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O Livro de Gênesis

O Quinto Dia da Criação

Sexta videoconferência de uma série

sobre o sentido espiritual do livro de Gênesis

 

“E disse DEUS: Façam as águas rastejar o réptil, a alma viven-te. E a ave voe sobre a terra, sobre as faces da expansão dos céus. E criou Deus as baleias grandes e toda alma vivente que rasteja, que as águas fizeram rastejar, segundo a sua espécie; e toda ave de asas, segundo a sua espécie. E viu Deus que (era) bom. E os abençoou Deus, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e a ave será multiplicada na terra. E houve tarde, e houve manhã, o dia quinto”. (Gen. 1:20-23).

 

Estamos estudando a história da criação relatada no livro de Gênesis segundo a explicação da obra “Arcanos Celestes” e temos visto que ela representa o processo em que o Senhor reforma e regenera o homem e o torna espiritual.

Vimos que o primeiro estado vai desde antes da regeneração, da ausência de caridade e fé ou de vida espiritual, até o momento em que se dá na alma o clarão da luz, a conscientização a respeito de Deus e da vida eterna. O segundo estado é quando a pessoa passa a fazer distinção entre as suas próprias convicções como coisas inferiores, e a revelação Divina como superiores na sua mente. Isto é representado pela separação das águas acima e abaixo da expansão dos céus. A pessoa passa a saber que tem um eu interno ou espiritual, representado pelo céu, e por isso é dito que o céu é cria-do.

O terceiro estado é o da penitência. Instruída nos conhecimentos, a pessoa se compele a agir de acordo com a verdade e a praticar as obras, deixando de fazer o mal e aprendendo a fazer o bem. Entretanto, nesta fase ela ainda é guiada por suas próprias afeições e ideias, e por isso as obras que então pratica ainda não são vivas, sendo comparadas aos vegetais que a terra – o homem externo – produz.

E, persistindo em afastar-se dos males por serem pecados contra Deus e dedicando-se com fidelidade ao seu uso, a pessoa é levada ao quarto estado, quando o Senhor implanta nela o verdadeiro amor, em forma de caridade (a criação do Sol), e a verdadeira sabedoria, em forma de fé (a criação da Lua), além dos conhecimentos, representados pelas estrelas.

Os “Arcanos” dizem que é então que “o homem começa pela primeira vez a viver. Antes, mal se pode dizer que vivesse, pois o bem que ele fez, pensou que o fizera por si mesmo; e o vero que fa-lou, que de si mesmo o dissera. E, como o homem é morto em si e nele nada há senão o mal e o falso, por isso, tudo o que ele produz por si mesmo não é vivo, ao ponto de não poder por si mesmo fazer o bem que em si é o bem... O bem não pode vir senão da Fonte mesma, que é única, como também diz: “Ninguém é bom, exceto um, Deus” (Lucas 18:19).”

Agora chegamos ao quinto dia. “E disse DEUS: Façam as águas rastejar o réptil, a alma viven-te. E a ave voe sobre a terra, sobre as faces da expansão dos céus. E criou Deus as baleias grandes e toda alma vivente que rasteja, que as águas fizeram rastejar, segundo a sua espécie; e toda ave de asas, segundo a sua espécie. E viu Deus que (era) bom. E os abençoou Deus, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e a ave será multiplicada na terra. E houve tarde, e houve manhã, o dia quinto”. (Gen. 1:20-23).

As águas fazem rastejar os répteis, que são, literalmente, os que rastejam, mas aí estão incluídos os peixes. Notemos que quem produz agora é a água, não mais a terra.

Já sabemos que a terra representa a mente natural, e as águas representam os conhecimentos da fé, que agora constituem um entendimento novo, por assim dizer, chamado consciência. A verda-deira consciência é uma espécie de ditame interno que se adquire da instrução das Escrituras Sa-gradas. É a voz do Senhor nos falando por meio das verdades. Quanto mais damos ouvido a esse ditame, mais se torna vivo e mais nossa mente é esclarecida pela luz da verdade. É esse entendi-mento reformado que fará produzir o réptil e o peixe, que significam, na Palavra, os conhecimentos que pertencem ao homem externo. São todos os ensinamentos, todos os doutrinais que a pessoa agora conhece e nos quais crê. Estão na memória e, daí, no pensamento consciente ou externo.

Também foi dito: “A ave voe sobre a terra, sobre as faces da expansão dos céus”. É interessante observar que não foi ordenado às águas que produzissem a ave. Isto parece bastante óbvio, mas ob-servemos o seguinte: se o réptil e o peixe são conhecimentos que pertencem à memória, a ave, ao aparecer voando na expansão do céu, indica algo que vem do espírito. Lemos nos “Arcanos” que as aves representam “coisas racionais e também intelectuais, estas últimas pertencendo ao homem interno”.

Acontece o seguinte: no homem que está sendo regenerado o Senhor forma um nível novo na mente, chamado racional, e esse racional passa a ser uma região intermediária, entre a mente natu-ral e a espiritual. É como se fosse um mezanino entre dois andares. Esse racional criado na regene-ração não deve ser confundido com a racionalidade, que é a faculdade de compreender a verdade, quando a vir. Liberdade e racionalidade são inerentes ao ser humano, enquanto o racional verdadei-ro é formado na regeneração como um elo entre a mente natural e a mente espiritual.

É pelo racional que a luz dos céus chega à mente natural como uma percepção. Essa percepção é representada aqui pela ave, pois a ave tanto voa no céu como desce à terra e pousa nas árvores, con-forme aquela parábola do Senhor: “O Reino dos céus é semelhante ao grão da mostarda, que o ho-mem, tomando-o, o semeou em seu campo. O qual, em verdade, é a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior de todas as hortaliças; e faz-se tamanha árvore, que vêm as aves do céu e se aninham em suas ramas.” (Mat. 13:31, 32).

Temos aí, portanto, duas classes de conhecimentos que agora se encontram no homem: na mente natural (no pensamento consciente e na memória), os répteis ou peixes, que são os conhecimentos acerca das coisas da fé, recebidos pelos sentidos externos; e na mente espiritual, as aves, que são as percepções oriundas dos céus e que chegam através do espírito até o racional do homem.

Os conhecimentos representados pelos répteis e os peixes são adquiridos quando a pessoa, no gozo de sua liberdade e sua razão, busca na Palavra o conhecimento da verdade. O Senhor pode então influir nesse conhecimento e vivificá-lo. Essa espécie de conhecimento natural, o réptil e o peixe, é a própria base do pensamento do homem; “o homem pensa a partir deles”, dizem os Arca-nos (991).

Quanto à outra espécie de conhecimento, aqui representado pelas aves, chega por uma via inter-na, porque são coisas “interiores, não vêm tanto à percepção ou ao sentido do homem antes de ele se despir do corpo e entrar na outra vida” (AC 991). Em outras palavras, as percepções, representa-das pelas aves que surgem voando nos céus, são conhecimentos mais elevados, mas podemos en-tender como sendo intuições ou ideias que aparecem em nosso pensamento, não como resultado de um encadeamento lógico que tenhamos feito. É uma luz que se acende sem a gente mesmo ter acendido, um pássaro que veio do céu e pousou no ramo da árvore. Vimos o pássaro pousando, mas não vimos de onde tinha vindo.

Continuando no Gênesis: “E criou Deus as baleias grandes e toda alma vivente que rasteja, que as águas fizeram rastejar, segundo a sua espécie; e toda ave de asas, segundo a sua espécie. E viu Deus que (era) bom”.

Os “Arcanos” explicam que, assim como os peixes significam os conhecimentos, agora anima-dos pela fé que vem do Senhor, as baleias ou cetáceos significam na Palavra os conhecimentos ge-rais, sob os quais e pelos quais existem os particulares. “Nada há no universo que não esteja sob algum geral a fim de que exista e subsista”.

O peixe em abundância significa, portanto, o acúmulo de conhecimento ou a inteligência do ho-mem regenerado. É de acordo com esta correspondência que o profeta Ezequiel falou sobre a inte-ligência do homem regenerado: “O Senhor JEHOVAH disse a mim:... sucederá que toda alma vi-vente que rastejar por onde quer que venha a água dos rios, viverá. E haverá peixe em quantidade mui grande, porque ali chegarão estas águas. E sararão, e tudo viverá por onde vier o rio. E sucede-rá que estarão de pé sobre eles pescadores desde Engedi até En-Eglaim; estarão com redes estendi-das. Seu peixe será segundo a sua espécie, como o peixe do grande mar, em mui grande quantidade “ (47:8 a 10).

E pela mesma razão falou o profeta Isaías sobre a triste sorte da Igreja devastada ou do homem impenitente: “Por Minha repreensão farei secar o mar, tornarei os rios em deserto. Fétido será o seu peixe, por não haver água, e morrerá de sede. Vestirei os céus de negridão” (50:2,3).

Como os peixes são os conhecimentos da fé, por isso os pescadores, na Palavra, representam aqueles que procuram na Palavra as verdades para nutrimento do espírito. Não foi por outra razão que os discípulos eram pescadores.

Também os pássaros têm suas significações variadas, conforme os seus gêneros e espécies. Aqui, eles são chamados aves do céu, porque representam as ideias racionais e as percepções pró-prias do homem interno, como se falou. Mas, na Palavra, eles têm correspondências conforme o contexto em que são citados e os nomes que recebem: “ave”, “alado”, “volátil”, “pássaro”, etc. Os “pássaros dos céus” são as verdades intelectuais e os pensamentos, mas, quando citados num senti-do negativo, representam os enganos e falsidades que destroem as verdades. “O Senhor mesmo compara as fantasias e as persuasões do falso às “aves” quando diz: “A semente que caiu sobre o caminho batido... vieram as aves, e comeram-na” (Mt.13:4) (AC 778). E, no n. 866: “As verdadei-ras coisas intelectuais são descritas pelas aves mansas, belas e limpas; mas as falsas pelas aves fe-rozes, feias e imundas e, de fato, conforme as espécies de verdade e falsidade.”

Essa significação dos seres criados ou que aparecem no quinto dia, répteis, peixes e aves, parece um pouco mais abstrata do que a significação das coisas dos dias anteriores. É porque essas coisas se passam na mente num estado avançado da regeneração, ao passo que nossa mente natural é limi-tada pelas duas dimensões de tempo e espaço. Todo pensamento, toda ideia, qualquer que seja, em nossa mente natural, se apresenta numa forma de corpo, num espaço e num ambiente que a envol-ve; mesmo que seja em forma de uma palavra, ou um som, sempre ocorre dentro das duas dimen-sões. Por outro lado, as ideias espirituais transcendem essas limitações. Porque o sentido espiritual é para os espíritos e anjos, e nós, enquanto estivemos no mundo, ainda que sejamos espíritos, esta-mos engaiolados, por assim dizer, pelo pensamento natural. E aprendemos (AC 1594) que “a vista externa não pode ver de modo algum o que é a vista interna”, mas o contrário, sim, quer dizer, “o intelectual e o racional podem perceber o que é do conhecimento e qual é a sua qualidade, mas o recíproco não acontece”.

Daí a dificuldade de compreendermos além do que está dito, e daí a razão pela qual o sentido espiritual da Palavra nos parece às vezes abstrato, mesmo depois de muito estudo. Enquanto viver-mos no corpo, tudo o que podemos ter são vislumbres ou noções muito gerais das coisas celestes, e não as particularidades mesmas. Muitas outras particularidades ficam por comentar. As coisas mais gerais que estamos vendo aqui são somente as “baleias”, os conhecimentos gerais sobre a re-generação; mas as particularidades desses conhecimentos são os “peixes”, que podemos recolher em abundância à medida que nossa afeição pela verdade nos levar a avançar nesse universo de co-nhecimento que se abriu diante de nós.

Realmente, nosso entendimento natural a respeito das coisas celestes é imperfeito e muito limi-tado, por isso, e por ora, é bastante saber que no quinto dia os peixes grandes são conhecimentos gerais da fé, os peixes menores são as particularidades, e os pássaros que aparecem (não diz que são criados) no céu são as percepções que chegam à mente no quinto estágio da regeneração.

Essas representações vêm do mundo espiritual, porque, no espírito do homem, todas as coisas da caridade e da fé, que procedem do Senhor, são animadas e vivas e, no mundo espiritual elas até se manifestam à vista assim, em forma de animais, répteis e aves, conforme a qualidade do pensamen-to ou afeição no interior dos espíritos e anjos que ali estão. Os Arcanos Celestes (41) dizem: “E - o que talvez pareça incrível mas é bem verdadeiro - cada palavra, cada ideia e cada uma das mínimas coisas do pensamento de um espírito angélico são vivas. Em seus singularíssimos há uma afeição que procede do Senhor, Que é a vida mesma. Por isso, as coisas que vêm do Senhor têm vida em si, porque têm a fé em si, e são significadas aqui pela “alma vivente”. Também têm uma espécie de corpo aqui significada por “aquele que se move” ou “que rasteja”. Contudo, estas coisas ainda são arcanos para o homem, mas são aqui lembradas só porque aqui se trata da alma vivente e do mo-vente” (AC 41).

Lemos nos Escritos que “quando os anjos estão conversando sobre conhecimentos, ideias e in-fluxo, aparecem no mundo dos espíritos aves formadas de acordo com o assunto da conversação. Daí é que as “aves” na Palavra significam as coisas racionais ou que pertencem ao pensamento” (AC 3219).

Mas, quando começam existir as percepções, ou as aves, as coisas racionais, isto significa que o Senhor está começando a dotar o homem regenerado da verdadeira inteligência, pois o racional é a inteligência do homem externo (AC 1588).

Na história do nascimento dos filhos de Jacó, por exemplo, encontramos o relato da regeneração do homem exposto de outro ângulo, ou em outra série. Na história da marcha do povo de Israel pelo deserto até à terra de Canaan, a entrada nessa terra e as batalhas contra os diversos inimigos até à completa conquista, encontramos novamente a história da regeneração do homem, agora exposta em diferente ponto de vista. E assim acontece em muitas outras histórias da Palavra, de sorte que, ao tomarmos conhecimento de umas e outras, vamos, aos poucos, compreendendo melhor as coisas, enxergando particulares que não tínhamos visto antes, entendendo detalhes que não tínhamos en-tendido em outra série. E esses detalhes, essas particularidades são como “peixes” menores que virão nadar no mar de nossa memória.

Os conhecimentos gerais da doutrina, ou as “baleias” são fáceis de serem vistos e apreendidos. Mas os conhecimentos particulares ou “peixes” precisam ser procurados com mais trabalho, preci-sam ser pescados. Como discípulos do Senhor que somos, temos também a obrigação de nos tor-narmos pescadores espirituais. E o que é um pescador espiritual? É o homem que investiga e ensina verdades naturais e espirituais de uma maneira racional.

Devemos ler, ouvir e meditar nos conhecimentos da Palavra armazenados em nossa memória, pois as verdades Divina são o alimento da vida espiritual, nossa e do nosso próximo. E na medida em que formos adquirindo a luz, devemos levar essa luz aos que estão na escuridão, pois assim se-remos, como os discípulos do Senhor, pescadores espirituais.

 

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