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Obsessão Espiritual

Segunda videoconferência de uma série

sobre temas diversos das Doutrinas Celestes

 

‘Obsessão’ é a ação do verbo obsedar, que é, segundo o dicionário, “apoderar-se do espírito de; causar ideia fixa a... Do lat. Obsidére 'pôr-se diante de, obstar, pôr obstáculo, ... sitiar, ocupar, atacar, invadir, apoderar-se.'

Jesus expulsou muitos demônios, livrando as pessoas de obsessões, e também deu aos discípulos esse poder. Mas somente sete ou oito casos de obsessão são descritos em detalhes no Novo Testamento. Vejamos esses casos, não em ordem cronológica.

Primeiramente, de um homem numa província chamada Gadara. Ele vivia nos sepulcros, era tão feroz que ninguém podia passar por ali. (Marcos 5:2-15) “Porque muitas vezes fora amarrado com grilhões e cadeias, e as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas; e ninguém o podia amansar. E sempre, dia e noite, andava clamando pelos montes e pelas sepulturas, e ferindo-se com pedras.”

Quando viu Jesus, o mau espírito disse, pela boca daquele homem: “Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Esconjuro-te por Deus que não me atormentes.” Esse indivíduo era obsedado por uma legião de demônios que, ao serem expulsos, entraram numa vara de quase dois mil porcos, e estes se precipitaram no mar por um despenhadeiro.

Assim é o relato de Marcos e Lucas, mas o evangelho de Mateus fala que eram dois endemoninhados. A razão dessa diferença nos relatos deve estar no sentido espiritual.

Em Cafarnaum, a cidade onde Jesus residia, trouxeram a Ele um homem que era possuído por um demônio que o fazia ficar mudo. Quando Jesus expulsou o demônio, o homem falou. (Mateus 9:32-34)

Outro endemoninhado era mudo e também cego, e, sendo também liberto da obsessão, passou a falar e a ver. (Mateus 12:22-24).

Ainda em Cafarnaum, na sinagoga, estava ali um possesso por espíritos imundos, mas esse homem não era cego nem mudo, pois, vendo Jesus, os demônios falaram por ele:  “Ah, que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele! E o espírito imundo, despedaçando-o e clamando com grande voz, saiu dele.” (Marcos 1:21-28). Em Marcos lemos que o obsessor era um espírito imundo, mas em Lucas (Lucas 4:33), no relato desse mesmo episódio, lemos que era um demônio imundo. Então, como vemos aqui e veremos na sequência, os termos “espírito imundo”, “demônio” “demônio imundo” e “diabo” são usados indistintamente nos Evangelhos.

Também nas cidades litorâneas de Tiro e Sidon, uma mulher, não judia, mas cananeia, tinha uma filha “miseravelmente endemoninhada”. Ela suplicou que o Senhor tivesse misericórdia da filha. Jesus, a princípio, parecia não dar atenção aos rogos da mulher, mas isso talvez foi para que todos vissem a humildade e a grande fé daquela mulher estrangeira. Por causa dessa fé, a sua filha ficou sã. (Mateus 15:21-28).

Houve outro jovem que desde a infância era cruelmente possuído por um espírito imundo, mudo e surdo. Quando o espírito o possuía, agitava o menino, lançava-o no fogo e na água, e o fazia sofrer muito, e o menino ia-se definhando. O pai o trouxe aos discípulos, mas estes não puderam expulsar aquele demônio. Jesus o expulsou e, depois, explicou aos discípulos que aquela casta de demônios só se expulsava com jejum e oração. (Marcos 9:14-29).

Em outro sábado, numa sinagoga, estava presente uma mulher que havia dezoito anos era possuída por um demônio que a fazia ficar curvada, sem poder se endireitar. Jesus expulsou aquele espírito de enfermidade e a mulher logo se endireitou e glorificava a Deus. (Lucas 13:10-13).

E houve muitos outros casos de obsessão e expulsão de demônios que não foram descritos em detalhes, como os casos de algumas mulheres que seguiam Jesus.

Lemos que muitos demônios, quando estavam sendo expulsos, clamavam, dizendo: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus, o Santo de Deus.” É curioso que os demônios reconheciam quem era Jesus e o temiam, ao passo que muitos judeus O não reconheciam nem temiam. Diferentemente de alguns que blasfemavam do Senhor, os demônios O temiam e tremiam na presença d’Ele. Por que isso?

