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O Juízo Final - 2

Segunda videoconferência de uma série

sobre o opúsculo O Juízo Final e a Babilônia Destruída, de E. Swedenborg

 

I. O dia do juízo final não deve ser entendido como sendo o dia da destruição do mundo

II. As procriações do gênero humano na terra jamais cessarão

III. O céu e o inferno procedem do gênero humano

 

“E perguntado pelos fariseus quando o Reino de Deus havia de vir, respondeu-lhes, e disse: O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou, Ei-lo ali; porque eis que o Reino de Deus está entre vós.” (Lucas 17:20, 21)

Toda doutrina da Igreja deve ser extraída da Palavra, ou Escritura Santa, em seu sentido literal, e por esse sentido deve ser corroborada. Mesmo que estejamos estudando as obras doutrinárias de Swedenborg, sempre vemos e procuramos mostrar como todo esse conjunto de informação tem base bíblica, porque foram inspiradas enquanto ele estudava profundamente a Bíblia. Após anos de estudo e inspiração, lendo a letra da Palavra em suas línguas originais, ele escreveu uma imensa quantidade de livros a que chamamos Escritos, mostrando-nos que existe um sentido espiritual ou simbólico em cada detalhe do sentido da letra.

A letra da Palavra é, pois, a fonte e o fundamento desse nosso estudo sobre o JF, conforme veremos em toda a sequência. Sendo assim, além de lermos dos trechos do livro O Juízo Final e a Babilônia Destruída propriamente dito, tentaremos demonstrar também as passagens da Palavra de que esses doutrinais foram extraídos e nos quais estão fundamentados.

A primeira afirmação do livro é “O dia do juízo final não deve ser entendido como sendo o dia da destruição do mundo”. Esta é uma grande novidade, porque, até agora, nós, cristãos, tínhamos imaginado que o grande julgamento ocorrerá juntamente com grandes cataclismos, resultando no fim de todas as coisas materiais.

E, obviamente, esse conceito apavorante não foi inventado do nada, mas vem também de passagens literais da Bíblia, as quais têm sido ensinadas e pregadas há séculos em todas as denominações cristãs.

“Aqueles que não conhecem o sentido espiritual da Palavra não compreendem outra coisa senão que no dia do juízo final devem ser destruídas todas as coisas visíveis no mundo, porque dizem que então devem perecer o céu e a terra; e que Deus deve criar um novo céu e uma nova terra. Eles também se confirmaram nessa opinião porque é dito que naquele dia todos sairão dos túmulos, que os bons serão separados dos maus etc. Mas isso é dito no sentido da letra da Palavra porque esse sentido é natural e está no último da ordem Divina, onde todas as coisas, em geral e em particular, têm dentro de si um sentido espiritual. Quem compreender a Palavra somente segundo o sentido da sua letra pode ser levado a várias opiniões, como ocorre no mundo cristão, onde por esse motivo há tantas heresias, cada uma delas confirmada na Palavra.” (O Juízo Final e a Babilônia Destruída, 1).

 Essas várias opiniões podem ser resumidas nas seguintes:

1) Que, no fim dos tempos, Jesus voltará ao mundo, aparecendo fisicamente na nuvens. Onde se baseia na Bíblia: “E, então, verão vir o Filho do Homem numa nuvem, com poder e grande glória.” Mateus 24:30, Marcos 13:26, Lucas 21:27. Um anjo disse aos apóstolos: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.” Atos 1:11.

2) Que seu aparecimento será físico, visível e manifesto a todos: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até os mesmos que o traspassaram.” Apocalipse 1:7

3) Que, antes dessa segunda vinda, aflições, guerras e terremotos acontecerão em todo o mundo, e esses eventos são tidos como prenúncio do fim dos tempos: “E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.” Mateus 24:6

4) Que outro evento extraordinário precederá o fim – o chamado arrebatamento, quando os fiéis serão subitamente elevados aos céus para se encontrarem com Jesus nos ares: “Digo-vos que, naquela noite, estarão dois numa cama; um será tomado, e outro será deixado. ... Dois estarão no campo; um será tomado, e outro será deixado.” Lucas 17:34:36. Aliás, a doutrina do arrebatamento está mais fortemente baseada na afirmação do apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Tessalonicenses: “Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. 1Tessalonicenses 4:15-17:

