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O Livro de Gênesis

A Queda do Homem - IV

Décima terceira videoconferência de uma série

sobre o sentido espiritual do livro de Gênesis

"E chamou o homem o nome de sua esposa, Havah; porque ela será a mãe de todos os viventes. E fez Jehovah Deus para o homem e a sua esposa túnicas de pele, e os vestiu. E disse Jehovah Deus: Eis, o homem foi como um de nós, sabendo o bem e o mal; e agora talvez lance sua mão e tome também da árvore de vidas, e coma e viva eternamente. E Jehovah Deus o lançou fora do jardim do Éden, para cultivar o humo, do qual foi tomado. E expulsou o homem. E fez habitar, para o oriente do jardim do Éden, querubins, e uma chama de espada que girava ao redor, para guardar o caminho da árvore de vidas." Gênesis 3:20-24

 Estes são os últimos versículos do capítulo 3 de Gênesis, que trata especificamente da queda do homem, ou, da degeneração espiritual nos primórdios da raça humana deste planeta, como explica a obra “Arcanos Celestes”.

Este final de capítulo é uma recapitulação (AC 286) dos eventos, do modo como as pessoas, nascendo na ignorância completa, eram sucessivamente regeneradas, tornando-se espirituais, depois, celestes, e, por fim, de como elas declinaram da integridade primitiva até expirarem no dilúvio.

Sabemos que existem várias mitologias que falam de dilúvios, universais ou locais. Mais adiante pretendemos examinar o relato do dilúvio no livro de Gênesis, porque os Arcanos nos falam que esse dilúvio não deve ser entendido como um fato histórico, mas uma alegoria da inundação de falsidades que sufocou a vida espiritual do povo antiquíssimo.

(20) “E chamou o homem o nome de sua esposa, Havah; porque ela será a mãe de todos os viventes”. No versículo 20, são citados novamente o homem e sua esposa, Havah, e eles agora, tomados juntamente, significam o varão da Igreja Antiquíssima e a Igreja mesma. Ela é chamada Havah ou Eva por ter sido a primeira, e porque seria a mãe de todas as igrejas que viriam depois, e “mãe de todos os viventes” por causa da fé no Senhor, que é a vida mesma. Trata-se do “primeiro tempo, quando a Igreja estava na flor de sua juventude, representando o casamento celeste; por isso ela é também descrita por um casamento e [é] chamada Havah, de “vida”. (AC 291)

Quando dizemos Igreja, estamos nos referindo à corporação que existe espiritualmente, o reino do Senhor nos céus e nas terras (AC 289). Ela é comparada na Palavra à virgem, noiva, esposa, mulher e mãe, conforme o contexto e conforme o estado de conjunção entre o Senhor e as pessoas que compõem a Igreja.

Vers. 21: “E fez JEHOVAH DEUS para o homem e a sua esposa túnicas de pele, e os vestiu.” Anteriormente foi dito que, para ocultar sua nudez, eles se cobriram com folhas de figueira, porque, na simbologia da Palavra, a figueira significa o bem natural, a parreira significa o bem espiritual e a oliveira, o bem celeste. Então, quando o Senhor cose para eles túnicas de pele, em lugar das folhas de figueira, significa “que o SENHOR os instruiu no bem espiritual e natural”, significado pela “túnica de pele” (AC 292).

“Pela letra não parece que essas coisas sejam significadas aqui; mas é evidente que elas envolvem arcanos mais interiores, pois qualquer um pode saber que JEHOVAH DEUS não lhes faria túnicas de peles.” “Foi dito que foram “vestidos de túnicas de peles”, em razão de que os antiquíssimos se diziam estar “nus” por causa da inocência; e, depois, quando perderam a inocência, reconheceram que estavam no mal, que também se chama “nudez”. (AC 293, 295).

Enquanto esteve no jardim do Éden, o ser humano tinha sabedoria comparável à dos anjos e conhecia o que eram o bem e o mal. Mas, depois que seu proprium foi iludido pelas insinuações dos sentidos, seus olhos foram abertos e viram que estavam nus, isto é, reconheceram que, sem a inocência de serem guiados por Deus, eram por si mesmos desprovidos de qualquer sabedoria. O que a serpente lhes tinha falado fora um terrível engano. Além de NÃO se tornaram como Deus, perderam a sabedoria angélica que tinham e se condenaram a uma vida de sofrimentos.

 (22) “E disse JEHOVAH DEUS: Eis, o homem foi como um de nós, sabendo o bem e o mal. Temos de chamar a atenção aqui para um ponto muito importante neste versículo 22, que é a partícula: “O homem foi”, do verbo ser, pretérito perfeito. Deus diz que o homem “foi”, referindo-Se, obviamente, a um predicado que o homem teve, no passado, e não tinha mais no presente.

Isto nos parece bem claro e lógico. O verbo ser, no pretérito perfeito, “foi”, está no texto hebraico original, “ha-yah”. E tanto a antiga tradução Septuaginta quanto as versões Samaritana e Siríaca têm esse verbo no passado, “foi”. Outras traduções que têm esse verbo no tempo correto são a de Schimidius, de 1671, a espanhola de Ferrara, de 1553, e a de Swedenborg, na obra que estamos estudando.

Todavia, quase todas as outras versões da Bíblia traduzem esse verbo “foi” como “tornou-se”. Mas note-se que “foi” dá uma ideia, e “tornou-se”, outra. “Foi como nós” é porque no passado foi assim, e no presente deixou de ser. Mas, “tornou-se como nós” é dá a ideia oposta: no passado não era, mas agora se tornou como nós. Então, o que as traduções dizem, que “o homem tornou-se como um de nós” é o contrário do que diz o texto original hebraico - “o homem foi como um de nós”.

E outras traduções foram ainda mais longe, porque substituíram o “tornou-se” por “é”, “o homem É como um de nós”. No final deste artigo, que disponibilizamos para download, estou anexando um comentário de Adam Clarke, teólogo evangélico inglês do século XIX. Ele aponta esse erro grave da maioria das traduções, quando trocam o “foi como um de nós” por “tornou-se” ou “é como um de nós”. Ao fazerem essa troca, os tradutores acabam inadvertidamente dando crédito ao que a serpente havia dito: que o homem se tornaria como Deus; mas ela estava mentindo, pois o homem deixou de ser como Deus. É um pequeno detalhe, mas notem como o tempo de um verbo altera completamente o sentido original.

Outro ponto do sentido literal para o qual os Arcanos nos chamam a atenção, aqui, é o pronome que Deus usa: “O homem foi como um de NÓS, sabendo o bem e o mal”. Os Arcanos dizem: “Que JEHOVAH DEUS fale no singular e depois no plural, a razão é que por “JEHOVAH DEUS” se entende o SENHOR e, ao mesmo tempo, o céu angélico.” Isto nos reporta lá para o primeiro versículo do Gênesis, quando Deus é chamado pelo nome plural, Elohim, e, depois, quando Ele diz, também no plural, “façamos o homem”. Alguns até interpretam nesse plural a trindade de pessoas Divinas, mas os Escritos nos explicam, conforme já comentamos anteriormente, que o verbo no plural é porque, na regeneração do homem, o Senhor opera diretamente e indiretamente, com a participação ou cooperação dos anjos, com os quais o Senhor fala: “o homem foi como um de nós”.

“E disse JEHOVAH DEUS: Eis, o homem foi como um de nós, sabendo o bem e o mal; e agora talvez lance sua mão e tome também da árvore de vidas, e coma e viva eternamente”.

 “E Jehovah Deus o lançou fora do jardim do Éden, para cultivar o humo, do qual foi tomado. E expulsou o homem. E fez habitar, para o oriente do jardim do Éden, querubins, e uma chama de espada que girava ao redor, para guardar o caminho da árvore de vidas

Anteriormente, no processo de sua formação celeste, o homem progredia sucessivamente por seis estados até alcançar o estado celeste de amor e sabedoria angélica. Mas, depois da queda, como ele passou a ser guiado e motivado por amores egoísticos, foi-lhe vedado o acesso à sabedoria.

Mas essa proibição ou impedimento se deu para o bem do homem mesmo, porque, se permanecesse na sabedoria original e, ao mesmo tempo, nos amores corporais, ele perverteria o conhecimento e o usaria para o mal. O acesso à sabedoria angélica foi vedado a ele a fim de evitar a profanação do sagrado. Por isso, que “não lançasse mão e tomasse da árvore de vidas” é que não devia instruir-se nos mistérios da fé, pois assim nunca poderia ser salvo na eternidade, o que é “viver eternamente”.

“E Jehovah Deus o lançou fora do jardim do Éden, para cultivar o humo, do qual foi tomado. E expulsou o homem. E fez habitar, para o oriente do jardim do Éden, querubins, e uma chama de espada que girava ao redor, para guardar o caminho da árvore de vidas. “Ser expulso do jardim do Éden” é ser privado de toda inteligência e sabedoria; “cultivar o humo, do qual foi tomado” é tornar-se corpóreo, tal como foi antes da regeneração. “Fazer habitar, para o oriente, querubins” é prover para que não possa entrar em algum arcano da fé, pois o “oriente do jardim do Éden” é o celeste do qual procede a inteligência; pelos “querubins” é significada a providência do SENHOR para que um tal homem não entre nas coisas que são da fé; pela “chama da espada que se virava” é significado o amor próprio com suas cobiças insensatas e as persuasões daí, que são tais que ele realmente quer entrar, mas é arrastado para longe, para as coisas corpóreas e terrestres, e isso “para guardar o caminho da árvore de vidas”, isto é, para que não possa profanar as coisas santas.”

A imagem de querubins com uma chama de espada que girava para todo lado é uma imagem poderosa; chega a ser assustadora, uma ameaça a quem se atrevesse a andar por aquele caminho e chegar lá.

É comum, na letra da Palavra, que ações, atitudes, decisões e palavras sejam imputadas a Deus, como se Deus estivesse fazendo e falando aquilo. Por exemplo, aqui, quando se diz que Deus costurou vestes de peles. Os Arcanos dizem que “qualquer um pode ver que Deus não ia costurar peles”. Mas é dito assim para que as pessoas simples e as crianças entendem com simplicidade. Outro motivo, também, é que o homem seja convencido quanto ao poder e o governo de Deus sobre todas as coisas, mesmo que o homem seja levado a essa crença, no princípio, pelo temor. Daí é que a letra da Palavra às vezes pinta uma imagem do Divino com cores escuras, retratando um Deus com semblante fechado, temperamental, às vezes ciumento, raivoso e vingativo. Um querubim portando uma espada de fogo é uma dessas imagens fortes, juntamente com o banimento do homem.

Mas a mente da criatura humana pode ser elevada até à compreensão das coisas sob uma luz celeste. E, quando o entendimento é elevado, por pouco que seja, acima do nível da letra da Palavra, pode-se então ver que há na Palavra verdades e aparências de verdade, e que as aparências de verdade existem para se acomodar à compreensão dos simples. Ao mesmo tempo, as aparências de verdade são como vasos que contêm um sentido genuíno ou espiritual. E quando o sentido espiritual é aberto, é como se um vidro que estava embaçado fosse de repente limpo e permitisse a visão das coisas com clareza. E a claridade, em relação a Deus, é que Ele é o Amor mesmo, a Misericórdia mesma. Sua essência é o amor, e dela não pode proceder senão o bem.

Desta maneira, esses querubins postados no caminho com espada de fogo são imagens simbólicas, representando a proteção que a Providência do Senhor institui. Proteção para quem? Quem é protegido? Podíamos pensar que Deus está protegendo a árvore de vidas, ou a Palavra, ou o Jardim, ou até Ele mesmo. Mas o fato é que, quando pôs um obstáculo no caminho da inteligência espiritual, Ele estava protegendo unicamente o próprio homem.

É óbvio que não existe e nunca existiu um tal jardim material, diante do qual Deus pudesse postar um querubim para impedir o acesso. Os céus estão sempre protegidos pela esfera celeste do Divino Amor porque os maus espíritos não ousam se aproximar. Tampouco Deus precisa de proteção alguma de anjo ou querubim, pois nem homem algum nem inferno algum pode causar qualquer dano a Ele. Os abusos, as ofensas, as blasfêmias que o homem e o diabo fazem a Deus voltam-se contra eles mesmos e fazem mal a eles mesmos. Ofensas e blasfêmias a Deus são como a estupidez de se lançar pedras no céu. Elas naturalmente retornam e algumas podem cair na própria cabeça de quem as atira.