O fato é que os maus espíritos, por estarem nos dois mundos, natural e espiritual ao mesmo tempo, viam, no mundo espiritual, as espantosas obras de Redenção que o Senhor estava então realizando ali, subjugando os infernos e ordenando os céus, e isso acontecia ao mesmo tempo em que expulsava demônios e curava pessoas na terra. Então, eles bem conheciam o poder Divino operando no Humano do Senhor.

Mas, de fato, os demônios declaravam que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus, não por uma razão nobre, mas porque queriam estorvar a obra d’Ele no tempo. Pois, enquanto o Senhor ensinava e curava, Ele também glorificava o Humano em que habitava como em Seu templo, e esse processo era gradativo e só se completaria após a morte na cruz e a ressurreição. Durante esse processo, os discípulos e alguns dos judeus testemunhavam a grandeza de Suas obra e, desse modo, estavam gradativamente chegando a uma convicção racional e espontânea de que Aquele homem não era somente o carpinteiro de Cafarnaum, não somente um profeta, ou um rabi, mas o próprio Messias, o Filho de Deus.

Os discípulos e o povo precisavam chegar a essa conclusão sem imposição e sem constrangimento à sua fé, porque uma fé constrangida não permanece. Sendo assim, quando os demônios declaravam em alta voz que Jesus era o Filho de Deus, eles não estavam sendo bonzinhos, mas tentando, diabolicamente, causar dúvida e escândalo naqueles que ainda tinham não tinham chegado a essa convicção a respeito de Jesus. Por isso o Senhor mandava que os espíritos se calassem. A confissão de boca daqueles espíritos imundos, era o exemplo de uma verdade que, em si, é verdade, mas torna-se falsidade porque é pronunciada com um propósito mau.

Jesus deu aos discípulos o poder de expulsar espíritos malignos, e os discípulos, sendo comissionados, saíram pelas cidades e vilas, pregando, curando e expulsando demônios, e voltaram alegres a Jesus, porque até os demônios se lhes sujeitavam.

E, depois da ressurreição, pouco antes de subir aos céus, Jesus ratificou essa outorga de poder aos discípulos sobre os espíritos infernais: “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome lançarão fora os demônios...” (Marcos 16:17).

É interessante notar que até mesmo um que não era discípulo do Senhor teve poder para expulsar os demônios pelo nome de Jesus, como lemos em Lucas 9:49, 50: “João, disse: Mestre, temos visto a um que em teu nome lançava fora os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco. E Jesus lhe disse: Não lho proibais; porque quem não é contra nós, é por nós.”

Mas, por que os espíritos se apoderavam das pessoas? Não todos os espíritos faziam isso, mas somente os maus faziam isso, diga-se de passagem. Porque, como lemos na obra Diário Espiritual (2659), “Os maus espíritos nada desejam com mais prazer do que governar completamente o homem, tanto os seus interiores quanto o corpo, especialmente. Assim se lhes parece retornar à vida do corpo, pois então supõem plenamente que retornaram (ao corpo).

Está claro, então, que naquele tempo era muito comum esse tipo de obsessão, quando os demônios se apoderavam fisicamente das pessoas, dos seus corpos e seus sentidos. Esta é a que se chama obsessão externa. Alguns demônios faziam as pessoas ficarem cegas, outras surdas e outras mudas. No caso da mulher curada na sinagoga, durante dezoito anos um espírito curvara a coluna dela a tal ponto que ela não podia se endireitar. Crianças ou jovens e velhos eram indistintamente possuídos e atormentados. E muitos espíritos juntamente podiam se apoderar de um único corpo ao mesmo tempo, como nos casos da legião de demônios dos gadarenos, e de Maria Madalena, de quem foram expulsos sete demônios.

Uma das razões pelas quais o Senhor veio ao mundo e assumiu o Humano foi para efetuar a obra de redenção da humanidade, e essa obra consistiu em libertar os seres humano do poder dos espíritos demoníacos, poder esse que então havia chegado a tal ponto que eles infestavam o mundo espiritual e natural ao mesmo tempo, apoderando-se de humanos indefesos. Aquelas obsessões vistas no mundo eram apenas uma parte, uma amostra, da infestação que então empesteava o mundo espiritual. A expulsão de demônios que Ele fazia na terra de Canaan era, portanto, a representação visível da obra de subjugação e expulsão de sociedades de espíritos infernais que estavam ocupando as regiões celestiais.

Lemos na obra VRC 117 que a subjugação dos Infernos pode ser ilustrada “por comparações com um exército de bandidos ou de rebeldes que se apoderam de um reino ou de uma cidade e incendeiam as casas, despojam os habitantes de seus bens, partilham entre si o saque e em seguida se regozijam e se gloriam. E a redenção mesma pode ser ilustrada por comparação com um Rei justo que ataca esses bandidos com seu exército, passa uma parte a fio de espada, lança a outra nas prisões, lhes arrebata o saque e o restitui aos habitantes, depois restabelece a ordem no reino e o põe ao abrigo de uma invasão semelhante.”

A redenção foi o resgate da raça humana desse cativeiro dos infernos e a restauração de sua liberdade espiritual. E todos tendo sido resgatados, todos podiam então ser salvos. Por isso, redenção não deve ser confundida com salvação, pois enquanto a redenção é esse livramento e restauração da liberdade coletiva, a salvação é a obra semelhante efetuada no plano do indivíduo, quando ele se deixa resgatar de seus próprios males pelo Salvador. Todos fomos resgatados a fim de podermos escolher, em liberdade, se queremos em seguida ser salvos ou não.

Quando Ele subjugou os infernos, a obra de redenção foi cumprida e, consequentemente, a obsessão corporal cessou no mundo.

Mas os efeitos da redenção não foram imediatos, porque durante algum tempo continuou havendo algumas obsessões aqui e ali na Terra, conforme lemos no livro histórico dos Atos. Nesse livro, lemos que em Filipos, cidade da Macedônia, Paulo e Silas estavam anunciando o evangelho, e havia ali uma moça possuída por um espírito de adivinhação. Parece que essa moça era escrava ou criada de algumas pessoas, e os seus donos a usavam para fazer adivinhações e com isso tinham grande lucro. Durante muitos dias ela seguia os apóstolos por toda parte, dizendo: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo.” Um dia, porém, Paulo se irritou com aquilo e ordenou ao espírito, em nome de Jesus, que saísse da moça, e na mesma hora ele saiu. (Atos 16:16-18).

Lembremos, também, que Jesus, pouco antes de sua ascensão, havia dito: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios etc.” (Mar 16:15-17). Ora, Ele não mandaria que se expulsassem demônios se não houvesse mais demônios que expulsar. E vimos essa palavra se cumprir com os discípulos, especialmente com Pedro e Paulo, que ressuscitaram pessoas e, quanto a Paulo, os maus espíritos eram expulsos até pelo toque de peças de roupa que Paulo usava (vide Atos 19). Então, ao menos durante algum tempo, a possessão física por maus espíritos continuou na Terra, até cessar completamente.

O mesmo se deu, aliás, em relação às profecias. Porque Jesus disse “A Lei e os Profetas, até João” (Lucas 16:16), e daí se pode entender, literalmente, que as profecias duraram até João e cessaram nele. Porém, notemos que no dia de pentecostes, bem depois da morte de João, muitos profetizaram, em cumprimento da profecia de Joel. E o ofício de profeta continuou existindo na igreja primitiva, como o apóstolo Filipe, de Cesaréia, que tinha quatro filhas que eram profetas (21:9), e também como o profeta Ágabo, que veio da Judéia para se encontrar com Paulo na mesma Cesaréia, e ali anunciou as coisas que aconteceriam ao apóstolo, se ele fosse a Jerusalém. E o parâmetro que temos para saber se o profeta fala por Deus foi dado em Deuteronômio 18:22: “Sabe que, quando esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele.” E as profecias de Ágabo sobre Paulo de fato aconteceram.

Além disso, que a atuação de espíritos malignos tenha continuado ainda por algum tempo, é o que concluímos pela carta do apóstolo João, falando à igreja que não se deixassem desviar por espíritos enganadores: “Nisto conhecereis o espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; e tal é o espírito do Anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e já agora está no mundo.” (1 João 4:2, 3).

Pelo fato de ainda persistirem as obsessões, havia também alguns exorcistas ambulantes, judeus que saíam expulsando demônios em nome de Jesus. Mas nem todos os seus exorcismos eram bem sucedidos. Certa vez, na cidade de Éfeso, deu-se uma situação constrangedora. Havia ali um chefe dos sacerdotes chamado Ceva, que tinha sete filhos. E esses moços foram expulsar um demônio, dizendo: “Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega”, mandando que o espírito saísse. Mas o espírito maligno, respondendo, disse: “Jesus eu conheço, e Paulo bem sei quem é; mas vós, quem sois? E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno e dominando dois, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa. E foi isto notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos.” (Atos 19:11-17).

 Mas, enfim, gradativamente os efeitos das obras de Redenção Divina se fizeram sentir no mundo, e essas atuações malignas ficaram mais esparsas e raras, porque as sociedades infernais que atuavam por meio de espíritos intermediários agora estavam encerradas, como profetizou o salmista sobre a obra redentora do Senhor, dizendo: “Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os homens e até para os rebeldes, para que o SENHOR Deus habitasse entre eles.” (Salmo 68:18). E Paulo, em sua carta aos Efésios (4:9), explicou esse: “Ora, isto - ele subiu - que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra?”, falando de até onde o Senhor desceu, no mundo espiritual, para combater os infernos e subjuga-los.

Portanto, depois do tempo da Igreja primitiva, dos apóstolos, e especialmente hoje, esse tipo de obsessão não existe mais. Um espírito maligno não pode mais se apoderar do corpo e dos sentidos de uma pessoa, como antigamente. A obsessão externa não existe mais hoje em dia.

Eu sei que alguém poderia me questionar, chamando a atenção para os casos de expulsão de demônios que se veem comumente, sobretudo nas igrejas pentecostais. Mas é evidente que essas ocorrências que se veem nos cultos e na TV são bem diferentes daquelas obsessões externas que havia no passado. O que acontece hoje é apenas no plano mental. De modo geral, são pessoas simples, crédulas, que são facilmente sugestionáveis, e elas acreditam sinceramente quando alguém lhes diz que estão possuídas por maus espíritos, e se submetem a um pretenso exorcismo. Muitas vezes, essas pessoas ficam tão persuadidas de que estão mesmo possessas que até imitam as obsessões do passado, falando e agindo como diabos.

Mas a diferença principal é que a pessoa assim persuadida ainda mantém o controle de sua mente e pode, sempre que quiser, deixar essa persuasão, pois não está presa como os possessos da antiguidade. Trata-se somente de uma submissão mental que, infelizmente, é explorada por ignorância ou por outros interesses.

Todavia, o que hoje existe é, sim, a obsessão interna.

Os maus espíritos não podem mais dominar o natural, mas podem atuar na mente do indivíduo, e fazem isso “rompendo todas as restrições internas, que são as afeições pelo que é bom e verdadeiro, direito e justo; o temor da lei de Deus e um sentido de vergonha em prejudicar a sociedade e ao país, quando a pessoa passa a fazer isso desbragadamente, esta está obsedada por espíritos malignos”. "Muitos hoje são possuídos por esses espíritos; pois há atualmente obsessões interiores (da vida do pensamento e das afeições do homem), mas não como obsessões exteriores de antes." ( AC 4793).

“Eles pervertem os bens e os veros e os inflamam com um certo fogo de cobiça e de persuasão, de sorte que o homem não sabe outra coisa, senão que ele está em uma semelhante cobiça e em uma semelhante persuasão.” AC 1820 [3]

Hoje, os espíritos malignos não podem causar cegueira física, mas podem, pelas falsidades insinuadas, fazer com que a pessoa queira ser cega espiritualmente falando, quando fecha os olhos para não compreender o que é justo, verdadeiro e honesto.

Não podem mais causar surdez física, mas podem fazer com que a pessoa se torne refratária aos ensinos da Palavra, e não dê dar ouvidos ao que o Senhor lhe diz.

Não podem atirar uma pessoa na água e no fogo, mas podem influir nas volúpias e incendiar as paixões da pessoa, e podem inundar o entendimento dela com falsidades.

Não podem mais curvar a coluna de ninguém, mas podem atrofiar o espírito de uma pessoa, voltando-o somente para as coisas baixas, egoísticas e mundanas, sem erguer o entendimento para as coisas do céu.

A obsessão interna acontece quando a pessoa se entrega a cobiças e falsidades sem qualquer restrição de consciência, quando se rende sem resistência alguma a sentimentos obscenos, criminosos, desejando tais coisas e praticando-as em espírito, ainda que as não pratique no corpo.

Aprendemos que existem dois tipos de vínculo para o procedimento do indivíduo: os vínculos internos e os vínculos externos. Os vínculos interno são os de consciência, e por eles a pessoa se abstém dos males por causa de motivos da religião, isto é, por serem contra as leis de Deus e contra o amor ao próximo. Os Dez Mandamentos estabelecem esses vínculos internos no nosso espírito. Então, quando alguém se abstém do mal por causa desses vínculos internos, ela efetivamente deixa de fazê-lo no corpo e no espírito.

Já os vínculos externos se referem à vida na sociedade e são meramente do corpo, como o receio de ser castigado, ou de perder a reputação, a fonte de ganho no mundo ou a posição na sociedade. São restrições que se referem somente à vida no mundo. Se a pessoa tiver somente os vínculos externos, ainda que ela se abstenha dos males na aparência externa, ela, não obstante, os pratica sempre e continuamente em seu espírito.

E se essa prática do mal no pensamento e na intenção se tornar um hábito, ela se torna como que viciada naquele mal e escravizada por algum mau espírito. Porque cada mal está ligado a uma sociedade infernal, da qual procede, por isso, a prática desenfreada e irrestrita do mal, mesmo que seja só interiormente, na vontade e no pensamento, associa a pessoa aos espíritos malignos daquela sociedade específica, e ela se torna interiormente obsedada por eles.

A obsessão interior, geralmente, acontece sem que a pessoa ou o espírito tenha noção disso. A pessoa não sabe que está obsedada por um espírito infernal que fomenta aquele mal, nem o espírito sabe que está naquela pessoa. Ambos compartilham o mesmo mal por uma relação discreta. Mas, quando a pessoa morre e entra no mundo espiritual, então ela vê a sociedade com a qual esteve ligada mais constantemente aqui, ou celeste ou infernal. E se ela se deixou obsedar pelos espíritos maus, com quem ela desenvolveu uma afinidade inconsciente, ela se sentirá em casa entre eles.

Sabemos que, assim como os vícios, há males que são mais difíceis de serem evitados, outros não tanto, dependendo da tendência hereditária ou do grau de enraizamento pela prática. Mas todo mal, uma vez reconhecido como tal, pode ser renegado, combatido e vencido, pelo poder que o Senhor proporciona. E existe uma fórmula simples para se fazer isso: basta que, quando a pessoa perceber o mal no pensamento e na vontade, dizer: “Eu quero isso, e tendo para isso; mas, como é um pecado contra Deus, não o farei”. Essa atitude fortalece os vínculos internos e depura a consciência.

Resistir ao mal, a penitência, pode ser difícil no começo, mas a persistência em se abster faz com o poder do mal vá gradativamente diminuindo, porque, à medida que o mal é combatido na vontade e no pensamento, o Senhor agirá de dentro, nas raízes do mal, a fim enfraquecer a sua influência danosa. Com o tempo, aquele determinado mal, que era como um vício e uma atração poderosa, como prazer da vida, sem o qual não se poderia viver, esse mal uma dia não será mais tão atraente; depois, parecerá um tanto desagradável; por fim, será algo que causa aversão, e a pessoa que foi liberta da obsessão daquele mal sentirá nojo, vergonha e horror, só de pensar que um dia foi subjugada àquilo. Este é o fim da obsessão interior.

Os apóstolos Tiago e Pedro já alertavam aos cristãos primitivos sobre o perigo dessa obsessão da mente, admoestando: “Sujeitai-vos, pois, a Deus. Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. (Tiago 4:7). “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pedro 5:8).

O perigo é real, mas, com a misericórdia do nosso Senhor, que veio ao mundo para ser nosso Redentor e Salvador, Jesus Cristo, temos a liberdade de resistir e de cooperamos com Ele na nossa libertação, nossa redenção individual. E, uma vez libertos de toda obsessão interior, devemos perseverar na vida de fé, dando passos firmes no caminho de nossa transformação espiritual.

 

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Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -