Desde 2001, um website dedicado à divulgação dos Escritos teológicos de Emanuel Swedenborg (1688-1772).
Literatura :: Estudo Bíblico :: Biografia de Swedenborg :: Contatos :: Sermões :: Tópicos :: Swedenborg website :: Links

PÁGINA PRINCIPAL  |  ÍNDICE DAS PALESTRAS  | PÁGINA ANTERIOR |  PRÓXIMA PÁGINA 

O Juízo Final - 8

Oitava videoconferência de uma série

sobre o opúsculo O Juízo Final e a Babilônia Destruída, de E. Swedenborg

 

IX. A Babilônia e a sua destruição

X. Sobre o céu precedente e sua abolição.

 

Em nosso estudo do Juízo Final, temos visto que o livro do Apocalipse é uma obra cheia de simbolismos, do começo ao fim, a tal ponto que, em algumas passagens, é completamente impossível ser interpretado literalmente. Não são somente figuras de linguagem, mas símbolos representativos, cujo significado se mostra bastante coerente, do começo ao fim. Esses símbolos são o que chamamos de correspondências, quando um objeto, uma pessoa, uma ação ou uma qualidade no plano natural representa outra que lhe corresponde do plano espiritual. E não só o Apocalipse, mas cada coisa em toda a Palavra de Deus tem essa correspondência espiritual, como uma alegoria ou parábola, e é por isso que a Palavra é santa e encerra a sabedoria Divina.

Vemos o que se diz, por exemplo, do Senhor, que tinha uma espada aguda saindo de Sua boca; que Ele vomitaria de Sua boca aqueles considerados mornos de Laodiceia; que a terra abriu a sua boca para engolir o rio lançado pelo dragão; que João comeu o livrinho e este foi doce em sua boca. Isto somente para citarmos um termo, “boca”, mas há muitas outras expressões figurativas semelhantes.

É evidente que a “boca”, a “espada”, o “rio”, “o livrinho, aí, não são esses objetos mesmos. Devem, necessariamente, ter alguma representação. Mas, exceto pelo termo “espada”, a representação das muitas outras figuras não é tão óbvia. Por isso, então, que devemos empregar o bom senso para não tomarmos uma figura simbólica ou representativa ao pé da letra, em vez de seu significado. Este é o caso, aqui, da Babilônia. É claro que Babilônia, aqui, também não é a cidade, mas algo representado por ela. Qualquer um pode ver isso sem muita reflexão, mesmo porque a cidade física, Babilônia, deixou de existir há séculos. Restarem somente ruínas no Iraque, que acredita-se terem sido parte da cidade. Qual a finalidade, portanto, de uma cidade destruída ter um papel tão crucial no Apocalipse? Nenhuma. A não ser que seja uma “Babilônia” simbólica, e por ela seja representada algo relevante em nossos dias.

Em hebraico, o nome Babilônia é o mesmo que Babel, a cidade e a torre, descritos em Gênesis 11, que os homens quiseram fazer por soberba: “Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra”. Por isso as línguas foram confundidas e eles foram espalhados. Mais tarde, no tempo dos profetas, Babilônia era o centro do domínio do rei Nabucodonosor, descrito no livro de Daniel; esse rei mandou erigir uma estátua a fim de ser adorado como Deus. E também o filho dele, o rei Belshazar, profanou os vasos sagrados que tinham sido tirados do templo.

Assim como a altivez do povo em Babel, que queria erigir um nome até os céus, os reis babilônicos tiveram uma noção exacerbada da própria grandeza, ao ponto de se colocarem em lugar de Deus e acima das coisas de Deus. É isto, então, que o símbolo “Babilônia” caracteriza na Bíblia: “Por ‘Babilônia’ se entendem todos os que querem ter domínio pela religião. Dominar pela religião é dominar sobre as almas dos homens, assim, sobre a sua vida espiritual mesma por meio das coisas Divinas de sua religião. Todos os que têm a dominação por objetivo final e a religião por meio são a ‘Babilônia’ em geral” (JF 54).

A Igreja cristã primitiva ou apostólica permaneceu durante os primeiros três séculos na integridade e na pureza de doutrina, conforme sabemos pela história e pelos escritos de seu tempo. Mas, a partir do século IV, quando o cristianismo deixou de ser perseguido, começaram a entrar na igreja regras, ritos e costumes que não havia nos primeiros tempos. A Igreja perdeu sua integridade original e os seus líderes foram dominados pela ambição de domínio e de riquezas, arrogando-se o poder Divino de perdoar e excomungar, abrir e fechar os céus, por conseguinte, poder sobre as almas humanas. Tornou-se, finalmente, a nova Babilônia. É essa outra Babilônia de que se trata no Apocalipse.

Cumpre lembrar oportunamente que essa postura de querer dominar pelo amor de si, pondo-se em lugar de Deus, não está no fiéis, em sua maioria povo simples, mas nos líderes. E nem todos os líderes, mas aqueles que se arrogam esse poder espiritual e domina o povo, seja pelo ensino tortuoso, seja pelo medo do castigo eterno. E mais ainda naqueles que se chamam “vigário” de Cristo. “Vicarius”, latim, quer dizer, substituto. Quem quer que se considere substituto de Cristo na terra excedeu há muito o extremo da sensatez.

 A história nos mostra o erro dos líderes católicos quando estenderam seu poder sobre reis e rainhas, e a chamada inquisição para escravizarem as mentes dos homens pelo medo do castigo, não só eterno, mas também terreno.

“Cumpre saber que a igreja se torna Babilônia quando cessam a caridade e a fé, e em seu lugar começa a reinar o amor de si. Esse amor se arremessa, tanto quanto o freio lhe é relaxado, não só para dominar sobre todos desta terra que ele possa subjugar, como também para dominar sobre o céu. E ele não descansa: sobe até ao trono de Deus e transfere para si o poder Divino.

 “A Babilônia tratada no Apocalipse é a Babilônia de hoje, que começou depois da vinda do Senhor e existe entre os papistas, como é notório. Esta Babilônia é mais perniciosa e mais abominável do que a que existiu antes da vinda do Senhor, porque ela profana os bens e os veros interiores da igreja que foram revelados pelo próprio Senhor quando Ele mesmo Se revelou.

“Eles reconhecem e adoram o Senhor, mas este sem nenhum poder de salvar; eles separam inteiramente o Seu Divino de Seu Humano e transferem para si próprios o Seu Divino poder, o qual pertenceu ao Seu Humano , pois eles perdoam os pecados, enviam ao céu, precipitam no inferno, salvam quem eles querem, vendem a salvação e, assim, atribuem a si coisas que pertencem somente ao Divino poder. E desde que eles exercitam esse poder, segue-se que eles se fazem deuses, cada um de acordo com seu lugar, por transferência, desde seu chefe supremo, o qual eles chamam de ‘Vigário de Cristo’, até os mais baixos. Assim, eles se consideram como o Senhor, e O adoram, não por causa d’Ele, mas por causa de si próprios.”

A Igreja Católica, por causa de sua relevância histórica, é o maior exemplo do que é representado por “Babilônia”. Mas isto não é “privilégio”, digamos assim, da Igreja Católica. Toda organização religiosa em que os líderes aspiram ao poder sobre as almas dos homens se torna uma Babilônia, no seu sentido representativo. Não o povo, em si, mas o clero. E nem todo o claro, mas aqueles que usam de autoridade para exercer domínio espiritual, com fins egoísticos.

Um argumento que a doutrina católica usa para justificar a autoridade é que Pedro foi instituído por Jesus como chefe da Igreja e, por isso, o apóstolo pode ser considerado o primeiro papa. Porque o Senhor disse a ele: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja”. Mas o Senhor disse isso depois de Pedro ter confessado “Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. Não sobre a pessoa de Pedro, mas sobre essa confissão de Pedro, confissão essa que chamada pedra ou rocha, que a igreja cristã é erigida. Pedro representa essa fé, a pedra de esquina sobre a qual a Igreja começa.

Há um memorável que relata um debate de Swedenborg com alguns da liderança católica: “perguntei se eles acreditavam que o poder do Senhor sobre o céu e o inferno fora transferido a ele. Como fosse este o ponto fundamental de sua religião, eles insistiam veementemente que não havia dúvida a tal respeito, já que isso é dito claramente. Mas em resposta à minha pergunta – que se eles sabiam que em cada coisa da Palavra há um sentido espiritual, que é o sentido da Palavra no céu – eles disseram a princípio que nada sabiam a respeito disso, mas depois disseram que se informariam; e quando foram informados a respeito, eles foram instruídos que em cada coisa da Palavra há um sentido espiritual, que difere do sentido da letra, como o espiritual difere do natural. E souberam mais, que nenhuma pessoa citada na Palavra tem o mesmo nome no céu, mas que em lugar de seus nomes se entende algum espiritual. Enfim, eles souberam que por ‘Pedro’ entende-se na Palavra o vero da fé da igreja e o vero que procede do bem da caridade; esse vero é igualmente entendido pela ‘pedra’ que então é nomeada com ‘Pedro’, pois é dito:

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja” (Mt. 16:18).

Por estas palavras se entende não que tenha sido dado algum poder a Pedro, mas que o poder pertence ao vero que procede do bem, porque todo poder nos céus pertence ao vero do bem, ou ao bem pelo vero; e como todo bem e todo vero procedem do Senhor, e nada vem do homem, todo poder pertence ao Senhor.” (JF 57).

Também pelo conhecimento da história cristã pode-se constatar que Pedro teve, de fato, alguma autoridade nos primeiros tempos da Igreja Cristã primitiva, mas não sozinho. De fato, é Pedro o primeiro apóstolo a tomar a palavra e falar aos judeus, no dia de Pentecostes. Depois, ele e João saem a anunciar o evangelho, a fazer milagres, falam corajosamente e são até presos por isso.

Mas havia em Jerusalém um tipo de presbitério ou concílio dos irmãos, incluindo alguns dos primeiros apóstolos, como Tiago, João, Judas e Felipe, e outros evangelistas, como Silas e Barnabé, e eles eram considerados a liderança da igreja, ou um tipo de anciãos conselheiros. De fato, quando Pedro retorna da vista a Cornélio, um centurião pagão a quem ele batizou, Pedro foi censurado pelos irmãos em Jerusalém e teve de explicar a eles o motivo pelo qual ele foi levar o evangelho aos gentios, e eles ficaram satisfeitos. Mais tarde, quando Paulo entrou na obra, ele censurou Pedro por causa de sua atitude duvidosa em relação aos costumes judaicos. Na realidade, Paulo tinha mais autoridade e mais proeminência do que Pedro, coisa que nunca aconteceria se Pedro tivesse sido considerado, de fato, como líder maior deles.

Lemos também no livro JF o que aconteceu com esses líderes que se arrogavam poder sobre as almas humanas, depois que morreram. Eles continuaram no mesmo propósito, porque a morte não muda o caráter do indivíduo. O que eles faziam no mundo, continuaram fazendo no mundo dos espíritos, querendo dominar especialmente os bons e simples de coração e de fé. Mas o julgamento deles chegou, e o julgamento consiste basicamente em abrir os internos da mente e manifestar o real caráter do indivíduo. Quando isso fez isso, “viu-se que mais da metade dos que tinham usurpado o poder de abrir e fechar o céu eram inteiramente ateus. Como, porém, a dominação residia em suas mentes, tal qual era no mundo, e ela fundamentava-se no princípio de que todo poder foi dado ao Senhor pelo Pai e transmitido a Pedro, e, por sucessão, aos primazes da igreja, daí resulta que ao seu ateísmo fica adjunta uma confissão oral sobre o Senhor. Contudo, isso dura somente enquanto eles têm prazer em alguma dominação por meio dessas coisas. Quanto aos outros que não são ateus, eles são tão vazios que nada absolutamente sabem sobre a vida espiritual do homem, sobre os meios de salvação, sobre os Divinos veros que conduzem ao céu e sobre a fé e do amor celeste. Eles creem que o céu pode ser dado a qualquer um, seja ele quem for, pela graça do papa.

Quando veio o juízo sobre esses, os interiores deles foram abertos e suas intenções maléficas se manifestaram abertamente em suas palavras. Sua ambição infernal de ter um poder acima dos outros e até acima dos céus ficou patente, e eles foram separados. Suas agremiações foram dispersas e cada um foi enviado ao lugar compatível com seu amor dominante. Os que eram fiéis e os seguiam com simplicidade foram instruídos e tirados de seu domínio. Assim a ordem foi reestabelecida. Mas todo esse processo do julgamento da Babilônia está exposto em vários capítulos em detalhes. Resumiremos aqui dizendo somente que o poder deles sobre os espíritos foi tirado, e isso foi representado pela passagem do Apocalipse que diz: “Caiu, caiu a grande Babilônia”.

Também somos informados o motivo pelo qual o domínio deles se prolongou por tanto tempo e por que foram tolerados. “IV. Porque eles foram tolerados lá até o dia do juízo final. A razão para isso é que pertence à ordem Divina preservar todos os que podem ser preservados, e isso até que não possam mais estar entre os bons. Portanto, todos são preservados: aqueles que podem imitar a vida espiritual nos externos e mostrá-la na vida moral como se ela estivesse ali – sejam como forem quanto à fé e ao amor nos internos – e também aqueles que estão na santidade externa, embora não na interna.

“E assim eram muitos daquela religião, porque eles podiam falar piedosamente diante do povo e adorar santamente ao Senhor, a fim de implantar a religião em suas mentes e fazê-los pensar sobre o céu e o inferno, bem como para mantê-los na prática dos bens por meio de suas prédicas. Dessa forma eles puderam conduzir muitos na vida do bem, por conseguinte, no caminho para o céu; foi por isso também que muitos dentre os dessa religião foram salvos, ainda que poucos de seus líderes, os quais o Senhor deu a entender serem os falsos profetas”.

“Assim o mundo espiritual foi libertado de tais espíritos. E os anjos regozijaram por terem sido libertos deles, porque os que eram da Babilônia infestavam e seduziam quem quer que pudessem seduzir, e lá mais do que no mundo, porque as suas astúcias eram mais malignas, pois eles eram espíritos, e é no espírito que toda malícia se oculta. Com efeito, é o espírito do homem que pensa, quer, projeta e maquina. (62)

“Aqueles dentre os católico-romanos que tinham vivido piedosamente e tinham estado no bem, ainda que não nos veros, e que, entretanto, tinham, por afeição, desejado conhecê-los, foram levados e transportados para uma região na frente, na região oeste, perto da região norte, e ali lhes foram dadas habitações e instituídas sociedades; e, depois, lhes foram enviados sacerdotes dentre os reformados para instruí-los pela Palavra. E, à proporção que eram instruídos, eles eram aceitos no céu.” (63)


 

 

PÁGINA PRINCIPAL  |  ÍNDICE DAS PALESTRAS  | PÁGINA ANTERIOR |  PRÓXIMA PÁGINA 

Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -