Desde 2001, um website dedicado à divulgação dos Escritos teológicos de Emanuel Swedenborg (1688-1772).
Literatura :: Estudo Bíblico :: Biografia de Swedenborg :: Contatos :: Sermões :: Tópicos :: Swedenborg website :: Links

PÁGINA PRINCIPAL  |  ÍNDICE DAS PALESTRAS  | PÁGINA ANTERIOR |  PRÓXIMA PÁGINA 

O Livro de Gênesis

O Sexto Dia da Criação

Sétima videoconferência de uma série

sobre o sentido espiritual do livro de Gênesis

 

E disse DEUS: Façamos o homem à Nossa imagem, segundo a Nossa semelhança. E dominarão sobre os peixes do mar, e sobre a ave dos céus, e sobre a besta, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que rasteja sobre a terra. E criou DEUS o homem à sua imagem, à imagem de DEUS o criou; macho e fêmea os criou. E os abençoou DEUS; e disse-lhes DEUS: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e subjugai-a. E dominai sobre os peixes do mar e sobre a ave dos céus, e sobre todo [ser] vivo que rasteja sobre a terra. E disse DEUS: Eis, dou-vos toda erva dando semente, que [há] sobre as faces de toda a terra, e toda árvore em que [há] fruto. A árvore que produz semente vos será para comida. E a toda fera da terra, e a toda ave dos céus, e a tudo o que rasteja sobre a terra, em que [há] alma vivente, todo verde da erva, para alimento. E foi feito assim. E viu DEUS tudo o que fez, e eis, mui-to bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia sexto.” -Gênesis 1:24-31

 

 Vimos as etapas da regeneração do homem desde o começo, quando se acendeu para ele a luz fé, em seguida, quando fez distinção em sua mente entre seus conhecimentos e as verdades de Deus, e passou a ter noção de seu homem interno. Depois, quando começou a praticar as obras da fé por obediência e com lutas; em seguida, quando perseverou na obediência até serem implantados nele o amor e a fé. Depois disso é que os atos que ele praticou foram vivos, porque eram feitos por Deus através dele. Finalmente, as afeições boas foram insinuadas em sua mente, quando chegou ao sexto estado, conforme começamos a ver na semana passada.

Na continuação do sexto estado, lemos: “E disse DEUS: Façamos o homem à Nossa imagem, segundo a Nossa semelhança.” Já mencionamos que o verbo no plural, aqui, “façamos”, tem ocasi-onado diversas interpretações. Mas, conforme já vimos também, há duas razões para isso: a primei-ra é porque o sujeito, citado logo no primeiro versículo, é o plural de “Deus”, no hebraico, “Eloim”. Daí alguns deduziram que se está referindo aos “três deuses”, o Pai, o Filho e Espírito Santo. Mas a razão e o bom senso rejeita a ideia de três deuses, como absurda em si mesma. Então, a razão real do “façamos” está no sentido espiritual: é que o Senhor regenera o homem por intermédio dos an-jos, que são chamados de “deuses” porque recebem as coisas de Deus. Os anjos participam desse trabalho Divino acompanhando, direcionando, protegendo e inspirando o homem em todo o proces-so.

O primeiro capítulo de Gênesis que acabamos de ver, entendido no sentido literal, fala da cria-ção física do universo, o céu, a terra, os vegetais, o sol, a lua, os peixes, as aves, e os animais, até o sexto dia, e somente no fim do sexto dia é que fala da criação do ser humano, “façamos o homem”. Isto é o sentido literal. Mas, no sentido espiritual, o entendimento é outro: tudo o que é menciona-do, desde o primeiro dia, se refere unicamente ao homem, pois todas aquelas coisas e seres citados até aqui fazem parte do espírito do humano. Sendo assim, quando chegamos aqui e lemos “façamos o homem”, devemos entender não que o processo de criação do homem vai se iniciar, mas que está se concluindo. Desde o começo até aqui o homem estava sendo gradativamente criado espiritual-mente, e agora a regeneração se completa. Mas o homem não é mencionado antes disso porque ele só se torna de fato homem após receber do Divino a vida espiritual e se tornar uma imagem de Deus, o Único e Verdadeiro Homem.

Lemos, então, que Deus criou o homem, “macho e fêmea”. Também aqui, os termos “macho e fêmea”, entendidos no sentido literal, dizem exatamente isso, que Deus criou o ser humano com um ou outro gênero, masculino ou feminino. Mas, no sentido espiritual, os arcanos encerrados nesses dois termos, “macho e fêmea” não se referem à característica física do indivíduo, mas à constitui-ção do seu espírito, porque “macho” significa o entendimento do homem espiritual, e “fêmea” sig-nifica a vontade desse homem, e essas duas faculdades foram criadas para serem uma só mente. Então, o que se entende aqui é que, quando o processo de criação espiritual do ser humano se com-pleta, no sexto dia, o Senhor finalmente forma nele uma nova vontade, ou “fêmea”, e um entendi-mento novo, ou “macho”. Todo o processo da criação das etapas anteriores culmina nisso, que o ser humano tenha essas duas faculdades refeitas por Deus de tal maneira que elas constituam harmoni-camente uma só mente, ou um só ser humano, seja ele homem ou mulher. Quando atinge esse pon-to, pelo novo nascimento, a vontade nova está pronta para receber o amor de Deus e o entendimen-to, para receber a sabedoria, em forma de caridade e fé, respectivamente. A caridade e a fé fazem, por conseguinte, com que o homem se torne imagem de seu Criador.

E sobre esses dois aspectos da mente, os Arcanos Celestes nos falam que, quando a vontade e o entendimento agem em consonância mútua, como se dá no sexto estado, eles formam uma espécie de casamento, casamento esse que é também a imagem da união Divina no Senhor, entre o Divino Amor e a Divina Sabedoria. E mais, é por causa desse casamento Divino que todas as coisas criadas no universo se referem ao bem e à verdade.

Esse casamento no universo não é tão visível à nossa observação natural, mas é plenamente ma-nifesto em toda parte na Palavra, onde sempre encontramos essa dualidade ou pares de expressões que se casam, uma se referindo ao bem, outra à verdade.

Lemos na obra “Doutrina da Escritura Santa”: “Alguns vocábulos e nomes se atribuem ao bem, alguns ao vero e alguns incluem um e outro”.... Como existe tal casamento em cada coisa da Palavra, por isso há, muitas vezes, expressões duplas que parecem ser repetições de uma mesma coisa. Não são, todavia, repetições, mas uma se refere ao bem e a outra ao vero, sendo que uma e outra tomadas juntamente fazem a conjunção dos dois, assim, uma só coisa.

“Vem daí, também, a Divindade da Palavra e a sua santidade, porque em toda obra do Se-nhor o bem é conjunto ao vero e o vero é conjunto ao bem”. Onde está o casamento do Senhor e da igreja, aí também está o casamento do bem e do vero, porque este vem daquele. Porque, quando a igreja ou o homem da igreja está nos veros, então o Senhor influi com o bem em seus veros e os vivifica. Ou, o que é a mesma coisa, quando a igreja ou o homem da igreja está na inteligência por meio dos veros, então o Senhor, pelo bem do amor e da caridade, influi em sua inteligência e, assim, introduz ali a vida....

“Em todo homem existem duas faculdades da vida, que se chamam entendimento e vonta-de.... Esses dois constituem um só, para que o homem seja homem da igreja. Mas fazem um quando o homem forma o entendimento com os veros genuínos, e isso se faz aparentemente como se por ele mesmo; e é feito pelo Senhor quando a sua vontade se enche do bem do amor. Assim há, no homem, a vida do bem e do vero, a vida do vero no entendimento proveniente da vontade, e a vida do bem na vontade por meio do entendimento. Este é o casamento do vero e do bem no homem, portanto, o casamento do Senhor e da igreja nele.” (80-83).

“E os abençoou Deus, e disse-lhes Deus: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e subju-gai-a. E dominai sobre os peixes no mar, e sobre a ave dos céus, e sobre todo [ser] vivo que rasteja sobre a terra”“.

Uma vez que a conjunção do entendimento e da vontade renovados forma um casamento, por is-so, o que resulta dessa união se chama frutificação e multiplicação. Frutificação em referência ao bem e multiplicação em referência à verdade. O bem frutifica e a verdade se multiplica. A capaci-dade dos frutos e das sementes de se multiplicarem ao infinito tem sua origem nessa união e proli-ficação Divinas do Amor e da Sabedoria. Lemos em outra obra que as sementes têm, potencialmen-te, a possibilidade de se multiplicar a tal ponto que todo o globo terrestre não bastaria para contê-las, por sua abundância, o que é uma imagem da infinidade Divina. Assim também acontece com os bens e verdades com os anjos; esses bens e verdades frutificam e se multiplicam na infinidade de usos que eles prestam nos céus, sem nunca se esgotarem, e com os usos eles têm regozijo e felici-dade eternamente.

Desde os primeiros estudos, já vimos também que o homem natural ou externo foi significado pela “terra” na história da criação, e o homem interno foi representado pelo céu. O propósito da regeneração é que o homem interno ou espiritual domine ou controle o homem externo ou natural. Mas esse domínio só é alcançado por meio das lutas da tentação, quando as inclinações más e as maldades ativas do indivíduo, que são como feras nocivas, são vencidas, afastadas e os bens são implantados em seu lugar. Portanto, é esse combate do homem espiritual e sua dominação sobre o natural que é aqui representado pelo que foi dito: “subjugai a terra”, e “dominai”. Porque o homem regenerado finalmente adquire controle sobre as cobiças e paixões de sua mente natural, e as man-tém em sujeição aos princípios elevados do amor a Deus e ao próximo.

“E disse DEUS: Eis, dou-vos toda erva dando semente, que [há] sobre as faces de toda a terra, e toda árvore em que [há] fruto”. A árvore que produz semente vos será para comida. A “erva dando semente” é toda verdade que se refere a um uso.

A “árvore na qual [há] fruto” é o bem da fé. O “fruto” é o que o Senhor dá ao homem celeste, mas a “semente”, da qual vem o fruto, é o que Ele dá ao homem espiritual. Por isso se diz: “a árvo-re que produz semente vos será para comida”. Que a comida celeste se chame “fruto da árvore” vê-se pelo capítulo seguinte, onde se trata do homem celeste.

“E a toda fera da terra, e a toda ave dos céus, e a tudo o que rasteja sobre a terra, em que [há] alma vivente, toda erva verde, para alimento. E assim foi feito”.

Aqui é descrito, em resumo, nutrimento do homem regenerado. Nós já vimos alguma coisa sobre isso quando tratamos aqui das afeições como alimentos espirituais, as boas, o alimento celeste, e as más, o alimento infernal. De acordo com a qualidade de afeição que cultivamos, de que nos nutri-mentos espiritualmente, nosso espírito ou é vivificado ou definha e morre espiritualmente. E tanto os anjos como os maus espíritos se associam a nós conforme as nossas afeições, pois dependem dela como bases naturais, uma vez que o gênero humano no mundo natural é o sustentáculo do gê-nero humano no mundo espiritual.

 Mas não vamos entrar mais nessas considerações por ora, porque há muito mais coisas a serem ditas do que podemos abordar no momento. As ideias que brotam dos ensinamentos da Palavra Di-vina, quando é vista no seu sentido interno, são essa multiplicação de verdades em abundância tão grande, que nossa mente natural não poderia abarcar, assim como a terra não poderia conter a mul-tiplicação das sementes. E esse assunto, a nutrição espiritual, envolve tantas ideias e trazem tantos ensinamentos que poderíamos nos estender por muito tempo sobre isso sem nunca esgotarmos os pontos mais gerais. Portanto, basta que saibamos que durante todo o processo de regeneração do homem, o Senhor provê afeições celestes, o alimento adequado para sustento e renovação da vida espiritual. Porque também o corpo espiritual precisa do nutrimento saudável que é provido pelo Senhor, em substituição ao alimento contaminado e pecaminoso de que o homem natural se nutria antes e que o fazia adoecer e definhar. Em resumo, basta-nos saber que é esse alimento da alma humana que está descrito nessa parte final do capítulo.

 “E viu Deus tudo o que fez, e eis, muito bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia sexto”.

“Aqui se diz “muito bom” e nos versículos anteriores somente “bom”, porque agora as coisas que são da fé fazem um com as coisas que são do amor”. Assim é feito o casamento entre as coisas espirituais e as celestes. São chamadas espirituais todas as coisas que são das cognições da fé, e celestes todas as que são do amor ao Senhor e para com o próximo; estas pertencem à vontade e aquelas ao entendimento do homem.

Durante todo esse tempo da regeneração o homem enfrentou percalços, barreiras e dificuldades. Parecia ao homem que ele combatia sozinho, quando lutava contra suas tendências naturais, contra a supremacia do egoísmo, a preponderância do orgulho, o desprezo pelos que não eram semelhantes a ele, a inveja e toda sorte de malicia do coração humano. Mas o homem não estava só nesse labor de transformação de sua vida, porque o Senhor combatia continuamente por ele, contra os males e falsos, e pelos combates confirmava o homem cada vez mais na verdade e no bem. Na verdade, o homem combatia só em aparência como se fosse por ele mesmo, mas sabia que era o Senhor que, de fato, estava combatendo por ele.

Nesse tempo de regeneração, que é um trabalho espiritual do Senhor no indivíduo, o Senhor ope-rou em todas as circunstâncias, a cada segundo, sem parar, a favor do homem, e “por isso o regene-rado é chamado, nos Profetas, “obra dos dedos de Deus”; “Ele não descansa antes de o amor tornar-se o principal; então cessa o combate.”

“E viu DEUS tudo o que fez, e eis, muito bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia sexto.”

“Quando a obra chega ao ponto de a fé ser conjunta ao amor, então se chama “muito bom”, por-que então o Senhor o conduz como “semelhança” Sua. No fim do sexto dia cessa a obra da nova criação do homem espiritual. Cessa nele o combate entre o bem e o mal.

Depois dos seis dias de labor, é dito que o Senhor descansa, porque Ele não necessita mais com-bater pelo homem que se tornou regenerado até esse grau. É quando o homem se torna celeste e é chamado “sábado”, ou sétimo dia.

O objetivo de nosso estudo foi o ver como os Arcanos Celestes nos explicam o primeiro capítulo do livro de Gênesis no sentido espiritual, e o primeiro capítulo termina no sexto dia. O sétimo dia é mencionado no segundo capítulo, que trata, no sentido interno, do homem celeste. É assunto para outro estudo.

Concluindo, então, nossa série, queremos citar o que dizem os Arcanos Celestes (13), sobre o sexto dia: “Dos que estão sendo regenerados, nem todos chegam a este estado, mas alguns, e hoje a maioria, chegam somente ao primeiro; alguns apenas ao segundo; alguns ao terceiro, quarto, quin-to; raramente ao sexto e quase ninguém ao sétimo.”

 

PÁGINA PRINCIPAL  |  ÍNDICE DAS PALESTRAS  | PÁGINA ANTERIOR |  PRÓXIMA PÁGINA 

Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -