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O Livro de Gênesis

O Quarto Dia da Criação

Quinta videoconferência de uma série

sobre o sentido espiritual do livro de Gênesis

 

“E disse DEUS: Haja luminares na expansão dos céus, para distinção entre o dia e entre a noite. E serão para sinais, e para tempos determinados e para dias e anos. E serão por luminares na expansão dos céus, para dar luz sobre a terra. E foi feito assim. E fez DEUS dois luminares grandes; o luminar grande para dominar o dia, e o luminar menor para dominar a noite, e as estrelas. E pô-los DEUS na expansão dos céus, para darem luz sobre a terra. E para dominar no dia, e na noite, e para distinguir entre a luz e entre as trevas. E viu Deus que era bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia quarto.”

 

Nas últimas semanas temos estudado o sentido espiritual do relato da criação no livro de Gênesis, conforme os Escritos teológicos de Swedenborg e vimos que os seis dias da criação representam seis estados sucessivos do novo nascimento ou regeneração do homem.

O primeiro dia, da criação da luz, é o primeiro estado, quando ele pela primeira vez percebe a realidade Divina e espiritual acima de suas limitadas concepções da vida.

O segundo dia, quando é criado o céu ou a expansão, é o estado em que ele passa a saber que tem um homem interno, o qual, por isso é como se fosse criado. Esse homem interno é o seu ouranos, ou céu. Nesse dia, faz-se distinção entre as águas acima, que são as cognições da fé, no homem interno, e as águas abaixo, os conhecimentos e fatos no pensamento e na memória externa.

No terceiro dia o homem começa a se compelir a obedecer às cognições que adquiriu. Isso foi representado no fato de a terra produzir a série de vegetais. Essas primeiras obras ele pratica por obediência aos ensinamentos da fé; não vêm de sua vontade, pois ela se opõe a fazer o que a verdade ensina. E mesmo quando ele vence a resistência da vontade e pratica a fé, ele crê que as obras da obediência vêm dele mesmo. Sendo assim, essas obras do terceiro dia são inanimadas, porque ele as atribui a si mesmo, à sua bondade e justiça.

Mas, se ele persevera na obediência, passa da sombra da tarde, da ignorância, para a clara luz da manhã, da instrução, e então entra no quarto dia, quando são implantados nele o verdadeiro amor e a verdadeira fé.

“E disse DEUS: Haja luminares na expansão dos céus, para distinção entre o dia e entre a noite. E serão para sinais, e para tempos determinados e para dias e anos. E serão por luminares na expansão dos céus, para dar luz sobre a terra. E foi feito assim. E fez DEUS dois luminares grandes; o luminar grande para dominar o dia, e o luminar menor para dominar a noite, e as estrelas. E pô-los DEUS na expansão dos céus, para darem luz sobre a terra. E para dominar no dia, e na noite, e para distinguir entre a luz e entre as trevas. E viu Deus que era bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia quarto.”

Conforme lemos nos Arcanos Celestes, o “luminar maior ou sol” significa o amor e, por derivação, a caridade, porque a caridade é a forma como o homem sente e recebe na sua vontade o Divino Amor; e o “luminar menor ou lua” significa a verdade e, assim, a fé, que é como o homem vê e recebe no seu entendimento a Divina Sabedoria. As estrelas são “os conhecimentos da verdade e do bem”. Portanto, a criação do sol e da lua significa, no sentido interno, a implantação da caridade e da fé no espírito do homem, e a criação das estrelas significa a multiplicação dos conhecimentos sobre a verdade e o bem.

Em toda parte na Palavra, o sol significa o amor, por causa do calor e da luz que dele emana, e esse calor e essa luz geram a vida no mundo. E a lua significa a fé, que é verdadeira quando procede do amor; porque assim como a lua não tem luz própria, mas reflete a luz do Sol, assim também a fé, só ilumina a mente se proceder da caridade.

Até o terceiro dia o homem se achava no estado de auto compulsão, de se constranger para fazer aquilo que a fé ensina, e contrariava a vontade oposta em si. E mesmo se fizesse algo de bom grado, o que o impulsionava era somente o seu amor ou sua disposição natural. Por isso o terceiro dia é um estado de combate entre obedecer à fé ou se render à vontade própria.

Mas agora, no quarto dia, o Senhor começa a implantar no homem a caridade ou amor espiritual; agora o homem começa a ser guiado pela caridade e iluminado pela fé. A fé é implantada em seu entendimento, os conhecimentos em sua memória, mas a caridade é estabelecida não na vontade mesma do homem, mas no seu entendimento, e no começo ela aparece como consciência. Se o homem perseverar em agir de acordo com essa consciência da verdade, ela se tornará a nova vontade, que será seu homem novo e regenerado. Portanto, a consciência é como se fosse uma nova vontade, a caridade espiritual, segundo a qual o homem passa agora a querer e a agir.

