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Como Ele nos amou Quinta videoconferência de uma série sobre temas diversos das Doutrinas Celestes
Uma reflexão sobre os três essenciais do amor de Deus. “Este é meu mandamento, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” João 15:12 Existe um hino antigo nas Igrejas Cristãs que já teve várias versões ou traduções em português e que tem por título ‘Sublime Amor’. A letra em português varia de uma versão para outra, mas sua mensagem central é que o amor de Deus é insondável e ninguém jamais o pode explicar. Em uma das estrofes, o compositor escreveu: “Se o mar em tinta se tornasse, e o céu em papel também; se todas as penas fossem hastes, e todos os homens, escrivães. O descrever tão grande amor, ao mar daria o fim. Onde, pois, está o livro em que descrever tal amor?” Vejam a poesia, a inspiração do autor nesse hino! Ele, percebendo que não podia descrever o Amor Divino, procurou narrar, em vez disso, a própria incapacidade do ser humano de delinear o que seria esse amor. Então ele usa a imagem de o mar como tinta, o céu como papel, as hastes dos vegetais como penas de escrever e todos os homens como escrivães, e conclui dizendo que nem assim se poderia descrever esse amor, porque o mar de tinta se esgotaria. E ele indaga: “Onde, pois, está o livro em que descrever tal amor?” Refletindo sobre um amor tão grandioso e indescritível como é o amor de Deus, de repente nos lembramos que, por mais sublime que seja esse amor, Ele nos ordenou que também nós tivéssemos um amor como esse d’Ele. Sim, porque Jesus disse: “Este é meu mandamento, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” Se é um mandamento, é uma ordem que deve ser cumprida na prática: que nos amemos uns aos outros como, isto é, DA MESMA MANEIRA, DO MESMO MODO QUE, Ele nos amou. E então nos perguntamos: se é algo tão sublime que não podemos compreender nem descrever, tão imenso que não podemos alcançar, como seria, então, possível a nós, seres humanos tão frágeis, cumprir esse mandamento Divino e ter um amor semelhante ao d’Ele? Pois o Senhor disse: “Como eu vos amei”. Então, o “como” é um parâmetro que deve ser aplicado aos nossos amores, seja o amor fraterno, seja o amor materno e paterno, o amor filial, o amor conjugal, o amor mútuo, entre amigos, colegas e companheiros, e assim por diante. E apóstolo João, em sua carta universal, enfatizou as palavras do Senhor, muitos anos depois: “Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. 1 João 4:11. Portanto, devemos refletir sobre esse “como”, esse modo de amar que tornaria nosso amor um reflexo do amor do Senhor. Isto quer dizer que nossos amores, quaisquer que sejam, não podem ser sem critérios, não podem ser aleatórios ou indiscriminados, ao nosso modo, como nos for conveniente. Não. Pois sabemos que há muitas formas de amar: ama-se possessivamente; ama-se por interesse; ama-se cegamente; ama-se para ser amado em troca, ama-se indiscriminadamente. E, a propósito do amor indiscriminado, esse até tem uma máxima: “fazer o bem sem olhar a quem”. Mas esse lema é enganoso, porque quem faz bem aos maus, acaba fazendo mal aos bons. Portanto, “como” amar, ou “amar como o Senhor nos ama” é algo que precisamos aprender e, depois, praticar. Ninguém nasce sabendo sequer o essencial da vida. Diferentemente dos animais, que têm o instinto, a criatura humana deve aprender tudo de que precisa saber, e isto inclui, certamente, algo tão importante como é o modo de amar. A propósito disso, recorremos, então, ao livro A Verdadeira Religião Cristã, porque nesse livro, no primeiro capítulo, encontramos uma descrição do amor de Deus que vai nos ajudar a compreender esse “como”, e vai responder a nossa indagação. Todavia, diferentemente do hino mencionado no início, no estilo de Swedenborg encontramos outra espécie de poesia, por assim dizer, que se observa na coerência lógica das ideias ali expostas, e elas são expostas em termos simples, sem muitos adjetivos. É um estilo que um escritor já chamou de ‘árido’, porque Swedenborg, tanto nos seus tratados científicos quanto nos teológicos, dispensa o colorido dos predicados e escolhe os termos simples e diretos, de preferência a termos comuns da filosofia ou da teologia tradicionais. Sendo assim, para descrever o amor de Deus, em vez de adjetivos e figuras abstratas de linguagem, ele empregou 3 verbos, ou 3 ações específicas, e é essa descrição em forma de ações que nos esclarece como é possível amarmos uns aos outros tal como o Senhor nos amou. Ele diz que há três ações ou atividades que caracterizam a essência do amor de Deus: 1) amar os outros fora de si; 2) querer ser um com eles; 3) fazê-los felizes por si mesmos. A primeira característica, chamada de o primeiro essencial, que é amar os outros fora de si, deve ser entendida como amar os outros independentemente de todo interesse ou vantagem pessoal nesse amor. É não ter intenção de recompensa ou de retorno do amor que se dá. É fazer o bem a outrem não por algum benefício seu, mas por causa do bem em si. O interesse pessoal se torna secundário ou ausente, pois o que importa é o interesse do próximo. Esse é o sentido mais perfeito do altruísmo. Essa primeira característica essencial do amor Divino é, também, o primeiro aspecto que distingue entre o verdadeiro e o falso amor, já que a principal característica do amor egoístico é justamente o fato de ser condicional, isto é, ama-se enquanto se é amado, ou enquanto se obtém alguma vantagem ou reciprocidade nisso. Cessando a vantagem, cessa o amor, porque este era, de fato, egoísmo. E o egoísmos consiste exatamente em amar os outros por causa de si. Assim, lemos na obra VRC: “O primeiro essencial, que é amar os outros fora de Si, é reconhecido pelo amor de Deus para com todo o gênero humano [que está fora d`Ele]...” Quando diz “fora de Si” é porque o ser humano está fora de Deus. Parece óbvio, mas é importante que se diga que o ser humano está fora de Deus, no sentido de que é uma criatura por si, à parte e separada do seu Criador. Essa ideia contrapõe àquela, de que o ser humano é uma emanação ou, por assim dizer, um prolongamento do Divino, tendo, portanto, algo de Divino em si mesmo. Mas, se isso fosse verdadeiro, o Divino estaria se subdividindo para criar outros divinos, cada um com identidades próprias. Isto seria algo impossível, pois cremos num Deus indivisível, assim como o homem é indivisível, até chamado “indivíduo”, isto é, uma identidade que não se pode dividir. A criatura recebe a vida, a forma, essência do Criador, mas não se confunde com o Criador, assim como um vaso de cerâmica não é o mesmo ser que a pessoa do Oleiro, ou uma cadeira não é o prolongamento do ser do marceneiro que a fez. Deus está presente em todo homem. Aliás, está presente em toda criatura humana, qualquer que seja e onde quer que esteja, na alma humana. Mas está conjunto somente naqueles que estiverem reciprocamente em Deus. O Senhor falou que viria e faria morada naqueles que ouvissem a Sua voz. Isto é o que chama a conjunção, mas não é união, que só é possível entre os atributos próprios de um indivíduo: Pai, Filho e Espírito Santo em Deus, e alma, corpo e espírito no homem. “Tudo e todas as coisas do universo estão fora de Deus porque são finitas e Deus é infinito; o amor de Deus vai e se estende não somente sobre os bons e as coisas boas, mas também sobre os maus e sobre as coisas más [!], por consequência, não somente sobre os que estão no céu e sobre as coisas que o céu encerra, mas também sobre os que estão no inferno e sobre o que o inferno encerra; assim, não somente sobre Miguel e Gabriel, mas também sobre o diabo e Satanás; pois por toda eternidade Deus é o mesmo; também Ele disse que “Seu Sol Ele faz levantar-se sobre os maus e os bons, e envia a chuva sobre os justos e os injustos” (Mateus 5:45)” (VRC 43). Deus ama os outros, que estão fora de Deus, porque o amor Divino é, em si, altruísta. A Palavra nos ensina que Deus é amor, mas o amor só se realiza quando dirigido a outrem, aplicado a outrem, a serviço desse outrem, porque, do contrário, o amor que é voltado para si, é mero egoísmo. O amor de Deus implica, portanto, em que haja o ser humano para ser amado, para ser alvo do benefício e da bem-aventurança que o amor quer proporcionar. Seria inimaginável um amor Divino concentrado em Si mesmo, no Divino, pois o amor concentrado em si é o amor de si, que, quando prevalece, se torna amor diabólico, oposto ao altruísmo. Essa primeira característica essencial do amor foi a causa da criação do universo, que está fora de Deus, ao qual o amor pôde se estender para beneficiar e, assim, se realizar. O segundo essencial: querer ser um com os que são amados. Este essencial é o que produz a conjunção ou comunhão. Quando se ama, há o prazer com a presença ou proximidade das pessoas amadas. Na verdade, as Doutrinas Celestes, na obra Diário Espiritual, definem esse segundo essencial do amor de uma forma simples e, ao mesmo tempo, impressionantemente objetiva: “O amor é uma forte atração”. E essa atração é diretamente proporcional à veracidade e à intensidade do amor. Existe uma esfera que procede do Senhor e se estende pelo universo, afetando a todos com o Divino Amor, embora afete de modo diferente a cada um, diferença esta que é determinada unicamente pela recepção. Essa esfera é que inspira uma força conjuntiva em todos os amores. Essa força que vem do segundo essencial do amor de Deus. É por causa deste essencial que existe o prazer em se estar na companhia dos amigos, na congregação dos irmãos de uma mesma fé, ou num grupo de trabalho com objetivos comuns. Mas onde este aspecto do amor se manifesta de forma mais expressiva ou mais visível é no amor conjugal e, em seguida, no amor para com os filhos, especialmente no amor materno. “O segundo essencial do amor de Deus, que é querer ser um com eles, é reconhecido também pela conjunção de Deus com o céu angélico, com a Igreja nas terras, em cada homem da Igreja, e com todo vero e todo bem que entram no homem e na Igreja e que os constituem. O amor, considerado em si mesmo, não é outra coisa senão um esforço para a conjunção”. Essa segunda característica essencial do amor foi a causa da criação do homem, que, apesar de estar fora de Deus, foi criado para ser imagem e semelhança de Deus, e quando isso ocorre o homem pode amar reciprocamente a Deus e se conjuntar a Deus, e o amor se realiza na conjunção recíproca. A propósito, existe em muitos uma crença bem simplista de que Deus criou o universo, os anjos e os homens para que fosse louvado por eles. Mas essa é uma visão distorcida sobre o motivo da criação, porque, se assim fosse, o objetivo da criação seria, de fato, a própria satisfação Divina, pois teria criado o homem para ser louvado, ou melhor, lisonjeado pelo homem, o que, por via de consequência, recai na ideia do amor egoístico, cujo fim é o bem dele mesmo, não dos outros. Portanto, Deus criou o universo para o homem e por causa do homem; criou o homem para ser objeto do amor e de toda beneficência oriunda do amor. Aliás, aprendemos nos Escritos de Swedenborg que Deus, como Ser Supremo, não tem necessidade de louvores nem de celebrações. A finalidade do louvor e da ação de graças não é a gratificação ou satisfação pessoal de Deus, mas para que o ser humano esteja voltado para o Divino e assim possa receber os benefícios dessa aproximação e conjunção. O anseio ou esforço pela conjunção, pois, é o segundo essencial pelo qual o amor se manifesta. Mas o fato de haver por natureza esse essencial do amor no homem, ou seja, de o homem querer se conjuntar àqueles a quem ama, não faz do homem uma imagem de Deus. Porque, na realidade, a qualidade da conjunção é determinada pelo primeiro essencial - amar os outros fora de si. Se o amor for egoístico, por causa de si, pode até haver, ainda, o desejo pela conjunção, mas isso visando somente razões próprias. Quero estar junto de fulano, me relacionar com sicrano, porque quero tirar proveito nesse relacionamento, nessa convivência. Por isso, então, é que existe o terceiro essencial, o “para quê” se deseja a conjunção. O terceiro essencial: torná-los felizes por si. Esta, então, é a finalidade da existência dos essenciais anteriores: o amor Divino ama os outros, que estão fora dele, quer se conjuntar aos outros, e a razão disso é para fazê-los felizes. Esta terceira característica completa a distinção entre o amor genuíno e o amor falso ou o egoísmo, como se viu, pois o propósito da conjunção se completa na felicidade de outrem e não na de sua própria pessoa. “O terceiro essencial do amor de Deus, que é torná-los felizes por si, é reconhecido pela vida eterna, que é a ventura, a beatitude e a felicidade sem fim que Deus dá aos que recebem em si Seu Amor. Com efeito, como Deus é o amor mesmo, pois todo amor exala de si um prazer e o Divino Amor exala a beatitude mesma, a ventura mesma e a felicidade mesma durante a eternidade, assim, Deus torna felizes por si os anjos e os homens depois da morte, o que se faz pela conjunção com eles” (VRC 43). Fazer o bem por causa da felicidade de outrem, para a satisfação e o prazer de outrem, e não por causa de recompensa. Isto é o que realiza o amor e dá-lhe propósito. O terceiro essencial é como um envoltório, um complexo e uma base para os dois anteriores. “Tornar os outros felizes” deve ter interiormente o “querer ser um com eles” e, dentro desse querer, o altruísmo do “amar fora de si”. O ato de fazer alguém feliz só é verdadeiro fruto do amor quando desse ato estão excluídos o egoísmo e a satisfação pessoal, a recompensa ou retorno. É a intenção encerrada nos atos que determinam o valor desses atos. O ato, ou uso, é que dá forma e existência ao amor ou caridade. Há um relacionamento, entre estes três essenciais, como o que existe entre corpo, alma e espírito: o amor fora de si é como a vida do amor; o querer ser um com os outros é a sua força; e torná-los felizes é o plano, o corpo ou a forma em que os outros dois se manifestam. Estes três essenciais só existem realmente no Amor Divino. Mas existe como que uma semelhança deles nos amores naturais do homem, nas amizades e afinidades, e até no amor entre os animais. Mesmo uma fera irracional ou uma pessoa perversa ama os seus e quer beneficiá-los, porque existe essa semelhança dos essenciais em todo amor. Mas esse amor só se torna imagem do amor de Deus quando a pessoa reformula seu modo de pensar e, por conseguinte, corrige seus motivos e suas ações Então seus amores naturais entram na ordem e se tornam espirituais, pela regeneração, e seu amor passa a ser imagem verdadeira do amor de Deus. Este é o alvo do homem que está regenerado: que em seu relacionamento para com o próximo haja a caridade, e nela esses três essenciais que caracterizam o amor de Deus, sem faltar um deles sequer, pois a falta de um destes essenciais anula e invalida os outros dois. Esses essenciais do amor de Deus podem ser resumidos como: altruísmo, comunhão e prática do uso por amor ao uso. Esses três se completam e se faltar um desses, os outros são anulados. Outro nome do verdadeiro altruísmo é caridade, que é o amor espiritual. E a caridade tem, como primeiro requisito, não fazer mal ao próximo; em seguida, fazer-lhe bem. Lemos em Mateus 7:12: “Portanto, tudo o que vós quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho vós também assim”. E, para começarmos a fazer isso, devemos começar por “não fazer aos outros aquilo que não queremos que os outros nos façam”. O que aprendemos sobre o amor de Deus, sobre como Ele nos amou, deve nos levar a refletir sobre várias coisas. Por exemplo, sobre a empatia, que é a habilidade de se colocar no lugar dos outros, pensar no bem dos outros em tudo o que se fizer. Devemos nos perguntar: Isto que vou fazer será bom para meu próximo? Ou, por outra, isto que estou deixando de fazer, estará prejudicando meu próximo? Será que eu gostaria se ele fizesse comigo aquilo que estou fazendo com ele? Como eu me sentiria, se ele me tratasse como eu o trato? Será que estou contribuindo para a felicidade do meu irmão? Ou para sua infelicidade? Porque o prazer dos anjos no céu é o prazer de fazer usos. Perguntaram a um anjo, certa vez, o que é a alegria do céu? “E o anjo respondeu em poucas palavras: "É o prazer de fazer alguma coisa que seja útil a si mesmo e aos outros; e o prazer do uso tira do amor a sua essência, e da sabedoria a sua existência; o prazer do uso que tira sua origem do amor pela sabedoria é a alma e a vida de todas as alegrias celestes” (Amor Conjugal, 5). Se quisermos desfrutar da felicidade celeste, devemos praticar nesta vida aquilo que irá nos proporcionar essa felicidade, a qual consiste em amar COMO Deus nos amou. Pois quem não recebe o céu dentro de si enquanto neste mundo, não poderá ser recebido no céu na vida eterna.
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