Desde 2001, um website dedicado à divulgação dos Escritos teológicos de Emanuel Swedenborg (1688-1772).
Literatura :: Estudo Bíblico :: Biografia de Swedenborg :: Contatos :: Sermões :: Tópicos :: Swedenborg website :: Links

PÁGINA PRINCIPAL  |  ÍNDICE DAS PALESTRAS  | PÁGINA ANTERIOR |  PRÓXIMA PÁGINA 

Nossa atitude diante da morte

Décima videoconferência de uma série

sobre temas diversos das Doutrinas Celestes

 

Nesses dois últimos anos nós temos convivido quase diariamente com a realidade muito próxima da morte, tal como nunca antes tínhamos experimentado. Parentes, amigos e conhecidos se foram de repente. Quase não há uma família que não tenha sentido a perda de alguém. Nossos dias só se comparam aos das gerações passadas que conviveram com guerras e pestes. Vivíamos razoavelmente tranquilos, sem essa lembrança constante de que nossa vida é frágil, muito frágil. Mas, hoje, a inevitabilidade da morte, do fim, tornou-se algo muito real para nós.

Essa mudança trágica em nossas vidas trouxe um clima tristonho, sombrio, de medo e de insegurança para muitos de nós. As pessoas mudam seus hábitos, se isolam, se evitam umas às outras e vivem angustiadas pelo medo, que é, na verdade, o medo da morte. Sempre tivemos medo de morrer, mas, nos tempos atuais, o acúmulo e a frequência tão grande de falecimentos tão próximos a nós fizeram com que muitos se tornassem vítimas do próprio medo.

A morte é algo que causa ao ser humano emoções extremas tais como a angústia e o pavor. Isto ocorre porque a morte incorpora três coisas que nos amedronta: o sofrimento, a incerteza e a separação. Sofrimento por causa da dor provocada pelas doenças ou pelos ferimentos; incerteza porque a pessoa não sabe o que a espera do outro lado da vida; e separação porque há o afastamento das pessoas queridas, resultando em sentimento de perda, ausência e saudade. E ninguém há que tenha prazer na dor, na incerteza e na saudade.

Quando a pessoa não tem uma religião ou não crê em Deus e na vida eterna, esses três temores – sofrimento, incerteza e separação – são ainda mais graves, porque, para o incrédulo ou ateu, a ideia de que a vida termina com a morte do corpo físico representa a completa aniquilação do ser, a nulidade de toda uma existência, como também o desaparecimento definitivo das pessoas amadas. De fato, é bem deprimente pensar que o ser humano, com todos os seus valores, teria um fim semelhante ao de qualquer animal, ou inseto; ou pensar que o indivíduo, por mais honrado e virtuoso que seja o seu caráter, não passa de uma composição química, matéria descartável que há de se reintegrar aos elementos da natureza.

 Mas, quando a pessoa tem a fé, quando leva na mente e no coração as verdades Divinas, ainda que ela também encare esses três temores, do sofrimento, da incerteza e da separação, ela conta com um auxílio que o ateu ou incrédulo não tem. Esse auxílio é a fé, que a faz olhar acima e além dos temores. É certo que o ateu pode questionar, dizendo: Se não existir nada além da morte, então essa fé é ilusória e vã. Sim, ele tem razão. Mas, e se existir? Então a fé é útil. E é útil já antes da morte, porque ajuda a encarar a vida com esperança e otimismo. Então, pelo menos por uma questão de lógica, vale mais a pena crer do que negar.

Porque a fé traz para o indivíduo algo que a descrença não traz: ela traz consolação dentro do sofrimento, quando ensina que Deus tem um propósito em todas as coisas, que tudo que Deus faz é bom, e, quando o mal for inevitável, Ele só o permite se desse mal puder resultar um bem que o supere.

Além da consolação no sofrimento, a fé também nos livra da incerteza quanto à vida após a morte e traz a esperança do reencontro com as pessoas queridas, pondo um fim à saudade.

É por essas três coisas, a consolação, a instrução e a esperança, que o sofrimento de um cristão diante da morte difere do sofrimento de um incrédulo. Pois qualquer sofrimento pode ser mais suportável em função de seu propósito, ou insuportável se nele não se enxerga um propósito. Por exemplo, a dor que sentimos quando tomamos uma injeção é mais facilmente suportável do que quando espetamos o dedo acidentalmente com algum objeto pontiagudo. A primeira dor incomoda menos porque ela tem um propósito, que é a medicação e a cura, ao passo que a segunda é insuportável por ser inútil, sem compensação. Da mesma forma, o sofrimento com a morte pode ser mais doloroso ou menos doloroso, dependendo de nossa atitude ou da maneira como a encaramos. A morte é a mesma e é inevitável para todos, mas a atitude que temos diante dela faz toda a diferença.

Se cremos num Deus que é Pai e o Amor mesmo, devemos crer também no cuidado terno que Ele tem por cada um de nós, sem exceção. E essa convicção da fé nos levará a ver a morte como uma transição, a entrada numa vida que esperamos ser melhor do que esta, porque Ele quer nos dar sempre o melhor. Esta fé dá propósito à vida e nos faz encarar de forma diferente a morte. Nesse, caso, o sofrimento da morte será ainda doloroso, mas então será como esterco, que em si é mau, mas dele a planta tira todo o vigor e a frutificação.

Se cremos em Deus, devemos acreditar no que Ele falou, que está preparando o melhor lugar possível para cada um de nós após esta vida. Ele, Criador e Pai de todas as almas, não deixa nenhuma delas abandonada no além, mas, com a instrumentalidade de Seus anjos, cuida de cada uma e destina o melhor lugar que cada uma delas puder alcançar, conforme a vida que levou aqui, consoante a sua fé. Pois Ele mesmo disse: “Não se turbe vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não, eu vo-lo diria. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, outra vez virei e comigo vos tomarei, para que onde eu estiver, vós também estejais.” (João 14:1-3)

Essas palavras Divinas, quando entram em nossa mente e em nossos corações, é como a luz que dissipa a treva da dúvida, da incerteza; é como lenitivo que alivia a dor da perda e da separação. Porque esse mesmo Deus, que formou um universo tão imenso, desde o máximo até o mínimo, olha por nós, quer nosso bem, na vida aqui, e, principalmente, por toda a eternidade. Podemos estar certos disso, e essa certeza ajuda a dissipar o medo.

No entanto, a fé, por mais robusta que seja, não resolve a questão da saudade. Podemos ter fé aqui, mas ainda sentiremos a saudade, pois ela é um pesar decorrente do afastamento da pessoa amada no tempo e no espaço, e por isso a saudade é inevitável. Mas devemos nos lembrar de que a saudade é a real expressão de um amor. Só sentimos saudades por aqueles a quem amamos. Portanto, se houver amor, haverá necessariamente saudade, e, por conseguinte, o pranto, o lamento e o luto.

O pranto faz parte da saudade trazida pela morte, mas a fé ajunta a essa saudade a a esperança do reencontro. Essa esperança acalenta e alivia a saudade. Aprendemos muito sobre isso no livro do profeta Jeremias, 31:16-17, que fala de uma certa mãe, Raquel, que chorava pela morte de seus filhos: “Assim diz o SENHOR: Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável por causa deles, porque já não existem. Assim diz o SENHOR: Reprime a tua voz de choro e as lágrimas de teus olhos; porque há recompensa para as tuas obras, diz o SENHOR, pois os teus filhos voltarão da terra do inimigo. Há esperança para o teu futuro, diz o SENHOR, porque teus filhos voltarão para os seus territórios.” Então, o Senhor diz a ela: “Reprime a tua voz de choro... porque há esperança”. E Jesus também falou a uma viúva, na cidade de Naim, que sepultava o único filho: “Não chores”. Lucas 7:14, 15: “E chegando-se, tocou o esquife; (e os que a levavam pararam) e disse: Mancebo, a ti te digo, levanta-te! E o defunto se assentou, e começou a falar; e deu-o à sua mãe.”

Só o Senhor tem o poder de nos dar esperança da vida além da morte, portanto, da cessação do luto, como se diz no Apocalipse 21:4: “E Deus limpará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem trabalho haverá mais, porque já as primeiras coisas passaram.”

Considerando que na vida após a morte não existe mais o tempo e o espaço, a saudade também deixa de existir. Os queridos que se foram antes de nós não sentem saudade, porque, para eles, há sempre a presença, a ligação interior conosco por meio das afeições, pois, se eles estão nos céus, o reino dos céus está dentro de nós. A saudade existe somente para os que ficam, e ela é transitória, só vai durar na exata medida de nossa vida terrena e vai se dissipar completa e imediatamente no primeiro abraço de alegria do reencontro, no momento em que abrirmos os olhos na vida eterna e virmos ao nosso lado os pais, irmãos ou filhos que nos tiverem precedido.

Porque, sim, havemos de encontrar os nossos entes queridos, com toda certeza. A própria Palavra de Deus não nos deixa dúvida quanto a isso. Primeiro quando diz que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos. As pessoas ressuscitam quanto ao espírito pouco depois da morte, algumas imediatamente, como as crianças, outras num espaço de até três dias, dependendo da causa da morte. Mas o certo é que ressuscitam quanto a tudo o que as constitui, sua mente ou espírito, seu caráter, seus pensamentos, sua memória, tudo, enfim, exceto somente a matéria que constituía o corpo, formada de elementos da natureza. Tudo o mais acima disso é parte da mente ou espírito, seja o mais leve sentimento, o mais breve pensamento, uma vez que isso é espiritual, faz parte de nosso corpo espiritual, a substância que viverá na eternidade. Porque fomos criados seres humanos, não meros animais; temos uma alma que foi criada para ser imagem e semelhança de Deus, para viver eternamente, capaz de ter fé, esperança, caridade.

A certeza de que ressuscitamos pouco após a morte e de que nos reconheceremos uns aos outros foi dada na própria letra da Palavra, na parábola que o Senhor contou, do rico e do Lázaro. O rico despertou da morte e viu Lázaro no seio de Abrahão, uma expressão figurativa para representar o regozijo celeste, e, de lá, reconheceu Lázaro, que não era, portanto, um espectro amorfo, indefinido, um fantasma esvoaçando no éter, mas o mesmo indivíduo que antes ficava à sua porta, com a mesma aparência, caso contrário o rico o não teria reconhecido. E ambos tinham um corpo, não material, mas substancial e idêntico ao material, pois o rico, sofrendo de sede, pediu a Abrahão que Lázaro molhasse em água a ponta do dedo e viesse lhe tocar a língua, pois se sentia atormentado pela chama, coisas que não seriam ditas se eles não tivessem algum corpo e a mesma aparência. E o rico rogou que Lázaro fosse enviado para exortar os seus irmãos quando estes ainda estavam vivendo no mundo, portanto, não muito tempo depois da morte do rico. Além disso, na transfiguração do Senhor, os discípulos Pedro, Tiago e João veem o Senhor falando com Moisés e Elias.

Algumas pessoas se perguntam ou duvidam se seremos os mesmos após a morte, se teremos lembrança dos que ficaram aqui, se reconheceremos uns aos outros. Esse tipo de dúvida vem do fato de a pessoa não saber que nós não somos, de fato, o corpo, mas somos essencialmente um espírito habitando temporariamente num corpo. E tudo o que está na mente, como dissemos há pouco, não está no corpo, mas no espírito. E mesmo a nossa aparência, a princípio, se mantém a mesma durante algum tempo, após a nossa entrada na vida eterna. Depois de algum tempo, porém, a nossa aparência irá se moldar e se conformar mais com a aparência que nosso espírito teve enquanto vivíamos aqui. Porque a aparência da face e do corpo natural é determinada pelos traços hereditários, mais belos ou menos belos, porém a aparência do espírito é determinada pelas afeições espiritual que cultivamos em vida, sejam elas boas ou más. E é a aparência de nosso espírito que será a nossa aparência real na vida eterna.

Além disso, tudo o que tivermos adquirido de bom, de positivo, de verdadeiro, de honesto, de justo, isso tudo é como uma riqueza espiritual que Deus nos dá e que vamos recolhendo durante a vida, e isso tudo Ele vai preservar em nós e vai amplificar pela eternidade. Porque Deus nunca diminui, nunca aniquila, nunca degrada, nunca dissipa o que é bom no homem, mas aumenta sempre, vivifica o que está prestes a morrer, amplifica o que for útil. Ele segue a ordem Divina, e essa ordem é de construção, de aperfeiçoamento, de melhora progressiva para o bem, nunca para a destruição, o esvaziamento, a aniquilação.

Se fôssemos pensar que a morte muda a pessoa, a vida aqui não teria sentido, e a vida após a morte não teria graça. Afinal, se fôssemos entrar na vida eterna sem as afeições, as lembranças, os laços familiares e conjugais da vida aqui, e se tudo isso nos fosse tirado pela morte, o que nos sobraria? O que seria de nós, então? Se a morte suprimisse o amor entre as pessoas, a vida seria sem sentido. Porque, como é possível desarraigar de um coração materno o amor por seus filhos? Como extirpar os sentimentos de carinho, de afeição, que estão tão entrelaçados entre dois cônjuges, que, mediante a Palavra do Senhor, não são mais dois, mas um só? Não seria isso aniquilar a ambos? Porque a afeição, a lembrança, mesmo as ideias de um entram de tal forma no caráter e na personalidade do outro, que um passa a fazer parte da vida do outro, como um só ser. Por isso, no mundo espiritual, quando os casais que vivem no amor verdadeiramente conjugal são vistos de longe, eles aparecem como um só anjo.

Então, nada em nós vai se perder ou se mudar com a morte, exceto o que é material, e levaremos conosco tudo o que tivermos feitos, as nossas obras que nos seguem e pelas quais seremos julgados. Por isso é que reconheceremos os outros e seremos reconhecidos.

Todavia, como algumas pessoas pensam que se perde algo de essencial com a morte, por isso elas veem a morte como um castigo ou um mal. E, em consequência disso, diante da morte elas costumam se revoltar contra Deus. Às vezes é uma rebelião aberta, blasfema, outras vezes é um sentimento mudo, contido, velado, de não aceitação, que se mostra apenas como um questionamento. Ela pergunta: “Por que?, por que?” querendo entender os desígnios Divinos, como se isso fosse possível, ou, pior, como se Deus lhe devesse alguma explicação. Elas se sentem como se Deus tivesse prometido que viveríamos neste mundo para sempre, e agora, com a morte, Ele tivesse de algum modo faltado com Sua promessa.

Mas, quem somos nós para questionar o Criador? Devemos nos lembrar com humildade de que nós somos o barro, e Ele, o Oleiro Divino, nos está formando neste mundo para os usos que tivermos a cumprir na vida eterna, usos a que Ele nos destinou, e Ele sabe o que nos convém. Portanto, Ele, somente, conhece a duração de nossa vida terrena e o momento em que devemos deixar essa vida.

Outras pessoas receiam a morte porque têm medo da punição eterna, o inferno. Mas, se alguém teme o inferno, basta que nesta vida se afaste do inferno, e assim Deus a pode salvar do inferno. E afastar-se do inferno é afastar-se do mal, qualquer que seja, e da mentira, e, em lugar disso, praticar a justiça, amar o próximo, falar a verdade e ter confiança de que Deus salva, pois, se durante a vida neste mundo formos a Ele com fé, de maneira nenhuma Ele nos lançará fora.

São essas, irmãos, umas poucas coisas que eu queria trazer nessa tarde para nossa reflexão. Quem desejar saber mais, leia a Palavra, leia as obras doutrinárias de Swedenborg, especialmente O Céu e o Inferno. Eu recomendo esse livro, pois ali encontramos ensinamentos lógicos, com muitos detalhes, de como é a morte e a entrada do homem na vida eterna. Esse livro tem um capítulo inteiro dedicado ao momento da morte e ao modo como cada um é ressuscitado pelo Senhor e recepcionado com ternura pelos anjos, qualquer que tenha sido a sua vida neste mundo. Em seguida, cada um seguirá a procura de seu caminho, para continuar a vida que viveu aqui em seu espírito, segundo a bondade e misericórdia do Senhor.

 

PÁGINA PRINCIPAL  |  ÍNDICE DAS PALESTRAS  | PÁGINA ANTERIOR |  PRÓXIMA PÁGINA 

Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -