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O Livro de Gênesis A Queda do Homem - II Décima primeira videoconferência de uma série sobre o sentido espiritual do livro de Gênesis
"E ouviram a voz de Jehovah Deus passando no jardim, na viração do dia. E o homem se escondeu, e a esposa dele, da face de Jehovah Deus, no meio da árvore do jardim. E clamou Jehovah Deus ao homem, e lhe disse: Onde tu estás? E disse: Tua voz ouvi no jardim e temi, porque eu estou nu, e me escondi. E disse: Quem te deu a saber que tu estás nu? Ou não comeste da árvore de que te ordenei que não comesses dela? E disse o homem: A mulher, que deste [para estar] comigo, ela me deu da árvore, e comi. E disse Jehovah Deus à mulher: Por que fizeste isso? E disse a mulher: A serpente me enganou, e comi. E disse Jehovah Deus à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita tu [serás] mais do que toda besta, e mais do que toda fera do campo. Sobre teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias de tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre tua semente e a semente dela; Ele te pisará a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar." (Gên. 3:8-15)
Na palestra anterior, vimos como essa história, no sentido espiritual, não trata, de fato, de homem, mulher, serpente ou fruto fisicamente, mas da quarta descendência do povo antiquíssimo, e de como aquele povo se deixou iludir pelas ilusões dos sentidos. Eles desejaram ser sábios por sua própria inteligência e desprezaram a real sabedoria que vem de Deus. Enquanto a humanidade estava na integridade, foi representada por Adão; a sua sabedoria angélica foi descrita pelo Jardim, suas árvores, rios e pedras preciosas; o pleno autoconhecimento que tinham a respeito de si mesmos foi representado pelo fato de Adão dar nome a todos os animais, porque os animais representam as afeições da vontade; as aves representam as coisas intelectuais que eles tinham; e mesmo quando declinaram um pouco daquela integridade primitiva e quiseram ter um proprium, simbolizado pela mulher, eles sabiam exatamente que esse proprium era uma vida como se fosse sua, à parte da vida Divina. Mas, por causa desse proprium, ou o seu ego, aquele povo começou a se voltar cada vez mais para si mesmos e foram finalmente atraídos e traídos pelos enganos dos sentidos. O amor de si desejou ser sábio por si mesmo, pelos conhecimentos dos sentidos, pelas ilusões corporais e terrestres, e achou que podia ser tão sábio quanto Deus. E o resultado foi que, em vez de serem como Deus, descobriram que estavam despidos, isto é, desprovidos de toda verdade e todo bem que tiveram antes. Os seus olhos se abriram, mas não para uma sabedoria Divina, como a serpente dissera, mas para a baixeza da condição humana quando age contra a Ordem de Deus. Lemos que, na viração do dia, o Senhor passa pelo Jardim. Adão ouve a sua voz, tem medo e se esconde no meio da árvore do jardim, envergonhado, porque estava nu. O Senhor chama por ele e pergunta: “Onde estás?” A viração do dia é o período de sombra, da mudança que acontece, o declínio para a quarta descendência daquele povo ou da Igreja Antiquíssima. Adão ouvir a voz de Deus significa que aquele povo ainda tinha um resto de percepção, que mais tarde se tonaria a consciência. É na consciência que Deus nos fala hoje. Mas esse resíduo de percepção se tornou quase nada, pois Adão, na sua tolice, tentou se esconder de Deus, esquecendo de que Deus é onisciente e onipresente. Ele se escondeu no meio da árvore do Jardim. Isto significa que aquela geração, quando percebeu o ditame de Deus, reconheceu que estava no mal e tentou se ocultar atrás do bem natural, isto é, a bondade civil e moral, que é o verniz da vida em sociedade que usamos para que nossas reais mazelas espirituais não apareçam. A bondade natural pode até ser um anteparo que esconde o caráter pecaminoso do ego, mas é somente uma capa com a qual tentamos cobrir nossa real natureza. A voz do Senhor é esse aviso que ouvimos na consciência, quando reconhecemos que tivemos um comportamento reprovável, uma ação egoística, uma atitude soberba, uma arrogância ou um desdém pelo nosso próximo; enfim, um pecado contra Deus. O Senhor bem sabe o que fizemos e porque o fizemos. Mas, Ele nos chama, “Onde tu estás?”, para que, pela introspecção ou autoexame, reconheçamos a indignidade de nossos atos e nos separemos deles. Deus pergunta não porque Ele não sabe a resposta, mas para nos dar oportunidade de nos examinarmos, vermos e reconhecermos os males e tomarmos a resolução firme de nos abstermos deles. Se fizermos isso, estaremos praticando a real penitência. Somente assim podemos melhorar nosso caráter e adquirir a vida espiritual. Porque a Palavra nos ensina que o pecado é a doença da alma. Lemos no Salmo 41:4: “Eu dizia: SENHOR, tem piedade de mim; sara a minha alma, porque pequei contra ti.” A penitência do mal é o remédio para a cura de nossas almas. A inquirição do Senhor por meio da consciência nunca é para condenar. Ele põe o dedo em nossa ferida não para nos fazer sofrer, mas para curá-las. Adão se escondeu das faces de Jehovah, e os Arcanos falam que “Como as “faces do SENHOR” são a misericórdia, a paz e todo bem, vê-se que Ele nunca olha para pessoa alguma a não ser com misericórdia, e nunca desvia Sua face de alguém, mas é o homem que desvia a sua face quando está no mal. É como foi dito pelo SENHOR em Isaías: “São vossas iniquidades que fazem separação entre vós e vosso DEUS, e vossos pecados fazem ocultar de vós as faces” (59:2). Assim também aqui, que eles se “esconderam da face de JEHOVAH porque estavam nus”. O Senhor faz outra pergunta a Adão: “Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” Nessa hora, em vez de Adão admitir sua desobediência e fazer confissão, ele tenta se isentar da responsabilidade e lança a culpa, primeiro, diretamente na mulher e, depois, indiretamente, em Deus: “A mulher, que deste [para estar] comigo, ela me deu da árvore, e comi.” Daí surgiu um padrão muito comum de comportamento do ser humano: não assumir responsabilidade por seus erros e lançar a culpa nos outros. O mal que a pessoa pratica deliberadamente, ou o mal ativo, é resultante das concupiscências do amor de si ou do mundo. Mas admitir o mal é coisa que não agrada o ego. É a nudez de que se envergonha. É tendência natural do ser humano pôr a responsabilidade nos outros, na esposa, no marido, nos pais, nos amigos, na influência ruim do ambiente, nos mau tratos de que foi vítima na infância, nas circunstâncias da vida, no destino e até próprio Deus, que a fez assim e não de outra maneira Todo ser humano tem inclinações hereditárias para o mal, o chamado mal hereditário, mas elas são somente tendências. Ninguém é condenado por causa das inclinações, porque ninguém escolhe a sua hereditariedade. Mas torna-se culpado se permitir que as inclinações hereditárias para o mal se transformem males ativos. Se meus pais e avós fizeram o mal, não significa que estou obrigado a fazer o mesmo. Isto está bem claro no livro do profeta Ezequiel 18:20: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.” A hereditariedade é somente uma base em que devo edificar minha própria personalidade. E existe também uma hereditariedade boa, ou uma disposição natural para o bem e que se chama bem natural (AC 6208, 8002), mas este é como a árvore em que Adão se esconde, e não tem vida espiritual em si, pois é um bem que o homem atribui a si mesmo. “A mulher que Tu deste”... E acusa indiretamente o próprio Deus a pessoa que culpa o destino ou as circunstâncias como forças mais poderosas do que ela, contra as quais não pode lutar. Maldizendo a sua “má sorte” ou o destino ela está, de fato, maldizendo a Deus, como se Ele fosse injusto com ela. Mas, por que as pessoas, sob as mesmas circunstâncias adversas da vida, têm comportamentos e atitudes diferentes? Se fosse verdade que a hereditariedade prepondera, os irmãos não teriam, às vezes, caracteres e vidas tão diferentes. O fato é que as pessoas têm o livre arbítrio e, por isso, têm atitudes diferentes diante das mesmas situações, fraquezas e adversidades. Mas a resistência para superar as dificuldades vem, em primeiro lugar, do reconhecimento de sua invalidez e de sua fraqueza e, depois, da perseverança em buscar o auxílio Divino em oração, o socorro do Altíssimo. Porque as circunstâncias, as concupiscências e os males podem são mais fortes do que nós, porém Deus é mais forte do que tudo, e Ele está pronto para nos ajudar e fortalecer. Infelizmente, na maioria das vezes, nós, filhos de Adão que somos, custamos a admitir nossa responsabilidade e nossa culpa. A culpa é sempre de algum outro, não minha. O correto seria encararmos corajosamente as falhas de caráter que precisamos corrigir, os males que adoecem nossas almas, e nos humilharmos diante de Deus, pedindo o auxílio Divino que nos cura interiormente. Porém, é mais conveniente e mais fácil abafar a voz da consciência e não pensar mais no erro cometido. Outros, quando ouvem a voz na consciência apontando um mal, procuram esconder sua nudez em técnicas de autoajuda que enaltecem somente o lado bom, as coisas positivas do indivíduo, sem nunca encarar o seu lado medonho. Focalizar o pensamento na própria bondade sem admitir a natureza pecaminosa é tentar, como Adão fez, se esconder da voz de Deus, no meio da árvore. Qualquer esforço que fizermos para nos convencermos de que somos bons, de que não temos males, é um tratamento equivocado do problema, pois só justifica e desculpa qualquer vício de caráter da pessoa, e assim a transforma, magicamente, de ré da própria consciência, em vítima. Enquanto não confessarmos nossos males diante de Deus, permaneceremos doentes, e qualquer abordagem que não seja uma humilde confissão é um paliativo para a cura da alma; é, de fato, somente cobrir com gaze um tumor maligno, por medo da cirurgia que pode removê-lo. O Senhor não acusa ninguém, nem a ninguém imputa o mal. E nós também não devemos fazer isso. Mas é uma lei espiritual que cada mal traz consigo a sua pena. E se nós sentimos remorso pelo mal, isto vem do mal praticado e não de Deus. Por isso, se por um lado não devemos acusar e condenar os outros, também não nos cabe aliviar o remorso de consciência dos outros, inocentando-a do mal, ou dourando a pílula, por assim dizer. Pois a Palavra nos diz em Isaías 5:20: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!” A nossa única escapatória é, quando ouvirmos a voz de Deus na consciência: “Onde tu estás?”, devemos olhar para dentro de nós, reconhecer o mal, suplicar o auxílio o auxílio Divino para a verdadeira cura, como o salmista diz: “Sara a minha alma, porque pequei contra ti”. Quando buscamos compreender a Palavra de Deus em seu sentido interno, o que estamos buscando é a verdade espiritual que nos ensina claramente sobre como é nossa constituição espiritual, e isto nos leva ao tão almejado autoconhecimento. É a conscientização de nosso real ser, do nosso proprium, de quem nós somos e de quem Deus é. Aprendemos que o racional está numa posição mais elevada em relação ao proprium e, por isso, tem uma visão mais clara a respeito do que esse proprium ou ego realmente é: são afeições, inclinações, desejos e paixões; são meras emoções, que não enxergam, não pensam. Mas o racional vê, reconhece e discrimina o que esses sentimentos e tendências de fato são. E, não só isso: o racional esclarecido pode discernir entre as tendências recebidas por hereditariedade, por um lado, e, de outro lado, as afeições más, as cobiças, e os males ativos que foram acrescentados pela prática. O papel do entendimento deve ser, primeiro, o de perceber o desejo da cobiça preponderando no seu proprium e resistir, para que a cobiças não impere. O entendimento pode ver, corrigir e subjugar as concupiscências na vontade, e também pode identificar a insinuação do mal, a voz da serpente, iludindo os sentidos. É somente o racional esclarecido pelas verdades que pode desmentir as falsidades e ilusões dos sentidos que seduzem o proprium, para que este se rebele contra o seu Criador. Lemos na carta de Tiago: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. (Tg 1:13-14). Deus não tenta, não amaldiçoa, não castiga, não lança no inferno. A essência d’Ele é o amor. E Ele não age contra a sua essência. Mas é dito na Palavra que Deus amaldiçoa e castiga para que o homem aprenda reconheça que Deus governa todas as coisas, e, depois, quando for mais instruído na verdade, aprenda que o mal vem da criatura humana e não do Criador. “E disse Jehovah Deus à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita tu [serás] mais do que toda besta, e mais do que toda fera do campo. Sobre teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias de tua vida. “Qualquer um pode ver que JEHOVAH DEUS não teria Se dirigido a uma serpente, e não teria havido serpente alguma, nem que Ele Se dirigiu ao sensual que foi significado pela serpente, mas que essas expressões envolvem outra coisa, a saber, que eles perceberam que foram enganados pelos sentidos e, como tinham amado a si mesmos, tinham desejado saber se era verdadeiro o que tinham ouvido sobre o SENHOR e sobre a fé n`Ele, e, assim, é que quiseram crer pela primeira vez. O mal da Igreja ...é que as pessoas não creem no SENHOR ou na Palavra, mas em si mesmas e nos sentidos; daí não há fé alguma. E quando não há fé, não há nenhum amor ao próximo, e, assim, tudo é falso e mal. Na Igreja Antiquíssima, antes da queda, os sentidos corporais eram instrumentos de elevação dos níveis superiores da mente, porque tudo que era percebido pelos sentidos no mundo ao redor servia de instrução acerca de coisas espirituais. Mas, depois da queda, as informações que chegam pelos sentidos não recebem mais o influxo da percepção, mas se limitam a uma visão materialista das coisas. O homem acha que a verdade é aquilo que ele pode perceber pela visão e audição, e duvida de tudo o que não pode provar pelos sentidos. Assim é que as informações dos sentidos, ou da serpente, se tornaram um empecilho para a fé, e por essa razão pela a serpente é amaldiçoada, isto é, que o nível sensual do indivíduo se desviou do celeste e se voltou para o corpóreo, que em si mesmo é morto. “A serpente “andaria sobre o ventre” é que o sensual não podia mais olhar para cima, para as coisas celestes, mas para baixo, para as coisas corporais e terrestres. Que “comeria pó todos os dias da vida” é que o sensual tornou-se tal que não podia viver senão das coisas corporais e terrestres, e, assim, tornou-se infernal.” E agora vem a explicação do versículo 15: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre tua semente e a semente dela; Ele te pisará a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar”. Esta é a primeira profecia a respeito da vinda do Senhor; a fé no Seu Humano é chamada a semente da mulher, e Que Ele pisaria na cabeça da serpente significa que só Ele poderia dominar o mal em geral e o amor de si em particular, e Ele domina o mal no homem que Se deixa regenerar pela Palavra. Há muito mais que dizer a respeito das palavras que o Senhor dirigiu, primeiro à serpente, depois à mulher, e por último ao homem. No sentido literal, essas palavras parecem maldições, ou como se o Senhor os estivesse amaldiçoando e condenando. Mas, no sentido interno, essas palavras não são maldições, mas previsões. Porque a Divina Providência prevê o que o homem será e, então, provê todos os meios de que o homem necessita para reformado. Em vez de maldição, vemos aí, então a Providência e a Misericórdia Divinas atuando para resgatar o homem caído, provendo os meios, prometendo desde já que o mal seria subjugado quando Ele viesse ao mundo para esmagar a cabeça da serpente e resgatar o ser humano. Mas teremos de dedicar mais tempo para estudarmos com o devido cuidado, com a atenção que o assunto merece, e, portanto, teremos mais uma palestra a respeito deste tema, a queda homem, e assim poderemos obter mais proveito em nosso estudo. Muito obrigado.
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