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A Doutrina dos Graus Primeira videoconferência de uma série sobre temas diversos das Doutrinas Celestes
“A palavra do SENHOR, que veio a Jeremias, dizendo: Levanta-te e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras. E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas. Como o vaso que ele fazia de barro se quebrou na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos seus olhos fazer. Então, veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? -- diz o SENHOR; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. (Jeremias 18:1 a 6). Um dos arcanos revelados nos Escritos de Swedenborg é a chamada doutrina dos graus, assunto de nossa apresentação de hoje. Veremos que há dois tipos de graus em todas as coisas existentes: os graus contínuos e os graus não contínuos, ou discretos. E veremos em que eles consistem individualmente e em que se diferenciam. O conhecimento da doutrina dos graus é da maior importância, pois “quem não sabe como se dá com a ordem Divina quanto aos graus não pode compreender de que maneira os céus são distintos, nem o que é o homem interno e externo”. Essa ciência dos graus é como uma chave com que se abrem as causas das coisas. Sem essa abertura, os objetos e sujeitos do universo natural e espiritual não se mostram em sua real natureza. Do conhecimento dos graus depende o conhecimento dos estados de reforma e regeneração do homem, porque o processo do nascer de novo é a abertura dos graus interiores da mente em determinada ordem. Esse conhecimento nos ajuda a compreender o influxo procedente do Senhor através dos céus até os homens; porque sem entender o influxo só podemos perceber os efeitos das coisas, mas não as suas verdadeiras causas. Vejamos, então, em que consistem esses graus. Primeiramente, o que são os graus contínuos. Graus contínuos são os graus de aumento ou diminuição da coisa. Por exemplo, aumento ou diminuição de luminosidade, desde a claridade até a escuridão; o esplendor da luz é o grau máximo e, conforme ela diminui de intensidade, muda-se em obscuridade e, finalmente, em escuridão. Toda a escala, da luz até a escuridão, é observável, pois progride continuamente, sem interrupção em suas fases. O aumento ou a diminuição da luz está em graus contínuos. Em graus contínuos está, também, a atmosfera, quando se torna mais densa ou mais rarefeita conforme a altitude varia. Também são contínuos os graus de calor, do mais frio para o mais quente, e vice-versa. Também em graus contínuos está a variação de espessura dos materiais, do mais delgado para o mais espesso, e assim por diante. Toda progressão que pode ser vista, percebida e medida num mesmo plano está em graus contínuos, que por isso são chamados também de graus de largura. O que determina a gradação é, portanto, a distância entre seus pontos extremos. Isto é conhecido no mundo. Mas os graus discretos ainda eram desconhecidos quando Swedenborg escreveu: “Que eu saiba, até o presente não se teve qualquer conhecimento dos graus discretos ou de altura... e, entretanto, coisa alguma do que concerne à causa pode se mostrar em sua verdade sem o conhecimento dos graus de um e outro gênero; ... o propósito deste opúsculo é que todas as causas sejam desvendadas, e por elas se vejam os efeitos, e assim sejam dissipadas as trevas em que está o homem da Igreja a respeito de Deus e do Senhor, e em geral a respeito dos Divinos que são chamados espirituais”. Quase todo mundo, ao ouvir falar de coisas interiores e exteriores do indivíduo, ou de suas coisas superiores e inferiores, pensa em uma ligação comum e contínua entre essas duas áreas, isto é, que os inferiores estão ligados aos superiores por contiguidade, ou, que o espiritual é um natural mais puro. Mas não é assim. As coisas interiores e superiores não são contínuas nem estão contíguas, mas se relacionam em graus discretos. A única relação entre elas é por influxo e correspondência. Vejamos um exemplo de graus discretos. Quando um artista vai pintar um quadro, primeiro ele cria em sua mente a imagem que irá pintar. A intenção e a imaginação de sua arte estão no plano mental, no primeiro grau discreto. Daí, quando pega os pincéis e começa a trabalhar, ele está transferindo aquela sua imagem mental para o esforço dos músculos da mão, e esta é dirigida pela mente em conformidade com a ideia já formada ali. Temos aí, portanto, o segundo grau discreto, o esforço na mão. E quando o artista termina sua obra, a tela pintada retratará a ideia que estava na intenção da mente e que, pelo movimento da mão, se manifestou na tinta sobre a tela. Temos, portanto, que a imaginação, no plano mental, o esforço muscular, no plano corpóreo para produzi-la, e a arte pronta, que é o material, são coisas homogêneas entre si. Assim, esses três planos se relatam em graus discretos, um correspondendo ao outro ou um produzindo o outro. Se fôssemos considerar somente o último grau, veríamos apenas a combinação de pigmentos químicos da tinta na superfície da tela, porque esse último grau é o único visível e tangível. Mas, normalmente, nem prestamos atenção à tela e a tinta em si, mas à imagem que o artista representou ou à ideia que ele quis transmitir. E vamos além, pois julgamos a habilidade ou o talento do artista no esforço que ele empregou para executar o trabalho. Isto quer dizer que, sem qualquer reflexão sobre isso, o que fazemos normalmente é, de fato, contemplar três níveis de coisas homogêneas que estão juntas na última da série discreta: 1- a imagem mental, 2 - o esforço nos músculos e 3 - a tela, embora somente esta, a parte material esteja de fato visível. Esta é uma relação entre o agente ou produtor, o meio pelo que produz, e o produto acabado. Um é formado pelo outro e as coisas que são assim formadas se relacionam de maneira discreta com as causas formadoras (AC 6326, 6465). Os elementos de uma relação discreta de graus são derivados um do outro, em série, como o fim, a causa e o efeito. O fim, ou propósito, produz a causa, e a causa produz o efeito. E isto se efetua por graus discretos. De fato, todas as causas estão no mundo espiritual, enquanto tudo no mundo natural é mero efeito. Tomamos o exemplo do artista, mas a Palavra nos traz um exemplo mais significativo, que é o do Oleiro e o vaso de barro. O Oleiro é o Amor de Deus; os Seus propósitos estão na ação da Divina Providência; e o barro somos nós. Antes de nos criar, Deus, por Sua previdência ou Onisciência, já previu o que nós seríamos, ou melhor, o que escolheríamos ser, no gozo do livre arbítrio. Então, por sua Providência Ele proveu os meios pelos quais Ele pode sempre nos conduzir a uma vida eterna feliz. Quaisquer que sejam nossas escolhas, Ele põe atalhos para o céu em nosso caminho, se quisermos tomar esses atalhos, e isso sem sentirmos a menor compulsão da Providência. E, se nos submetermos aos Seus desígnios, no processo de regeneração Ele nos irá moldando, como o Oleiro molda o barro, fazendo de nós um vaso, um utensílio útil a nós mesmos e aos outros, talvez precariamente neste mundo, mas plenamente na vida eterna. Todas e cada uma das coisas nos dois planos da criação, mundo espiritual e mundo natural, coexistem segundo os graus discretos e, ao mesmo tempo, segundo os graus contínuos. Nessa relação de graus discretos, também chamados de graus de altura, estão os três céus entre si, assim como o amor e sabedoria nos anjos e as faculdades interiores da mente do homem, conforme veremos abaixo. Voltando à ideia do artista e de seu quadro. Dissemos que, quando vemos uma pintura, também vemos, ao mesmo tempo, a habilidade e a imaginação do autor na obra acabada. Isto é exemplo de um princípio, a saber, que o primeiro grau está presente interiormente em tudo e em todas as coisas dos graus seguintes. É como se um estivesse dentro do outro, mas sem ocupar lugar no espaço. A relação é tal que os graus íntimos estão nos médios e estes estão nos exteriores. Lemos o seguinte na obra DES 39: “Pois que os Graus de altura ou discretos estão em uma Ordem sucessiva, podem então ser comparados a uma coluna dividida em três degraus para subir e descer, no estágio superior da coluna há coisas muito perfeitas e muito belas; no estágio do meio, causas menos perfeitas e menos belas; e no mais baixo, coisas ainda menos perfeitas e menos belas. Mas a Ordem simultânea, que consiste em graus semelhantes, tem outra aparência; nesta, os supremos da Ordem sucessiva, que são como foi dito, muito perfeitos e muito belos estão no íntimo, os inferiores no meio, e os ínfimos no contorno; estão como em um sólido consistindo nestes três graus, no meio ou no centro do qual estão as partes mais sutis, em torno deste centro as partes menos sutis, e nos extremos que fazem o contorno as partes compostas daquelas e por conseguinte mais grosseiras; é como esta coluna, de que se acaba de falar, se achatando sobre um plano, da qual o supremo faz o íntimo, o médio faz o meio e o ínfimo faz o extremo.” Quando usamos a referência “interior / intermediário / exterior”, estamos falando da ordem simultânea. E quando usamos a referência “superior / intermediário / inferior”, estamos falando da ordem sucessiva. Na imagem A, os graus discretos estão na ordem sucessiva. E na imagem B, na ordem simultânea. A mudança é somente quanto ao ponto de vista, porque, se foram abatidos num plano, os interiores são os mesmos superiores, os intermediários continuam como tais, e os exteriores são os mesmos que os inferiores. Na ordem sucessiva, os exteriores são a base e a sustentação dos seus homogêneos, os superiores. E na ordem simultânea, os exteriores contêm os demais. E é por isso que os exteriores são a base, a sustentação e o continente dos graus interiores ou superiores. Isto é mais bem exemplificado pela letra da Palavra. O sentido da letra é a base, o continente e a sustentação do sentido espiritual e do sentido celeste. Os sentidos interiores da Palavra estão encerrados na letra como a alma e o espírito estão no corpo. A letra da Palavra é comparada a um estojo que guarda pedras preciosas joias. E as pedras preciosas, em toda parte em que são citadas no Antigo e Novo Testamento, representam, as verdades da letra. Portanto, assim como o valor de um estojo vem das pedras preciosas contidas nele, assim também a Palavra, no sentido literal: ela é santa por causa das verdades que ali se encerram. Porque, quando se trata dos graus discretos, o último grau é o complexo, o continente e a base dos graus anteriores. Os graus são chamados discretos porque existem distintamente, como se não estivessem relacionados entre si, como se não houvesse intercessão ou transição entre si. Porque não se pode ver a relação entre eles a não ser por correspondência. Os três céus estão distintos por graus discretos ou de altura porque um está acima do outro, mas eles não se comunicam entre si a não ser por correspondência e pelo influxo que vem do Senhor e passa pelos céus em sua ordem até o mais baixo. Agora, em cada um dos céus, existem também os graus contínuos, ou de largura. Os anjos que estão no meio ou no centro das sociedades celestes estão na luz da sabedoria, mas os que estão nas periferias até aos limites estão na sombra da sabedoria. Assim a sabedoria dos anjos decresce até à ignorância, como a luz decresce até à sombra, e isto se faz pelo contínuo. Também os interiores da mente humana estão dispostos em graus discretos. O homem pode estar no grau mais baixo, ou no segundo ou no supremo da mente segundo o grau de sua sabedoria. Se estiver somente no grau mais baixo, ou natural, o grau superior ficará fechado. Os graus da mente são abertos conforme o homem recebe do Senhor a sabedoria e vive de acordo com ela. Mas, enquanto está no mundo, na mente natural, o homem não pode perceber as aberturas dos graus superiores de sua mente; só as perceberá quando deixar a vida terrena. Enquanto está aqui, o homem só percebe os incrementos em graus contínuos ou de largura no seu entendimento. Podemos ver uma relação de graus discretos também entre o corpo, o espírito e a alma humana. Quando um anatomista ou legista examina o corpo humano sem vida, tudo o que ele vê são tecidos da matéria inerte. Não vê sequer as funções, que cessaram de existir naqueles órgãos. E por mais profundamente que examine, nunca verá o caráter ou os traços da personalidade do indivíduo que habitava naquele corpo, porque isto pertence ao espírito, e o espírito se relacionava com o corpo por grau discreto, e não por grau contínuo. E, também, quando o homem ressuscita no mundo espiritual, se alguém examinar detidamente o seu espírito, nunca verá a sua