“A fé e a caridade são agora acesas no homem interno, e são chamadas ‘luminares’”. Fé e caridade nunca podem ser separadas, pois a caridade é a essência da fé, e a fé é a forma da caridade. São como corpo e alma; se uma for separada da outra, as duas perecem. Não devemos deve crer numa verdade e viver diferentemente do que a verdade ensina, pois assim estaremos aniquilando em nossa mente tanto a fé quanto a caridade. E como fé e a caridade constituem uma só coisa, e por isso é que, na criação dos dois luminares, Deus pronunciou o verbo no singular: “Sit” [haja] luminares, e não “Sint”, no plural.

O amor e a fé no homem interno são como o calor e a luz no corpo e no mundo natural. “A vida da fé sem o amor é como a luz do sol sem o calor, como sucede no inverno, quando nada cresce mas todas as coisas ficam entorpecidas e mortas. Mas a fé que procede do amor é como a luz do sol no tempo da primavera, quando todas as coisas crescem e florescem, porque é o calor do sol que as produz. Sucede semelhantemente nas coisas espirituais e celestes, que são comumente representadas na Palavra pelas coisas que estão no mundo e sobre a terra.” (AC 34 )

É dito que os luminares “serão para sinais e para tempos determinados, e para dias e para anos”. Os Arcanos Celestes nos explicam que, assim como o sol, a lua e as estrelas têm a finalidade de marcar a duração do tempo ou das partes do dia, do mês, das estações e, por conseguinte, dos anos, também no espírito humano os estados de amor e a fé marcam os períodos ou alternâncias espirituais, de maior ou menor intensidade e grau de afeição do bem, de clareza de entendimento.

A vida humana, do homem, do espírito e até do anjo, tem essas variações ou alternâncias, como ciclos ou movimentos de respiração e pulsação, como tudo na vida. Por isso a pessoa às vezes se sente mais inspirada e tem um amor mais intenso pelas coisas boas e verdadeiras, mas, outras vezes, tem períodos em que se sente desanimada, entorpecida e fria, distante da luz e do calor espirituais. Esses estados são normais se repetem a determinados intervalos, e são chamados “vicissitudes” e “estatutos” na Palavra. Essas mudanças de estado de amor e fé é que marcam os períodos espirituais, porque o tempo material não existe para o espírito.

Mas, na verdade, é uma mera aparência que o sol marca os tempos, porque quem faz isso é realmente o globo terrestre. São os seus movimentos de rotação e translação, que fazem existir os dias, os meses e os anos. Então, a origem das alternações não está no Sol, mas na Terra mesma. Assim também acontece com nosso espírito. O Senhor é o Sol dos céus, e Ele é imutável. Mas nós, quanto ao nosso espírito, passamos por estados em que buscamos mais as coisas de Deus, e assim sentimos mais de perto o calor e a luz d’Ele, ou nos voltamos para o outro lado, nosso eu, nossas afeições naturais e mundanas, e por isso sentimos a frieza espiritual e a escuridão das dúvidas. Mas o Senhor está sempre influindo da mesma maneira, em todos os homens e anjos, o tempo todo, como é dito em Mateus, “Ele faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons” (5:45).

Em outra obra, a Verdadeira Religião Cristã, temos mais ensinamentos sobre esse amor que o Senhor implanta no homem. Aprendemos que existe uma grande diferença entre o amor natural da pessoa e esse que é implantado no quarto dia, diferença essa que pode ser resumida assim: enquanto o amor natural do homem é centrado em si mesmo e no mundo, o amor implantado no quarto dia é imagem do amor de Deus. E, quando Escritos descrevem o amor de Deus, não utilizam adjetivos nem expressões poéticas, dizendo, por exemplo, que o amor de Deus é incomparável, insondável etc. Em vez disso, explicam em que consiste a essência do Divino amor de modo bastante específico, citando três verbos ou três atividades que o caracterizam, que são: amar os outros fora de si; querer ser um com eles; fazê-los felizes por si mesmos.

O primeiro essencial: amar os outros fora de si, deve ser entendido como amar os outros independentemente de qualquer interesse ou vantagem nesse amor, ou, em outras palavras, sem a intenção de recompensa ou de retorno do amor. É fazer o bem a outrem por causa do bem mesmo, e não por causa de si mesmo. É a forma mais perfeita do altruísmo. Esse essencial do amor de Deus se manifesta no fato de Deus criar e amar o homem, que está fora d’Ele. Ao contrário do que aprendemos, Deus não criou o homem para receber louvor, pois Deus não necessita de louvores nem de celebrações; seria uma finalidade egoística.

Mas Deus criou o homem para que o homem fosse recipiente de Seu amor e fosse beneficiado por isso. O homem é o fim em si da criação, e não Deus mesmo. Esta é a primeira característica do Amor Divino e é também a primeira qualidade que o diferencia do amor humano natural, já que a principal característica do amor humano é ser condicional, isto é, ama enquanto é amado, ou enquanto obtém algum benefício no relacionamento. O amor humano natural consiste em amar os outros por causa de si, enquanto, na regeneração, o amor se torna cada vez mais imagem desse essencial do amor Divino, amar os outros independentemente de si, ou fora de si.

O segundo essencial é: querer ser um com os que são amados. Este essencial é o que produz a conjunção ou a comunhão. Em Deus, essa característica se mostrou no fato de Deus ter criado o céu, onde o ser humano pudesse estar conjunto a Ele eternamente. Porque, quando de fato se ama, existe o prazer com a presença, convivência ou proximidade das pessoas amadas. E as Doutrinas Celestes definem esse essencial do amor de uma forma simples e ao mesmo tempo objetiva: “O amor é uma forte atração”. E a atração é diretamente proporcional à veracidade e à intensidade do amor.

Existe uma esfera do Divino Amor procedendo Senhor e se estendendo a todos no universo, mas cada ser criado recebe a seu modo, conforme sua disposição. Essa esfera é que inspira uma força conjuntiva em todos os amores, força essa que vem do segundo essencial do amor de Deus. É por causa desse segundo essencial que se sente o prazer em se estar na companhia dos amigos, na congregação dos irmãos de uma mesma fé, num mesmo grupo de trabalho com objetivos comuns. Mas onde este aspecto do amor se manifesta de forma mais expressiva ou mais visível é no amor conjugal e, em seguida, no amor para com os filhos, especialmente no amor materno.

O terceiro essencial é fazê-los felizes por si. Esta, então, é a razão de ser dos dois essenciais anteriores: Deus ama o homem e quer se conjuntar a ele para fazê-lo feliz. A bem-aventurança do homem na vida eterna é a realização e a prova do terceiro essencial.

Além disso, esta terceira característica, fazê-los felizes por si, que é o propósito, deve-nos servir de parâmetro para distinguirmos entre o amor genuíno e um amor falso ou o egoísmo. Porque o propósito de qualquer relacionamento humano não deve ser o benefício próprio, mas o bem de outrem, e contribuir para isso, ou, se não for possível, pelo menos não ser obstáculo para a felicidade alheia. “O terceiro essencial do amor de Deus, que é torná-los felizes por si, é reconhecido pela vida eterna, que é a ventura, a beatitude e a felicidade sem fim que Deus dá aos que recebem em si Seu Amor.” (VRC 43).

Quando cada um ama si mesmo em primeiro lugar, todos têm como prioridade sua própria satisfação, e o resultado é a desagregação, o conflito, pois o egoísmo humano é tal que nunca deixa espaço para o segundo lugar. Mas, ao contrário, quando cada um busca pôr o amor ao próximo acima de seu interesse, e todos fazem isso, então cada um é amado por todos os outros, pois existe o amor mútuo, a união, a comunhão e o benefício de todos.

Assim, o amor espiritual ou a caridade é uma imagem do Divino Amor quanto aos três essenciais: “ama os outros fora de si”, que é o verdadeiro altruísmo; “quer ser um com eles”, que é o prazer da fraternidade ou da comunhão; e quer “fazê-los por si” que é a utilidade, ou o uso que se tem a prestar para favor do próximo, da sociedade, da pátria e do reino de Deus. Portanto, altruísmo, comunhão e uso. Esta é a essência da caridade, a imagem do Divino Amor, que o Senhor implanta no homem no quarto estágio da regeneração. E quando existe a caridade no homem interno, também existirá a iluminação espiritual no homem externo.

 “E pô-los DEUS na expansão dos céus, para darem luz sobre a terra.” “E para dominar no dia, e na noite, e para distinguir entre a luz e entre as trevas; e viu DEUS que era bom”. Pelo “dia” se entende o bem, pela “noite” o mal; por isso os bens são chamados obras do dia, e os males obras da noite. Pela “luz” se entende o vero e pelas “trevas” o falso”.

Que o “sol e a lua deviam dominar o dia e a noite” quer dizer que a caridade e a fé agora implantadas no homem teriam supremacia sobre o mal e as cobiças provenientes do homem irregenerado. Porque, à proporção que o homem combate resolutamente as suas próprias perversões e desumanidades, porque essas coisas são pecados contra Deus, elas são gradualmente removidas para as periferias de seu espírito, até serem finalmente afastadas e remidas pelo Senhor. Embora não possam ser completamente separadas do homem, ficarão como que dormentes, não o infestando mais como faziam antes.

Então, o centro de sua vontade será o novo amor implantado, o amor ao Senhor e para com o próximo. Depois e abaixo deste estarão, subordinados, os amores do mundo e o amor de si, que agora são tidos como instrumentais e serviçais necessários do amor ao Senhor que então reina, e por isso é que se diz que o Sol e a Lua dominarão no dia e na noite.

“E houve tarde, e houve manhã, o dia quarto”.

Concluindo, estas são apenas algumas poucas coisas das que se acham explicadas nos “Arcanos Celestes” e nos demais Escritos a respeito da regeneração ou criação espiritual do homem.

Muito mais poderia ser dito, pois muitíssimas outras coisas foram reveladas pelo Senhor e estão à disposição de todo aquele que se interessar, nas Doutrinas Celestes para a Nova Jerusalém.

 

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