Então, Deus guarda o caminho de acesso à árvore de vidas porque, se o homem abusasse dos bens e verdades celestes, sua condição se tornaria pior, profanando o que é sagrado. Lemos nos Arcanos:

“Se eles tivessem sido instruídos nos mistérios da fé, pereceriam eternamente, o que é significado por estas palavras: “Agora talvez lance sua mão, e tome também da árvore de vidas, e coma, e viva eternamente”. Eis como se dá: quando os homens se tornam ordens invertidas da vida e não querem viver e saber senão por si próprios, então, tudo o que ouvem do que pertence à fé, sobre isso raciocinam se a coisa é assim ou não. E, como o fazem por si mesmos, seus sensuais e seus conhecimentos, não podem deixar de negar, e quando o negam, também blasfemam e profanam. E por fim não se preocupam se misturam coisas profanas com as santas. Quando o homem se torna assim, então, na outra vida, ele é tão condenado que não há esperança alguma de salvação. Porquanto o que foi misturado por profanações mantém-se misturado, de modo que, tão logo sobrevém alguma ideia do que é santo, uma ideia profana se apresenta e também se conjunta, o que faz que não se possa ficar em nenhuma outra sociedade, senão a dos condenados.”

E os Arcanos continuam falando que esta foi a razão pela qual os arcanos da não foram revelados antes de Seu Advento, pois as pessoas eram tais que não os podiam recebê-los sem risco de profanação. “É isso o que se entende pelo que o SENHOR diz em João: “Cegou-lhes os olhos e fechou-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e Eu os cure” (12:40), e pelo fato de que o SENHOR falou com eles por parábolas e não lhes explicou coisa alguma, “para que, vendo, não vissem, e ouvindo, não ouvissem e entendessem”, como Ele mesmo disse em Mateus 13:13. É também por esta razão que todos os mistérios da fé lhes foram ocultos e encobertos sob os representativos de sua Igreja; e o estilo profético é tal devido a essa mesma razão. Mas uma coisa é saber e outra coisa é reconhecer. Quem sabe e não reconhece, esse é como se não soubesse. Quem, todavia, reconhece e depois blasfema e profana, esse é o que se entende por aquelas palavras do SENHOR.” (AC 302)

Os querubins significam, então, a providência cuidadora do SENHOR (AC 308) para impedir que a pessoa entre nos mistérios da fé, no caminho da inteligência espiritual, enquanto essa for levada por motivos meramente próprios, ou cega pelas ilusões dos sentidos, pois então haveria risco de piorar sua condição na vida eterna.

 Mas o acesso à sabedoria celeste não está fechado para a pessoa que se aproxima com uma atitude digna, que é o humildade reconhecimento de sua pequenez diante da grandeza do Altíssimo. Quando Moisés estava pastoreando rebanho no Monte Sinai, ele viu um espinheiro, uma sarça, que se queimava sem se consumir. Ele quis chegar mais perto para ver, mas o Senhor lhe disse, desde a sarça: “Tira os calçados dos teus pés, porque o lugar onde pisas é terra santa”. A atitude digna ao nos aproximarmos do Divino é tirarmos os sapatos, que significa remover de nosso entendimento o poder das coisas dos sentidos. É deixarmos de lado a crença em razões e valores que são meramente humanos; é afastarmos o orgulho da própria inteligência, quando essas coisas controlarem nossos pensamentos e nossas afeições, e assim reconhecermos que as verdades Divinas são as verdadeiras lâmpadas para nossos pés e luz para nossa sendas. (Vide AC 6844). Porque, quando nos esvaziamos de nosso eu, podemos nos aproximar do nosso Senhor com reverência e humildade, para recebermos d’Ele a água da vida e o pão que nos alimenta para a vida eterna.

Ele é a única Fonte de vida, e nós somos receptáculos da Vida.

Ele é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, e nós fomos criados para sermos imagens e semelhanças d’Ele; e nos tornamos imagem quando em nosso entendimento recebemos a fé que vem d’Ele, e em nossa vontade recebemos a caridade, que vem igualmente d’Ele. Nossa disposição para recebermos a fé e a caridade através de Sua Palavra é o caminho para a árvore de vidas que estará sempre aberto para nós.

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Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -