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A Hereditariedade Divina
Oitava videoconferência de uma série sobre temas diversos das Doutrinas Celestes
Nos tempos antiquíssimos, o Senhor se apresentava ao homem por meio de um Humano representativo espiritual. Não havia necessidade de Ele se manifestar fisicamente, isto é, não precisava ter o terceiro grau, que era o corpo natural, porque naquela época as pessoas tinham percepção das coisas celestes e podiam compreender a Divindade espiritualmente e assim podiam ter comunhão com Ele. Mas, quando o ser humano começou a se voltar cada vez para si mesmo e para as coisas dos sentidos, tornou-se também cada vez mais corpóreo, e então foi perdendo a capacidade de perceber a Divindade acima da apreensão dos seus sentidos. Fez-se, portanto, necessário que o Senhor se aproximasse mais do homem, como disse o salmista: Ele “abaixou os céus e desceu, e a escuridão estava debaixo de Seus pés” (Sal. 18:9). Então, na época da dispensação noética e, também, da hebraica, Ele apareceu sob a forma de um anjo a quem Ele enchia de Seu Divino influxo. Era como que um Humano emprestado do anjo, e é esse anjo que é chamado Anjo do Senhor em vários lugares no Velho Testamento, e era como se fosse o Jehovah mesmo estando presente e falando, ainda que em representação. E eram representativos do Senhor também todos os rituais, objetos e leis do culto e da nação judaica, de modo que, a própria igreja israelita e judaica, era somente um representativo de igreja. Mas chegou um tempo em que a presença representativa do Senhor Jehovah cessou e Ele mesmo Se fez presente, conforme as profecias disseram claramente: “E, naquele dia, se dirá: Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é Jehovah, a quem aguardávamos; na sua salvação, exultaremos e nos alegraremos”. Isaías 25:9. E como era o próprio Deus de eternidade que estaria presente, por isso outras profecias foram dadas: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” (Isa. 9:6) “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que, traduzido, é Deus conosco.” (Isa. 7:14) Este é um ensinamento claríssimo das Escrituras, e dele depende a sanidade da Doutrina cristã: que Deus, eterno e infinito, aprouve entrar no tempo e no espaço, assumindo um corpo no plano natural, a fim de se tornar Deus visível e novamente acessível. Acontece que Deus é a ordem mesma, e Ele só age segundo leis da ordem. Por isso, Sua entrada no tempo e no espaço teve que ser feita dentro da ordem, pelo nascimento físico, após concepção e gestação, como todo homem. Como nós já vimos, na concepção, na formação de um ser humano, a alma e os interiores da mente são transmitidos pela semente paterna, enquanto o corpo e os exteriores da mente são provenientes da mãe. E porque é assim, por isso o Senhor, como todo homem, também teve duas hereditariedades, uma da parte do Pai (o hereditário interno) e outra da parte da mãe (o hereditário externo). Em outras palavra, pelo nascimento o Senhor herdou a natureza humana da mãe e a Essência Divina do Pai. E outro ponto de fé essencial do cristianismo é que a concepção do Senhor foi ação de Deus mesmo, sem interferência de um pai humano, pois, como a alma vem do pai, a encarnação Divina seria impossível por meio de um pai humano. Esta é a diferença entre a concepção humana e a Divina: naquele humano gerado em Maria, a Alma era o próprio Jehovah de eternidade, pelo que o Filho gerado seria chamado Deus conosco. Vemos a confirmação disso quando o anjo Gabriel anunciou a Maria que ela conceberia o Salvador. Ela perguntou como seria aquilo, pois ela era virgem. Então o anjo lhe disse “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.” (Luc. 1:35. Então, como este é o âmago da teologia, o fundamento da verdadeira religião cristã, é válido enfatizar que, na concepção Divina, o próprio JEHOVAH de eternidade foi a Alma que fecundou desde os íntimos a semente materna na virgem Maria, e formou para si um corpo natural com as substâncias mais puras da natureza. Esse corpo gerado foi o Filho do Altíssimo, que, porque era a manifestação mesma do Divino Ser, recebeu o nome de Jesus, que é a forma grega de “Jehovah Salvou”. O período de gestação do Filho Divino foi como a edificação de um templo no qual a Alma Divina habitaria corporalmente, como entendeu bem o apóstolo Paulo: “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” Col. 2:9. O Humano concebido do Divino era esse templo da Alma Divina, como Jesus disse aos discípulos: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos, foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo.” (Jo. 2:19-21). Todavia. esse templo Divino tinha, no começo, elementos enfermos advindos da hereditariedade humana, e esses elementos eram empecilhos ou obstáculos para a plena habitação da Alma. Por isso precisava ser gradativamente purificado para se tornar, de fato, morada perfeita da Divindade. Conquanto a hereditariedade paterna do Senhor era o Divino mesmo, Sua Alma, a sua hereditariedade materna derivada de Maria tinha inclinações meramente humanas e, portanto, impuras, pois eram a carga de todas as tendências pecaminosas de toda a humanidade, concentradas na herança recebida de Maria. Não se quer, com isso, culpar ou difamar a mulher, a virgem mãe, Maria, absolutamente. Ao contrário, em seu reconhecimento da grandeza de Deus e da espantosa obra da concepção, fica clara a sua humildade e também fica claro porque deve ser honrada e tida como bem-aventurada por todas as gerações. Não obstante, ela tinha inclinações nefastas da mente que ela recebera de seu pai e sua mãe, e essas ela transmitiu, involuntariamente, ao Filho Divino que foi gerado em Seu ventre. Então, pela hereditariedade paterna, o Senhor, a Sua Alma, era o próprio Deus, mas, pela hereditariedade humana, Ele era teve inclinações para o pecado como todos os outros homens. Mas Ele quis que fosse assim, porque, ao vencer todas aquelas tendências e triunfar sobre o mal por Seu próprio poder, Ele Se fez justiça e se pôs em condições de alcançar a mesma vitória em todos os que se deixam regenerar por Ele. Cumpre frisar que essa herança humana, advinda da mãe e por intermédio da mãe, sendo apenas inclinações para o mal, não eram o mal, nem o pecado em si, assim como a nossa hereditariedade também são apenas as inclinações. Mesmo assim, por serem inclinações enfermas para o mal, elas eram como escórias, impurezas, e por isso serviram de um plano atraente para os infernos, que por ali tentarem e atacarem o Senhor, e foram derrotados e subjugados. Mas, no Senhor mesmo, não havia mal nem inclinação para o mal. Aquelas tendências corruptas estavam no externo da mente Divina, abaixo da mente interior. O Seu Divino não os tinha, mas o voluntário que Ele herdara da mãe tinha em si os males da raça humana, e por isso aquele voluntário devia ser rejeitado. AC 5157. (Figura do templo) Exatamente como é o caso com todos os outros homens, a hereditariedade paterna não pode jamais ser dissipada, mas a materna o pode. AC 1414. O humano materno era tal que podia ser tentado, pois estava contaminado com o mal hereditário proveniente da mãe. AC 5041. As tentações do Senhor no deserto e outras que não são relatadas tão explicitamente nos Evangelhos, foram por causa dessas tendências para o mal que havia na mente externa do Senhor, e, por isso, Ele precisava suportar e vencer as inclinações humanas, para que aquelas heranças maternas fossem extirpadas. Aquele episódio de o Senhor entrar no templo de Jerusalém e, com severidade, expulsar os negociantes, revirar as mesas dos cambistas etc., era uma representação externa visível de um mesmo processo que Ele estava acontecendo na Sua mente externa, expulsando do templo de Seu corpo as tendências para os males hereditários humanos, porque Aquele corpo precisava ser purificado, para que Deus estivesse plenamente presente nele com os homens, Deus conosco. Lemos na obra “Doutrina do Senhor” (35): “O Senhor Se despojou sucessivamente do Humano gerado da mãe e Se revestiu do Humano proveniente do Divino, que é o Divino Humano e Filho de Deus. Sabe-se que o Senhor foi Divino e Humano; Divino por JEHOVAH, o Pai, e Humano pela virgem Maria. Daí ter sido Deus e Homem e, assim, a Essência Divina mesma e a natureza humana; a Essência Divina do Pai e a natureza humana da mãe; daí, igual ao Pai quanto ao Divino, e menor que o Pai quanto ao Humano. E essa natureza humana, da mãe, não mudou em Essência Divina, nem poderia se misturar com ela, como ensina a doutrina da fé chamada atanasiana, que a natureza humana não pode ser mudada em Essência Divina, nem pode com ela se misturar.” E sobre esse processo de despojar as inclinações hereditárias, lemos nos AC (1701): “O Senhor, Que tinha a percepção de tudo que se fazia, conhecia claramente quais eram e de onde vinham as coisas que existiam n’Ele; por exemplo, se alguma coisa de mal se apoderava das afeições de Seu Homem Externo ou se alguma coisa de falso se apoderava de Suas cognições, era impossível que Ele não soubesse qual era e de onde vinha. Ele até sabia quais eram os maus espíritos que excitavam esse mal e esse falso, e também como os excitavam; além de muitas outras coisas, porque tais pormenores e outros que são inúmeros não são desconhecidos dos anjos e dificilmente o são dos homens que têm a percepção celeste; eles o eram, portanto, muito menos do Senhor.” Ele era o Filho de Deus pelo nascimento, mas o Filho do Homem por ter conquistado os infernos. Vamos trazer, agora, uma sequência de passagens dos Escritos que nos esclarecerão melhor sobre a hereditariedade Divina. Em Doutrina do Senhor (18 a 25): “O Senhor, em relação ao Divino Humano, é chamado o “Filho de Deus”; e em relação à Palavra, o “Filho do Homem”. ...Pelo “Filho de Deus” se entende o Senhor quanto ao Humano que Ele assumiu no mundo, que é o Divino Humano; isto é evidente pelo fato de Senhor dizer tão frequentemente que ele foi enviado pelo Pai ao mundo e que Ele saiu do Pai. Por ser Ele enviado pelo Pai ao mundo se entende que Ele foi concebido de JEHOVAH o Pai. (...) Quem sabe o que, no Senhor, se chama “Filho de Deus” e o que n’Ele se chama “Filho do homem” pode ver muitos Arcanos da Palavra; porque ora o Senhor Se chama “o Filho”, ora “o Filho de Deus” e ora “o Filho do Homem”, em toda parte de acordo com o assunto que está sendo tratado. Quando está se tratando de Sua Divindade, Sua unidade com o Pai, Seu Poder Divino, a fé n’Ele, a vida proveniente d’Ele, Ele Se chama “Filho” e “Filho de Deus”. (...) O Senhor é chamado “Filho do homem” onde o assunto de que se trata é a Sua paixão, Juízo, Seu Advento, e, em geral, a redenção, a salvação, a reforma e a regeneração. A razão é que “o Filho do homem” é o Senhor quanto à Palavra...” AC 1414: “...O Senhor, quando nasceu... foi como os outros homens, exceto que Ele foi concebido de JEHOVAH, mas nasceu de uma mãe virgem, e pelo nascimento recebeu fraquezas da mãe virgem como as [fraquezas] do homem em geral. Essas fraquezas são corpóreas... O hereditário do Senhor proveniente do Pai era Divino, mas Seu hereditário proveniente da mãe era humano e frágil. Esta natureza frágil que o homem recebe hereditariamente de sua mãe é alguma coisa corpórea que é dispersa quando ele está sendo regenerado, ao passo que aquela que o homem recebe de seu pai permanece para a eternidade. Mas, como foi dito, o hereditário do Senhor proveniente de JEHOVAH era o Divino. Um outro arcano é que o Humano do Senhor também foi feito Divino. N'Ele, só, havia uma correspondência de todas as coisas do corpo com o Divino - uma correspondência perfeitíssima, infinitamente perfeita, fazendo surgir a união das coisas corporais com as coisas Divinas celestiais, e das coisas sensuais com as coisas Divinas espirituais; e assim Ele era o Homem Perfeito e o Único Homem.” Por causa de Sua hereditariedade Divina, “O Senhor, só, estando no mundo, foi sábio por Si mesmo e fez o bem por Si mesmo, porque por nascimento o Divino Mesma estava n'Ele e Lhe pertencia; também é por isso que, pela própria força, Ele Se tornou Redentor e Salvador”. (Am.Con.135) Por isso é que, à medida que crescia, Ele recebia o celeste e o espiritual no natural, não por meio de algum espírito ou anjo, mas por Si mesmo. AC 4592-4. Ele aprendia sucessivamente e de acordo com a ordem fundamental do desenvolvimento humano, mas progrediu mais rápida e mais plenamente. AC 89, AC 6716. “O menino Jesus crescia e Se fortificava em espírito, e avançava em sabedoria, em idade e em graça para com Deus e os homens” (Luc. 2:40) Também em virtude de Sua hereditariedade Paterna, o Senhor tinha desde o nascimento uma inclinação para o bem e um desejo pela verdade, diferentemente de qualquer outro homem. AC 1487, 2253. AC 2253: “Com o Senhor, quando Ele estava no mundo, não havia outra vida senão a vida do amor para com a raça humana universal, a qual Ele desejava eternamente salvar. Esta é a própria vida celeste pela qual Ele Se uniu ao Divino e o Divino a Si - porque o SER mesmo, ou JEHOVAH, não é outra coisa senão a Misericórdia, que consiste em puro amor para com a raça humana universal - e esta vida era uma de puro amor, a qual nunca é possível a homem algum. Aqueles que não sabem o que a vida é, e que a vida é tal qual é o amor, não compreendem isto. Isto mostra que tanto quanto alguém ama seu próximo, assim também participa da vida do Senhor”. Também em virtude de Sua hereditariedade Paterna, Ele, só, pelo amor universal para com a raça humana, tinha o desejo de salvar toda a humanidade. AC 2500, 2253. Ele, só, era sábio e fazia o bem por Si mesmo. n.135: “O Senhor, só, estando no mundo, foi sábio por Si mesmo e fez o bem por Si mesmo, porque por nascimento o Divino mesmo estava n'Ele e lhe pertencia; também é por isso que pela própria força Ele Se tornou o Redentor e Salvador”. (Amor Conjugal 135). O que o Senhor fez em relação às inclinações más da hereditariedade humana é o que o homem pode e deve fazer, também, quando está sendo regenerado. Porque, como vimos na nossa primeira palestra, cabe à pessoa se examinar, conhecer e reconhecer as tendências enfermas de sua herança, ou os males hereditários. E, assim como o Senhor expulsou os vendilhões do templo, e expulsou de Seu homem externo as inclinações fomentadas pelos espíritos infernais, assim também o cristão deve expelir de sua vontade e de seu pensamento tudo o que lhe possa servir de plano para infestação infernal. Lemos sobre isso em VRC 105. “A Ordem Divina é que o homem se disponha à recepção de Deus e se prepare para ser um receptáculo e um habitáculo onde Deus possa entrar e habitar como em Seu Templo; que o homem deve fazer isso por si mesmo, e não obstante, reconhecer que é por Deus; deve reconhecê-lo porque, ainda que não sinta nem a presença nem a operação de Deus, entretanto, Deus opera todo bem do amor e todo vero da fé no homem. É segundo esta Ordem que progride e deve progredir todo homem, para que, de natural, se torne espiritual.” “Semelhantemente, o Senhor se uniu a Seu Pai e o Pai se uniu a Ele; em uma palavra, o Senhor glorificou Seu Humano, isto é, o fez Divino, da mesma maneira que o Senhor regenera o homem, isto é, o faz espiritual.”
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