, o sentido interno da Palavra, a sua vida mesma, que não se manifesta jamais pelo sentido da letra. Mas os arcanos são em tão grande número que volumes não bastariam para explica-los. Aqui foram ditas somente umas pouquíssimas coisas, tais que possam confirmar que se trata da regeneração e esta procede do homem externo para o interno”.
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