alma, que é a região superior do espírito, a morada de Deus no homem, morada que é inacessível ao próprio homem. Dissemos acima que os graus discretos se relacionam entre si como o agente produtor e o que é produzido. Por esse motivo, na concepção do homem, a alma, o supremo, influi nos elementos mais puros da natureza no útero materno, que são os últimos dessa relação, e lá se reveste de um corpo. E quando o primeiro influi nos últimos, faz surgir os meios, que no caso é o espírito. Vemos isso na história da concepção do Senhor em Maria. Antes de o Senhor, como Jehovah, assumir o Humano tomado dos últimos da natureza, ainda não havia o Espírito Santo. Este, ou Consolador, só passou a existir plenamente quando o Senhor foi para o Pai, isto é, quando Seu Humano foi glorificado. Mas, desde o momento da concepção, já havia algo do Espírito Santo, procedendo da Alma Divina, o Pai, que gerava para Si o Humano em Maria. Por isso é que, quando Maria foi visitar sua prima, Elizabeth, o Espírito Santo moveu de alegria a João, no sexto mês de gestação, ainda no útero de Elizabeth, e ela mesma foi também cheia do Espírito Santo. Depois, quando o Senhor nasceu, essa trindade de Corpo, Alma e Espírito estava no íntimo Humano, como Deus em Seu Templo, e quem via o Senhor via o Pai. Foi dito que não existe comunicação direta entre os elementos que estão em diferentes graus discretos, mas influxo ou correspondência. Por isso os anjos de um céu não podem interagir diretamente com os de outro céu, e menos ainda o podem os anjos com o homem. “Mas o Senhor conjunge todos os céus por meio do influxo imediato e mediato. Pelo influxo imediato vindo de Si em todos os céus; e por um mediato, por meio de um céu no outro.” Mas, ainda que os níveis do grau discreto pareçam estar dissociados ou desconexos entre si, “nada há de desconexo, porque o influxo Divino faz que exista conexão desde o primeiro até o último”. É como uma corrente em que alguns elos são invisíveis. Mas é absolutamente necessário que haja conexão discreta entre todos, dos primeiros com os intermediários, e destes com os últimos, caso contrário tudo se dissipa e perece, pois o influxo Divino pelos graus é que transmite a vida, desde Ele mesmo, através dos superiores, passado pelos meios, até os inferiores. Na relação discreta de graus, ou de fim, causa e efeito, se acham também o amor, a sabedoria e o uso. “O amor é o fim, a sabedoria é a causa pela qual o amor age, e o uso é o efeito; e o uso é o complexo, o continente e a base da sabedoria e do amor”. Dá no mesmo dizer caridade, fé e boa obra, porque a caridade pertence ao amor, a fé é o receptáculo da sabedoria e a boa obra é o exercício do uso. Amor, sabedoria e uso são homogêneos, e, por conseguinte, caridade, fé e boa obra também o são. No uso ou nas obras que efetivamente se prestam estão reunidos o amor e a sabedoria, ou a fé e a caridade. Outra série de homogêneos que tem a mesma relação é a afeição, o pensamento e a ação, ou, vontade, entendimento e prática. Em resumo, em todas as coisas criadas em que há esse trino, de fim, causa e efeito, há uma relação discreta de graus, na qual os superiores estão presentes simultaneamente nos inferiores, e os inferiores são a base, o continente e a sustentação dos superiores. É por causa dessa ordem que entendemos o que o Senhor disse, que o reino de Deus está dentro de nós, e a igreja nas terras é a base dos céus. Por isso o Senhor provê para que na Terra exista pelo menos uma igreja onde a Palavra é lida e o Senhor é conhecido e adorado. Há muitos outros exemplos que poderiam ser trazidos, mostrando a relação dos graus discretos nas coisas e nas causas das coisas, mas quem refletir adequadamente irá descobrir várias outras situações onde essa relação de graus discretos está presente. Espero que os comentários e os exemplos aqui trazidos tenham servido para lançar luz sobre esse importante tema, que é abordado nas obras Céu e Inferno, Doutrina da Escritura Santa e, com mais abundante explicação, na Sabedoria Angélica sobre o Divino Amor e a Divina Sabedoria. Eu recomendo a leitura desses livros para que se tenha uma compreensão melhor deste assunto.
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