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O Juízo Final - 3

Terceira videoconferência de uma série

sobre o opúsculo O Juízo Final e a Babilônia Destruída, de E. Swedenborg

 

 

I. O segundo ponto singular da fé: A fé salvífica é crer n’Ele.

II. Fé histórica, fé bastarda, fé espúria e fé salvífica.

 

“Crede-me que estou no Pai, e que o Pai está em Mim” (Jo. 14:11)

 

A fé salvífica

Todos sabem que é preciso ter fé e sabem o que ela é, mas não se consegue definir a fé. Alguns dizem que a fé é uma confiança ou, como disse um apóstolo, uma certeza de algo que não se vê. Para esses, “fé” tem o sentido de uma convicção sem que haja, necessariamente, fundamento apresentável, o que, na verdade, é uma vontade veemente de que algo seja verdadeiro. Outros pensam que fé é uma espécie de “força de vontade”. Outros a definem como o conjunto de dogmas de uma crença. E como esses conceitos são tão distintos e, ao mesmo tempo, tão semelhantes e tão relacionados entre si, daí vem a dificuldade que se tem em definir a fé.

Swedenborg dedicou um opúsculo inteiro a esse assunto e, também, o quarto capítulo de “Verdadeira Religião Cristã”. Seguindo mais ou menos a ordem de exposição desses livros, veremos, então, em primeiro lugar, o seguinte: 1) A fé salvífica é a fé no Senhor Deus Salvador Jesus Cristo. Mediante esta afirmação podemos deduzir que, se existe uma fé salvífica, é porque existe uma fé que salvífica. Como consequência lógica, não é a existência da fé, por si mesma, que produz a salvação, mas a qualidade dessa fé.

A fé sobre a qual foi fundado o cristianismo é que “é preciso crer ou ter fé no Filho de Deus, Redentor e Salvador, concebido de JEHOVAH e nascido da virgem Maria, chamado Jesus Cristo...”. Assim, torna-se bem claro que é preciso crer que o próprio Deus veio ao mundo e nasceu como criança através da concepção de uma virgem. Ele foi Deus e Homem ao mesmo tempo, na pessoa visível do Senhor Jesus Cristo. O sentido da letra da Palavra insiste muito neste ponto, que é preciso crer no Filho, ou seja, que é preciso crer que o Divino Se encarnou e Se fez visível no plano natural. Porque, se não houver tal crença, não se pode crer no que Ele operou dessa forma nem se pode, por conseguinte, receber os benefícios de Sua vinda e nascimento no mundo. E esses benefícios são a regeneração e salvação.

“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (João 3:36). É preciso que se creia no Filho. Pensemos nesta afirmação. Não é dito “no Pai”, mas no Filho, porque, como foi dito anteriormente, quando se crê no Filho, crê-se ao mesmo tempo no Pai. Mas isto precisa ser mais esclarecido: é preciso que se creia corretamente no Filho. Crer que o Filho é a manifestação visível do Pai; é o Corpo da Alma Divina chamada JEHOVAH; é a Pessoa de Deus que nossos olhos podem ver e nosso entendimento compreender. Não se pode imaginar um Deus fora de Sua pessoa, Jesus Cristo.

A necessidade dessa ênfase vem do fato de muitas pessoas crerem no Filho de Deus, mas à sua maneira, não à maneira da Palavra. Elas creem, por exemplo, no Filho como pessoa separada de uma hipotética pessoa do Pai; creem no Filho como submisso à mãe, Maria; creem no Filho como um Mestre, um grande indivíduo, espírito de luz que veio dar exemplo de humildade... Mas não creem que o Pai está no Filho como a Alma no Corpo. A reabertura dessa verdade tornou-se necessária depois que a Igreja precedente a destruiu pela ideia de três pessoas. Pregar que Jesus Cristo é o próprio Deus é a função maior da Nova Igreja.

Muitos professam a fé em Deus sem pensarem na pessoa de Jesus Cristo. E muitos invocam a Deus e prestam o culto a Ele sob essa forma, a saber, uma vaga forma humana, mais como uma luz. Outros O imaginam como um Ancião, separado da pessoa de Jesus. Segundo vemos na Palavra e nas Doutrinas Celestes, são todas elas formas vãs de se cultuar e invocar a Deus, porque Deus tem uma Essência, uma Substância e uma Forma, e essa Forma é a Forma Humana, e esse Humano é o Senhor Jesus Cristo. Se se tirar a pessoa de Jesus, tira-se a Forma, daí a Substância e por fim a Essência de Deus, tornando-O nulo ou como nada.

Em suma, não basta a pessoa afirmar que crê em Deus. Como disse o apóstolo Tiago: “Crês em Deus? Fazes bem. Até os diabos creem, e tremem...” Quando alguém diz que crê em Deus, se a fé que ela tem se limita a essa ideia em si, nenhuma fé existe nela. É preciso que a fé em Deus seja centrada na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Por isso, é melhor a pessoa afirmar que crê em Jesus Cristo sabendo que Ele é, de algum modo, Divino e Um com Deus, do que a vaga e universal crença em Deus. A diferença entre uma e outra crenças é a diferença entre a fé falsa e a fé salvífica.

A fé que o mundo conhece é essa fé vaga em Deus, porque não está na Pessoa Divina do Senhor Jesus Cristo. Desde o Concílio de Nicéia a Igreja não reconhece mais outra fé senão a que separa. E, no entanto, o Senhor disse: “Crede que eu estou no Pai e o Pai em mim”. É por isso que as Doutrinas são tão detalhistas e exigentes quanto ao ponto da fé, ou seja, em Quem exatamente é preciso crer.

“Que é preciso crer, ter fé em Deus Salvador Jesus Cristo, é porque é a fé em um Deus visível, no qual está Deus invisível”. É dito que esta fé, em um Deus visível que é também Homem, é uma fé que pode ser compreendida e “entra no homem”. Podemos compreender que o Senhor Jesus é assim porque olhamos para nós e nos vemos como uma alma e um corpo; então torna-se brilhante em nosso entendimento a ideia de o Filho estar no Pai e o Pai enviar o Filho ao mundo, isto é, Deus invisível proceder até o plano natural e aí tornar-Se visível como Homem, Jesus Cristo. A fé em Jesus Cristo cuja Alma é Deus é recebida no entendimento, porque se apoia em nossa própria realidade. Tem base natural, pode caber na ideia espiritual de Deus como alma e por isso é viva e salvífica.

A origem da fé

Nas obras doutrinais citadas, aprendemos que a Fé deve ser adquirida. Ela não nasce com a pessoa nem passa a existir espontaneamente e muito menos é produzida por alguma ação humana. Mas, é adquirida como? “O homem recebe a fé dirigindo-se ao Senhor, instruindo-se nas verdades pela Palavra e vivendo segundo essas verdades”.

Sendo a fé dada ao homem por Deus, o cabe ao homem fazer é ser receptivo. Isto envolve sua liberdade, sua vontade de aprender as verdades, para saber em que deve crer, pois assim é que pode receber a fé. Em outras palavras, a afeição que a pessoa tem por aprender as verdades é o princípio da recepção da fé. É o solo humoso que está fértil para receber a semente. É claro que, mesmo essa vontade de receber a fé vem também de Deus, mas tudo começa quando o homem, exercendo sua liberdade, quer receber algo do Criador e se dispõe à recepção. Então ele recebe a afeição da verdade na vontade e a verdade da fé no entendimento.

Então, quando dizem que o homem recebe a fé dirigindo-se ao Senhor, os Escritos (em VRC 343) dizem também que isto não é uma ação passiva, na qual o homem não tome parte. Ao contrário, o homem recebe a fé - como foi dito - dirigindo-se ao Senhor, instruindo-se nas verdades pela Palavra e vivendo segundo essas verdades. Agora temos a noção mais clara de que a fé é algo que se recebe pelo entendimento, pela compreensão das verdades da Palavra e, em seguida, pela vida de acordo com essas verdades.

O primeiro passo da aquisição da fé é aprender da Palavra quem é o Senhor e o que são Suas Leis segundo as quais devemos viver; e o segundo é viver de acordo com tais leis. Parece-nos bastante claro que as duas coisas são necessárias juntamente. Não basta se instruir na Palavra, mas é preciso viver segundo a instrução que se recebeu. Se a Palavra compara a fé a uma semente e a vontade do homem à terra, podemos ver que a fé que é dada é como a semente lançada à terra. O Senhor mesmo diz isso, comparando a fé às sementes que o semeador saiu a semear e também ao grão de mostarda. Ora, a semente lançada na terra não é a que alimenta, mas sim a que é produzida daquela. A parte que é lançada na terra é relativamente pequena, em comparação com a parte que nasce depois dos frutos ou das espigas.

Então, quando nos dirigimos ao Senhor e lemos a Palavra com a afeição de tomá-la como guia para nossa vida, nossa mente se torna um campo preparado para a semeadura. A fé, em nós, será a verdade que foi adquiria pela instrução, mas que passou para a vida através da obediência. E isto não ocorre sem lutas e tentações, representadas pela morte da semente. Pelo que o Senhor disse: “Se o grão cair na terra e não morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto”.

Estados e qualidades da fé

A fé existe no homem como a sua vista espiritual. A fé é para o entendimento assim como a vista natural é para o corpo. É evidente, por isso, que, sem a fé, o entendimento do homem é cego para a verdadeira natureza de todas as coisas. É dito em VRC 346 que a vista do corpo e a vista do espírito se correspondem e, por consequência, tudo o que se aplica ao estado do olho e da visão do olho pode ser aplicado também ao estado da fé ou visão do entendimento. E como há uma variedade de estados saudáveis ou de morbidades do olho, também há uma variedade de estados saudáveis ou de morbidades da fé. Aprendemos, então, que existe: 1) a fé bastarda, “na qual os falsos foram misturados aos veros; ela pode ser comparada à enfermidade dos olhos e, por consequência, da vista que se chama belida sobre a córnea, tornando a vista obscura.”

2) “A fé prostituída, que provém dos veros falsificados, e a fé adúltera, que provém dos bens adulterados, podem ser comparadas com a enfermidade dos olhos e, por consequência, da vista, que se chama glaucoma, que é um dessecamento, um endurecimento do humor cristalino [ou vítreo?].

3) “A fé tapada ou cega, que é a fé das coisas místicas, embora não se saiba se são veros ou falsos ou se estão acima ou contra a razão, pode ser comparada com a enfermidade dos olhos que se chama gota serena e amaurose, que é a perda da vista por uma obstrução do nervo ótico e, entretanto, o olho parece ver perfeitamente.

4) “A fé errática, que é a fé em vários deuses, pode ser comparada com a enfermidade do olho que se chama catarata, que é a perda da vista por uma obstinação entre a túnica esclerótica e a úvea.

5) “A fé vesga, que é a fé em outro Deus que não verdadeiro Deus e, entre os cristãos, a fé em doutro Deus que não o Senhor Deus Salvador, pode ser comparada com a enfermidade dos olhos que se chama estrabismo. (...)

Finalmente, se é dito que a fé adquirida ou formada na pessoa por meio da instrução é porque a fé, em sua essência, fé é a verdade. A fé não é outra coisa senão o complexo das verdades que brilham na mente (VRC 347), ou, dizendo de outra maneira, a fé é o conjunto de ensinamentos que eu aceito como verdadeiros.

Da Fé na mente e sua propagação

Avançando em nosso estudo da fé, aprendemos também que a fé é algo que pode ser ampliado, aperfeiçoado e elevado mediante a contribuição ativa da parte do homem. É dito que “a abundância de verdades ligadas em conjunto como em um feixe exalta e aperfeiçoa a fé” (VRC 349). É, pois, pela quantidade e qualidade de verdades que a fé se desenvolve.

É interessante voltarmos a um ponto já mencionado aqui, sobre a ideia comum que as pessoas têm sobre a fé, ou seja, aquele conceito de que a fé é somente um pensamento confiante, uma espécie de convicção. Para os que têm tal ideia sobre o que é a fé, parece estranha a informação de que as verdades exaltam e aperfeiçoam essa fé. Em geral, era de se esperar, quando muito, que essa convicção se tornasse mais firme através das experiências, especialmente pelo testemunho de intervenções miraculosas do ser Divino.

Mas o que estamos aprendendo nos Escritos das Doutrinas Celestes é algo novo: os conceitos vagos da teologia, as indefinições sobre tudo o que é espiritual, a incerteza ou ignorância do vero, tudo isto pode ser perfeitamente substituído e superado por informações objetivas, claras e simples, que mostram que as coisas espirituais são concretas, definidas, não havendo mais necessidade de se recorrer a dogmas obscuros. A fé, aprendemos assim, é um conjunto, como um feixe, de verdades que adquirimos. É claro que essas verdades não podem ser somente as do conhecimento, dados da memória, mas devem ter sido transformadas em princípios segundo os quais se vive, fronteiras que limitam nossas atitudes.

Por isso, é um fato que “o homem pode contribuir em alguma coisa para adquirir a fé...” “Quem não pode, pela Palavra, recolher verdades, se quiser? Toda verdade na Palavra e pela Palavra dá luz, e a verdade na luz é a fé. O Senhor, que é a luz mesma, influi em cada homem, e, naquele em que há verdades pela Palavra, faz com que brilhem nele e assim elas se tornam coisas da fé”.

O aperfeiçoamento e a elevação da fé são em seguida explicados em Verdadeira Religião Cristã por várias proposições, que serão examinadas em ordem: “I. As verdades da fé são multiplicadas ao infinito”. Isto se pode ver pela sabedoria dos anjos do céu, que aumenta eternamente. “Os anjos dizem também que jamais há um fim para a sabedoria, a qual não vem senão dos Divinos veros examinados analiticamente nas formas, mediante a luz vinda do Senhor. A inteligência humana, por maior que seja, não vem de outra parte” (350).

A infinidade para a sabedoria vem da própria Infinidade de Deus. Podemos ter uma ideia disso se refletirmos sobre a infinita variedade de veros que podem ser obtidos da Palavra. As verdades Divinas na Palavra podem ser pesquisadas em sua forma simples, no sentido literal, sem maiores implicações, e só isso já faria necessária a vida toda de uma pessoa. Mas se essas mesmas verdades forem analisadas e postas em conexão umas com as outras, as suas implicações se mostram numa abundância incrível.

Tomem-se, por exemplo, os algarismos da aritmética: são apenas 10, que uma criancinha logo conhece. Mas estes 10 algarismos somente, quando tomados juntamente ou em determinadas ordens, podem expressar qualquer grandeza, infinitamente, sem nunca se esgotarem, porque a cada número pode-se sempre acrescentar um novo algarismo, e então um novo valor aparece. Tomemos como exemplo também as posições simples da geometria: se nós tivermos um valor determinado para a altura, outro para a largura e somente mais outro para o comprimento, podemos expressar com essa tridimensão, exatamente, qualquer ponto no espaço. Bastam esses três pontos para qualquer valor poder ser definido. Ou as sete notas musicais com que se compõem todas as sinfonias.

As verdades da Palavra são comparadas, neste capítulo de VRC, a um abismo, embora para aquele que nada sabe do sentido interno ela não pareça mais do que a água em um balde. Realmente, é por isso que, na Palavra do Antigo e Novo Testamentos, as verdades do sentido literal são frequentemente comparadas a um poço. Como já vimos, são muito comuns as situações nas histórias da Palavra em que uma mulher é citada a tirar água num poço. A mulher, em geral, significa a afeição pela verdade, e o poço a própria Palavra - isto é, as águas do poço. Assim como o poço tem a mina que faz a água brotar constantemente, as verdades da Palavra são sempre novas ou renovadas, cada vez que as lemos.

Outra comparação da abundância infinita dos veros, que é feita em VRC, é com a proliferação das sementes, tanto vegetais quanto humanas, pelas quais há propagação ao infinito das espécies. Nunca se pode dizer que a semente deixe de se reproduzir pela exaustão ou pelo esgotamento de sua fertilidade. É até sabido que, se todas as sementes vegetais do mundo fossem plantadas novamente e brotassem numa proporção normal, em apenas uma geração a abundância da colheita ocuparia todo o globo terrestre. Na realidade, a mente do homem é comparada ao solo fértil do campo ou do jardim, na qual os veros naturais e espirituais são implantados como sementes (VRC 350). Essa propagação ou proliferação infinda é derivada da infinidade de Deus, “que está perpetuamente presente com Sua luz e Seu calor, e com a faculdade de criar”.

A fé natural

Não é realmente fé, mas uma persuasão simulando a fé, chamada por isso persuasão do falso ou fé herética.

Suas denominações são: 1) a fé bastarda (falsos misturados aos veros); 2) a fé prostituída pelos veros falsificados e adúltera pelos bens adulterados; 3) A fé tapada ou cega, que é a fé das coisas místicas, em que se crê embora não se saiba se são verdadeiras ou falsas, ou se estão acima da razão ou contra a razão; 4) a fé errática, que é a fé em vários deuses; 5) a fé vesga, que é a fé em um outro deus que não o verdadeiro Deus. Nos cristãos, a fé em um outro Deus que não o Senhor Deus Salvador Jesus Cristo; 6) a fé hipócrita ou farisaica, que é a fé de boca e não de coração; 7) a fé visionária e às avessas, que é a aparência do falso como vero por uma engenhosa confirmação.

Outras Características Da Fé

Seu incremento:

“I. As verdades da fé são multiplicadas ao infinito”. Isto se pode ver pela sabedoria dos anjos do céu, que aumenta eternamente. “Os anjos dizem também que jamais há um fim para a sabedoria, a qual não vem senão dos Divinos veros examinados analiticamente nas formas, mediante a luz vinda do Senhor. A inteligência humana, por maior que seja, não vem de outra parte” (350).

Sua organização na mente:

“II. A disposição das verdades da fé é em série, assim como em pequenos feixes”. Esta é outra verdade espiritual nova e interessante que as Doutrinas Celestes nos revelam sobre a fé. O conceito errôneo de muitos hoje sobre a fé e a ignorância a respeito da organização da mente impediram que se conhecesse a respeito da organização dos veros da fé na mente. É dito nesta passagem dos Escritos que as percepções, os pensamentos e as ideias não são radiações e variações de luz que influi na cabeça. Em outras palavras, as ideias não são coisas esvoaçantes dentro da cabeça ou flashes no cérebro. Em vez disso, aprendemos aqui que os dois cérebros (cérebro e cerebelo) acham-se organizados de uma maneira tal, que a mente habita ali e faz que as ideias se fixem de maneira lógica, permanecendo ali tal como foram aceitas e confirmadas.

Seu aperfeiçoamento:

“III. Conforme a abundância e a coerência das verdades a fé é aperfeiçoada. É isto a consequência do que acaba de ser dito”. Assim organizadas, cada verdade apoia e confirma outra, fazendo que cada verdade se torne cada vez mais espiritual, “assim, cada vez menos natural-sensual, pois é elevada à região superior da mente, de onde vê em baixo grupos de confirmações em seu favor na natureza do mundo. A verdadeira fé, pela abundância das verdades ligadas em conjunto como em um feixe, torna-se cada vez mais brilhante, mais perceptível, mais evidente e mais clara. Torna-se também mais apta a conjuntar-se com os bens da caridade; por conseguinte, mais separada dos males e, sucessivamente, mais afastada das seduções do olho e das cobiças da carne. Por consequência, mais feliz em si mesma. Torna-se principalmente mais possante contra os males e os falsos, portanto cada vez mais viva e salvífica”.

Sua transformação:

A fé transforma-se de natural em espiritual. Como foi visto, a fé, no início, é apenas uma fé natural no homem, mas torna-se espiritual à medida que o homem se aproxima do Senhor. (360) Se ele se dirige ao Senhor, dentro de sua fé natural há um esforço de vida Divina, assim como a vida está na semente esforçando-se por desenvolver-se e produzir novos frutos ou grãos.

Da sua conjunção com a caridade:

A VRC nos fala da absoluta necessidade de os dois, fé e caridade, constituírem um só. Lemos: “O Senhor, a Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o Entendimento. Se forem divididos, cada um se perde, como uma pérola reduzida a pó”. E chegamos, então, a um ponto em que existe aparentemente, contradição com algo já tínhamos visto anteriormente. Pois é fato que aprendemos também que o Senhor proveu para que, no homem espiritual, o entendimento pudesse ser separado da vontade justamente para que, olhando de cima a vontade baixo, o entendimento a domasse e elevasse. Aprendemos que, por essa característica de independência, o entendimento pode ser reformado primeiro, antes que a vontade seja regenerada. E aqui parece haver a contradição, se é que não se pode separar entendimento e vontade, como é dito no número presente de VRC (n. 362).

Mas enquanto é natural, pode estar separada da vontade, porque lemos: “Que o homem possa pensar pelo entendimento sem que a vontade tenha parte nisso, é porque assim foi provido a fim de que ele possa ser reformado; porque o homem é reformado pelas verdades e as verdades, como se disse, são para o entendimento. De fato, o homem nasce em todo o mal quanto à vontade, de onde resulta que por si próprio ele quer somente bem a si mesmo. E quem quer bem a si só, alegra-se com os males que acometem os outros, mormente à vista de si próprio; pois ele quer chamar a si os bens de todos os outros, quer honras ou riquezas, e quanto mais o consegue, mais ele experimenta alegria em si. Para que esse voluntário seja corrigido e reformado, foi outorgado ao homem poder compreender as verdades e sujeitar por elas as afeições do mal que partem da vontade. Daí vem que o homem, pelo entendimento, pode pensar verdades e também falar delas e fazê-las; contudo, ele não pode pensá-las pela vontade antes de ser tal que ele as queira e as faça de si próprio, isto é, de coração. Quando o homem é tal, então as coisas que ele pensa pelo entendimento pertencem à sua fé, e as que ele pensa pela vontade pertencem ao seu amor. Por isso é que a fé e o amor nele então se conjungem como o entendimento e a vontade. (Céu e Inferno 424).

 

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Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -