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O Livro de Gênesis O Segundo Dia da Criação Terceira videoconferência de uma série sobre o sentido espiritual do livro de Gênesis
“E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas e haja distinção entre as águas para as águas. E fez Deus a expansão; e separou entre as águas que estavam abaixo da expansão e entre as águas que estavam acima da expansão. E assim se fez. E chamou Deus à expansão, céu. E houve tarde, e houve manhã, o dia segundo.” -Gênesis 1:6 Vimos na semana passada que os seis dias da criação significam seis estados da regeneração ou novo nascimento espiritual do homem. Vimos, também, que a criação da luz no primeiro dia significa o estado em que a pessoa tem o primeiro esclarecimento sobre Deus, e compreende pela primeira vez “que o Senhor é, e que o Senhor é o bem mesmo e a verdade mesma, e que não há bem e verdade se não vêm do Senhor”. Vimos, ainda, que esse primeiro estado só é possível porque a Misericórdia Divina estava influindo nas relíquias do espírito, avivando e estimulando o que havia de bem e verdade, procedentes d’Ele, com o homem. Portanto, o primeiro estado é quando se dá a primeira luz da verdadeira fé no entendimento humano. No segundo dia da criação, Deus cria uma amplidão de espaço no meio das águas, e separa as águas em dois grandes ajuntamentos, um abaixo e outro acima da expansão. A essa grande expansão Ele dá o nome de “céu”. Devemos observar que o texto fala em “águas” e “céu”, mas não diz que as águas são criadas nesse dia. Somente o céu é criado. As águas são citadas como se já estivessem lá, como se já existissem e precisassem apenas ser ordenadas, uma parte sendo distinta da outra, uma abaixo e outra acima da expansão. Se este fosse um relato literal da criação, já teríamos aqui a primeira dificuldade: se o elemento água não foi criado por Deus, como já existia? Se foi criado, porque o texto não fala? E notem que, já antes de ser criada a luz, as faces das águas estavam lá, sob a ação do Espírito de Deus. Mas não precisamos lidar com essa dificuldade do texto, porque, como vimos, aqui se trata não do universo físico, mas do universo espiritual em cada indivíduo no qual as águas representam as verdades. Então, o significado espiritual desse relato é que o segundo estado existe quando o homem passa a perceber que ele tem uma mente interna, além da interna; ou, o homem interno ou espiritual, além do homem externo ou natural. Porque até então ele não sabia que havia tal distinção, e nem ao menos sabia que havia um homem interno. Os “Arcanos” dizem que o homem não regenerado está envolvido demais nas coisas corporais e mundanas, e por isso não entende as coisas espirituais ou as confunde, e “faz, de coisas distintas entre si, uma unidade confusa e obscura” (AC 24). É como também escreveu o apóstolo Paulo aos Coríntios: “Mas o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1Co. 2:14). E como só agora o homem começa a saber que existe um homem interno, por isso é dito que este é criado. “O homem interno chama-se ‘expansão’” (AC 24). “Expansão” ou “céu” são os termos empregados na Palavra para significar o homem interno porque dão a ideia de uma grande extensão de espaço, uma vastidão, um universo, pois o homem interno ou o espírito do homem é, de fato, esse universo em si, como já foi reconhecido por muitos na antiguidade. Dentro desse imenso espaço que é o espírito humano, a primeira coisa salvífica que se organizam na regeneração são os conhecimentos e as cognições. Os conhecimentos são representados pelas “águas debaixo da expansão”, que são os conhecimentos que estão no homem externo, na mente externa. Já as cognições são representadas pelas “águas acima da expansão” e, portanto, pertencem ao homem interno, sendo provenientes do Senhor. Quanto aos termos aqui usados, “conhecimentos” e “cognições”, representados pelas águas de baixo e de cima, respectivamente, temos de admitir que é difícil compreender com clareza a distinção que há entre os dois vocábulos empregados nos “Arcanos”. A definição dos dicionários não nos ajuda muito. A dificuldade é que todas as explicações a respeito de “cognição” também servem para “conhecimento”, e às vezes ambos são empregados numa mesma explicação. Nós traduzimos os dois termos assim porque são distintos, embora não entendamos exatamente como. Em resumo, são dois tipos de conhecimento mencionados nos “Arcanos Celestes”. Mas, de modo geral, o conhecimento é toda informação recebida pelos sentidos, e a cognição é um conhecimento mais elevado por causa de sua origem na Palavra, por tem algo vivo no íntimo, assim como o ovo inseminado difere de um ovo não inseminado ou estéril. Tanto o conhecimento quanto a cognição são representados pelas águas. E, talvez, a dificuldade de percebermos a distinção é porque a composição química da água é uma só e a mesma, esteja ela embaixo, na terra, ou acima, nas nuvens. Sendo assim, a diferença mais perceptível seria quanto ao lugar onde os conhecimentos estão, na mente do homem natural ou na mente do homem espiritual. Deixando um pouco de lado os vocábulos, pensemos na correspondência das águas que estão abaixo do céu e as que estão no céu, as águas de um rio e as águas nas nuvens. A distinção entre elas é marcante; não apenas porque umas estão abaixo e outras acima, mas também porque umas estão próximas às impurezas que são do solo e por aí contaminadas, ao passo que as outras foram sublimadas, purificadas pela evaporação, por assim dizer, e agora se acham bem alto. Ali estão como que armazenadas para fluir na terra, no lugar certo e no tempo propício. As “águas abaixo do céu” são, portanto, os conhecimentos do homem externo, que estão próximos ao seu nível corporal ou dos sentidos. Sendo assim, são verdades naturais misturadas às ilusões e às fantasias próprias da mente natural. São as verdades do indivíduo, que têm a cor, o odor e o gosto do solo do aprendizado e da experiência de onde elas vieram, por onde passaram e onde se depositam. E, além disso, essas verdades ou fatos do pensamento e da memória são estimuladas e movidas pelas afeições do indivíduo, tanto as boas quanto as más e as cobiças daí derivadas. Já as cognições do homem interno são conhecimentos ou verdades de outra natureza: são águas puras, porque vêm do Altíssimo. E quando descem e chegam à mente, como chuva na terra, vêm diretamente da Palavra, em forma de percepção acerca do que é correto fazer. E, se fazemos, algo de vivo é produzido em nosso homem externo. Como diz o Salmo 147 (1,8): “Louvai ao Senhor... que cobre o céu de nuvens, que prepara a chuva para a terra, que faz produzir erva sobre os montes”. Além de fluírem diretamente da Palavra na nossa mente, como chuva na terra, as cognições do homem interno também influem na memória, o ajuntamento das águas chamado mar, e chegam ao pensamento consciente em uma sequência ininterrupta, em ondas que chegam à praia do mar. Por isso é que o fluxo do pensamento não está sob o controle da mente externa, porque vem do calor oriundo das afeições do amor, no interno. As afeições são os princípios dos pensamentos, como lemos em outra obra de Swedenborg, o Diário Espiritual, n. 3127. Mas, mesmo quando as cognições descem da expansão do céu, do homem interno através da memória, elas chegam ao nosso pensamento modificadas pelo calor e pelo sal de nossas afeições recentes e antigas. Assim como a água salgada do mar, os conhecimentos oriundos da memória por si sós não servem para regar a terra e produzir vida, como acontece com a chuva, que é transformada em rios. Assim, segundo estágio da regeneração, ou o segundo dia, é aquele em que homem passa a saber que existe uma distinção entre os conhecimentos dele mesmo, armazenados em sua memória, adquiridos por motivos próprios e terrenos, e as cognições da verdade e do bem, que são do Senhor, só. O homem, reconhecendo sua insignificância diante do Amor e da Sabedoria Divinas, humilha-se e reconhece que ele mesmo nada é e nada sabe, e que só o Senhor é bom, e por isso todo bem e toda verdade têm de ser atribuídos ao Senhor, pois vêm d’Ele, somente. A aceitação deste fato é parte o início da implantação da verdadeira consciência no homem e a preparação para o começo de uma nova vida. É interessante notar que, mesmo os conhecimentos do homem interno, ou seja, as concepções chamadas “águas acima da expansão”, têm de ser adquiridos por via externa; precisam vir através dos sentidos da visão e da audição, especialmente. O homem deve procurar em sua religião, lendo na Palavra, ouvindo as pregações e as doutrinações, o que é realmente o bem e a verdade, porque nenhuma informação dessa espécie pode vir diretamente do íntimo dele homem, pela via do seu espírito. A correspondência disso é com a evaporação da água. Porque assim como toda água contida nas nuvens subiu da terra, como efeito de evaporação, assim também toda concepção do homem interno foi antes um conhecimento da verdade, adquirido pelos sentidos externos. Há, portanto, um ciclo perpétuo das águas ou verdades também na mente humana, de evaporação e condensação. A instrução da Palavra que a pessoa recebe com amor pela verdade vai para uma região superior de sua mente, onde vai formar a consciência, e de lá descerá novamente como chuva, como um ditame Divino que pode gerar vida espiritual no homem abaixo. Sem a instrução da revelação Divina, a mente humana é um deserto, que é estéril porque raramente recebe chuva, e não recebe chuva porque não há água para evaporação e condensação de nuvens. Precisamos adquirir as verdades da fé pela Palavra porque é nelas, somente, que o Senhor, o Sol do mundo espiritual, pode influir, para formar em nós a consciência que vai nos guiar nas escolhas da vida. É certo que, antes de ser regenerado, o homem busca o conhecimento por outros motivos que não os da vida eterna. Mas o Senhor, mesmo assim, permite que o homem adquira conhecimento, até mesmo por vaidade e para parecer sábio e inteligente, porque, a despeito dos motivos, os conhecimentos poderão vir a ser úteis mais tarde, quando o homem mudar seus motivos, e depois, na eternidade. Na realidade, antes de ser regenerado, o homem nada busca para si a não ser o que pode satisfazer seu egoísmo, sua vaidade, suas ambições, cobiças, etc., etc. No número 1486 dos “Arcanos” lemos o seguinte: “Assim é com os conhecimentos que pertencem somente ao homem externo; ...são buscados por causa das coisas terrenas e mundanas por meio de impressões dos sentidos, a fim de poderem servir ao homem interior ou racional, e este ao homem espiritual, e este ao Senhor. ...Todo conhecimento deve ser por causa de algum uso e esta é a sua utilidade”. A ordem da criação é que as águas abaixo da expansão vêm antes, e depois as que estão acima. Quer dizer, primeiro o homem busca o conhecimento, pelo desejo de fazer o que é justo e bom, e só depois se estabelecem nele as águas acima da expansão. As cognições do homem interno, verdades que foram sublimadas pela afeição de pô-las em prática na vida, começarão a formar a consciência e inspirar um novo padrão de vida, que começará a existir no terceiro dia da criação, como veremos. Outra coisa interessante a observar é que o Senhor, no início, aproveita tudo o que é possível no coração do homem para a regeneração. Ele utiliza mesmo os motivos egoísticos comuns ao homem, e faz isso porque, na realidade, o homem então não tem outras coisas a oferecer. Em Sua Sabedoria e Sua misericórdia, o Senhor não dissipa de uma vez os conhecimentos falhos, os conceitos gastos de uma razão pretensamente ilustrada, o acúmulo de falsidades e erros; tampouco Ele expele de uma vez do coração humano as iniquidades e as cobiças, pois, de uma forma ou de outra, é disso que o homem não regenerado se nutre, são essas as molas que o impulsionam antes da regeneração. É como está nos profetas: “A cana pisada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; com verdade produzirá o juízo”. O que é assim explicado pelos Escritos: “Ele não quebra as ilusões nem apaga as cobiças, mas as direciona para a verdade e para o bem...” (AC 25). Assim como em todos os outros estados da regeneração, “houve tarde e houve manhã”, isto é, a partir de um estado de sombra e de egoísmo, o homem vem a um estado de luz e verdadeiro amor. E, no “dia segundo”, começa a saber que existe um homem interno, que existe nele um espírito que se alimenta dos bens e verdades do Senhor e, por outro lado, existe o seu homem externo em completa carência de tudo o que é verdadeiramente bom e salvífico. Mas sabe, também, que é nas verdades e bens que fluem agora do seu espírito desde o Senhor, que ele encontrará sua nova vida e sua salvação.
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