5) Que todas essas coisas acontecerão a qualquer momento. Cada geração de cristãos tem pensado e aguardado que a volta de Jesus e o fim dos tempos acontecerá em sua geração. Tem sido assim desde o começo do cristianismo e nós herdamos a interpretação simples da igreja cristã primitiva. Paulo pensava que a volta de Jesus para o juízo estava tão próxima que aconteceria ainda em seu tempo de vida, pois disse: “nós, os que ficarmos vivos”. Também o apóstolo Pedro ensinou assim: “Já está próximo o fim de todas as coisas” 1Pe. 4:1

6) Que, depois da vinda de Jesus, seguir-se-á a destruição de todos os elementos e de todo o universo, como também foi ensinada por Pedro: “Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro e se guardam para o fogo, até o dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios. ... O Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão.” 2Pedro 3:7, 10

Esses são exemplos dos principais pontos de fé das igrejas cristãs sobre o fim dos tempos e o juízo. Por aí se pode ver que todas expectativas a respeito do juízo foram e são resultados de uma interpretação meramente literal das Escrituras, começando dos tempos apostólicos até os dias de hoje. Os cristãos primitivos, incluindo Paulo e Pedro, e os de hoje, entendiam e entendem que os relatos bíblicos teriam cumprimento físico. Mas lemos na obra em exame:

“Aqueles que não conhecem o sentido espiritual da Palavra não compreendem outra coisa senão que no dia do juízo final devem ser destruídas todas as coisas visíveis no mundo, porque dizem que então devem perecer o céu e a terra; e que Deus deve criar um novo céu e uma nova terra. Eles também se confirmaram nessa opinião porque é dito que naquele dia todos sairão dos túmulos, que os bons serão separados dos maus etc. Mas isso é dito no sentido da letra da Palavra porque esse sentido é natural e está no último da ordem Divina, onde todas as coisas, em geral e em particular, têm dentro de si um sentido espiritual. Quem compreender a Palavra somente segundo o sentido da sua letra pode ser levado a várias opiniões, como ocorre no mundo cristão, onde por esse motivo há tantas heresias, cada uma delas confirmada na Palavra.” O Juízo Final e a Babilônia Destruída, 1.

Para os que creem com simplicidade no sentido literal das Escrituras, essas expectativas a respeito da volta de Jesus e a respeito do juízo segundo a interpretação literal das Escrituras não trazem problema algum. Gerações de cristãos têm crido dessa maneira por toda a sua vida e morrido nessa expectativa, sem que isso abale a sua fé ou prejudique a sua salvação. Essas pessoas tiveram a mesma simplicidade dos cristãos primitivos, que receberam ensinamentos literais sem questioná-los e sem prestar atenção às suas aparentes incongruências.

No entanto, há aqueles que analisam um pouco mais profundamente a Bíblia com uma mente aberta e não obscurecida pelas várias interpretações doutrinárias, algumas delas inteiramente opostas entre si. Eles querem saber o que realmente a Palavra diz. E há aqueles que tendem para o ceticismo e a negação da divindade da Palavra. Para esses, essas profecias, ou melhor, as interpretações delas, se tornam um conjunto de pontos de dúvida, porque envolvem certas impossibilidades físicas e mesmo contradições entre si.

Esses dois últimos tipos de pessoas, o inquiridor de boa fé e o cético, têm dificuldade de aceitar os ensinamentos literais da Bíblia sobre o Juízo Final. E como as explicações das igrejas se baseiam nas mesmas aparentes incongruências, eles ficam na escuridão ou, pior, na negação, por falta de ensino. Porque elas não podem aceitar, por exemplo, o que o Apocalipse diz, que estrelas, ou a terça parte delas, cairão sobre a Terra (Apocalipse 6:13, 12:4), e a humanidade ainda sobreviva. Há dois mil anos não se conhecia a respeito do tamanho dos corpos celestes e essa crença simples talvez não fosse um problema, por sua impossibilidade física, mas hoje é diferente.

Ou, como o céu visível pode se enrolar como fosse um rolo de pergaminho (Apocalipse 6:14), visto que o firmamento não é uma abóbada sólida, como se cria até a Idade Média. E assim por diante, a mesma dificuldade surge para essas pessoas quando elas tentam entender a literalidade das profecias sobre o Juízo Final.

É certo que alguém poderia argumentar que não se podem aplicar leis naturais aos ensinamentos da Bíblia, e que se deve crer no que a Bíblia diz, quer se entenda, quer não. Mas, desse modo, os próprios mestres e teólogos cristãos, ao insistirem na interpretação literal, acabam lançando mais descrédito na Mensagem Divina, pois eles acabam ponto a Palavra em confrontação com a ciência. E quanto mais os ensinos da igreja insistem na interpretação literal, mais eles fomentam essa confrontação inútil, e, por conseguinte, mais dão motivos à negatividade, o naturalismo e o ateísmo.

Contudo, não são apenas impossibilidades físicas que os céticos levantam em oposição. Há, também, as tais incongruências ou contradições dentro da própria interpretação literal das profecias. Ora, sabemos que a Palavra de Deus transcende toda sabedoria imaginável pelo homem. Nela não há erro nem contradição. A falha não está, portanto, no que Deus diz, mas na maneira como entendemos ou interpretamos. Vejamos alguns ensinamentos que precisam ser levados em conta também, pois mostram certas contradições que não podem ser ignoradas. De fato, é impossível fazer uma interpretação literal de pontos que estão aparentemente em oposição entre si.

Por exemplo, no capítulo 6:13, quando se abre o sexto selo, “E as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte.” Todavia, mais adiante, no capítulo 12:4, as estrelas ainda estão no céu, e terça parte delas cai à terra pela cauda do dragão.

Na abertura do sexto selo, o sol se torna negro e a luz como sangue, no cap. 6:13, mas, no cap. 8, quando o quarto anjo toca a trombeta, o sol está lá, brilhando, e é escurecido para que não brilhe mais.

No Apocalipse 1:7 é dito que “todo olho o verá”, mas, em Lucas 17:20, 21, lemos: “E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeu-lhes e disse: O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus está entre vós”. Como, então, todo olho verá algo que não tem aparência exterior?

Em Marcos 9:1 Jesus “Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o Reino de Deus com poder.” (Cf. Mat. 16:28, Lucas 9:27). Por isso Pedro e Paulo esperavam a vinda física naquele mesmo tempo, mas é óbvio que todos os que ouviram Jesus dizer essas palavras morreram em sua época e não virar chegar o reino, como esperavam.

Então, a palavra do Senhor teria falhado? Obviamente não. Não há contradição na Palavra; nós é que não a compreendemos corretamente. Pois a única maneira de conciliarmos esses ensinamentos é considerá-los com tendo outro sentido, como parábolas acerca de coisas futuras. Aliás, assim eram todas as palavras do Senhor: Mateus_13:34 “Tudo isso disse Jesus por parábolas à multidão e nada lhes falava sem parábolas (cf. com Marcos 4:11, Mateus 13:34). Isto, também, está de acordo com outro ensinamento d’Ele: (João 6:63) “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.”

É assim, então, que devemos necessariamente considerar que todos os ensinamentos do Senhor deveria ter um cumprimento espiritual, para se harmonizarem entre si. E, fazendo uma análise de tudo o que temos visto até aqui, a única conclusão possível é que não é possível interpretar ou compreender o Apocalipse ao pé da letra, ou como verdades literais, sem se cair nesses dilemas.

De fato, Deus não escreveu a Palavra para nos ensinar sobre eventos terrenos e físicos, porque esse o ser humano poderia vir a conhecer pela curiosidade e pelo estudo das coisas naturais. O objetivo da Palavra é nos ensinar a respeito de outra dimensão, a realidade espiritual, as coisas que estão acima e além da observação e da pesquisa natural, uma realidade que nunca poderíamos conhecer sem a instrução Divina. E como Deus podia nos ensinar acerca do mundo espiritual, acerca de nossa alma, de modo a ser compreensível às pessoas de todas as eras da humanidade? Somente por meio de parábolas e por meio de sentidos que o simples entendesse com simplicidade, e o sábio com sabedoria, cada um em sua esfera de compreensão.

É, então, que voltamos nossos olhos para a obra de Swedenborg, porque ele vem nos mostrar que há um significado espiritual em todos os relatos proféticos do Apocalipse, e essa explicação nos abre a visão para um campo inteiramente novo, um universo espiritual no qual reina um Deus de amor incondicional. Sob essa ótica, o livro do Apocalipse adquire uma dimensão que nunca tínhamos antes imaginado.

É essa visão nova acerca do Apocalipse e do Juízo Final que nos é proporcionada no opúsculo JFBD, no qual tomamos conhecimento, em primeiro lugar, que o dia do juízo final “não deve ser entendido como sendo o dia da destruição do mundo”.

“Como, porém, ninguém tinha ainda sabido que em todas e em cada uma das coisas da Palavra há um sentido espiritual – nem mesmo o que é o sentido espiritual – os que adotam essa opinião sobre o juízo final são por isso mesmo desculpáveis. Contudo, saibam eles agora que o céu visível aos nossos olhos não perecerá, nem mesmo a terra habitável, mas eles permanecerão; e que pelo novo céu e pela nova terra é entendida uma nova igreja, tanto nos céus como nas terras. Diz-se uma nova igreja nos céus,  porque lá também há uma Igreja, assim como nas terras, porque lá também há prédicas e um culto Divino semelhante aos das terras, mas com esta diferença: que nos céus todas as coisas estão em um estado mais perfeito, porque lá elas não estão em um mundo natural, mas em um mundo espiritual; assim, todos lá são homens espirituais e não homens naturais, como haviam sido no mundo. Que isso seja assim vê-se na obra O Céu e o Inferno, especialmente nos artigos em que se tratou da conjunção do céu com o homem pela Palavra (n. 303 a 310) e do culto Divino no céu (n. 221 a 227)”.

As passagens que falam que serão formados um novo céu e uma nova terra têm, por conseguinte, outro sentido:

“Por “um novo céu” não se entende o céu visível aos nossos olhos, mas o céu mesmo onde o gênero humano foi recolhido, pois um céu foi formado por todos da raça humana que haviam vivido desde o começo da Igreja Cristã; eles, porém, não eram anjos, mas espíritos de diversas religiões. É esse céu que se entende pelo “primeiro céu” que deve perecer; mas na sequência será especialmente dito como isso ocorreu. Faz-se menção disso aqui apenas para que se saiba o que é significado pelo “primeiro céu” que deve perecer. Qualquer um que pense por alguma razão ilustrada pode perceber que não é o céu estelar, o tão imenso firmamento da criação, que foi significado ali, mas o céu no sentido espiritual, onde os anjos e os espíritos estão.”

“Ignorou-se até hoje que pela ‘nova terra’ se entende uma nova igreja nas terras, pois cada um tinha entendido por ‘terra’, na Palavra, a Terra, quando a verdade é que por terra se entende a igreja. No sentido natural a ‘terra’ é a Terra, mas no sentido espiritual a ‘terra’ é a igreja.

O que acontecerá, então, com as pessoas? Não haverá, então, tanto castigo e tanta mortandade de seres humanos, até que todos os infiéis sejam destruídos? Ao contrário, “as procriações do gênero humano na terra jamais cessarão”.

O Deus Criador, que é clemente e misericordioso, não apenas não destruirá o gênero humano, mas, também, conserva a vida de todos, mesmo daqueles que o rejeitam e escolhem viver no mal e separado d’Ele. Porque a essência de Deus é o amor, e o amor não pode deixar de amar. Do bem nada pode proceder senão o que é bom. Então, sim, o gênero humano continuará a existir no universo natural e espiritual indefinidamente, sob o auspício da Misericórdia Divina.

As razões citadas no livro O Juízo Final e a Babilônia Destruída para que as gerações da raça humana não cessem foram extraídas de outra obra, O Céu e o Inferno, e são as seguintes:

I. O gênero humano é a base sobre a qual está fundado o céu. Em resumo, o homem é o último ou a coroação da criação, e nele estão reunidos os universos natural e espiritual, de modo que o homem foi criado na mais perfeita forma Divina. A mente humana é onde se encontram os dois planos da existência. “Daí vem que todas as coisas que estão no homem e dentro do homem vêm do céu e do mundo. Vêm do céu as coisas que são de sua mente, e vêm do mundo as coisas que são de seu corpo. As coisas que são do céu influem em seus pensamentos e em suas afeições, e os dispõem de acordo com a recepção do seu espírito; e as que são do mundo influem em suas sensações e prazeres, e os dispõem segundo a recepção de seu corpo, mas isso conforme as conveniências dos pensamentos e das afeições de seu espírito.” (O Juízo Final e a Babilônia Destruída, 9)

II. O gênero humano é o viveiro do céu. Isto porque o céu e o inferno são provenientes do gênero humano. “Assim como o céu tem sido formado pela raça humana, desde a primeira criação até o presente, ele continuará sendo formado e enchido pela mesma fonte.” (O Juízo Final e a Babilônia Destruída, 10).

III. A extensão do céu, o qual é para os anjos, é tão imensa que não pode ser cheia por toda eternidade. E IV. Aqueles que compõem o céu no presente momento são proporcionalmente em pequeno número. Nós não conseguimos perceber a grandeza do universo físico e, muito menos, a do universo espiritual. A imensidão do universo existe para uso do homem e deve ser preenchida pelo homem. Deus não criaria um mundo tão vasto para ser destruído ou preenchido por um número tão pequeno de seres humanos. Mas isto é tratado mais detalhadamente nas obras O Céu e o Inferno, 415 a 420, e Das Terras no Universo, n. 126.

V. A perfeição do céu aumenta segundo a pluralidade.

“A forma do céu é semelhante à forma da mente humana, cuja perfeição aumenta segundo os acréscimos do vero e do bem, de onde provêm a inteligência e a sabedoria. Que a forma de uma mente humana que está na sabedoria e na inteligência celestes seja semelhante à forma do céu é porque a mente é a menor imagem daquela forma. Dessa forma há comunicação dos pensamentos e das afeições do bem e do vero em tais homens, e nos anjos, com as sociedades celestes em torno. Há, assim, uma extensão segundo o aumento da sabedoria, portanto, segundo a pluralidade dos conhecimentos do vero que foram implantados no entendimento e segundo a abundância das afeições do bem que foram implantadas na vontade, por conseguinte, na mente, porque a mente se compõe do entendimento e da vontade. As mentes do homem e do anjo são tais que podem ser enriquecidas pela eternidade, e elas são aperfeiçoadas à medida que são enriquecidas, o que sucede, sobretudo quando o homem é conduzido pelo Senhor, porque então ele é introduzido nos veros reais que são implantados no seu entendimento e nos bens reais que são implantados na sua vontade. Com efeito, o Senhor dispõe então todas as coisas de sua mente na forma do céu, até que enfim ela seja o céu em sua mínima forma. Segundo essa comparação, a qual é um paralelo verdadeiro, é evidente que a pluralidade dos anjos aperfeiçoa o céu.” (O Juízo Final e a Babilônia Destruída, 12).

VI. Toda obra Divina tem por finalidade o infinito e o eterno. Em todas as coisas criadas o Criador inseriu como se fosse uma imagem ou assinatura dele, e essa imagem do Infinito e do Eterno é visível, por exemplo, na multiplicação sem fim das sementes, na quantidade dessa multiplicação, na variedade de todas as coisas, sem que haja uma só igual a outra ou repetida.

“Não há uma só face absolutamente semelhante a outra face ou a mesma que outra, e não haverá uma só em toda a eternidade. Igualmente a personalidade [animus] de um nunca é absolutamente semelhante ao de outro; por isso há tantos homens e anjos quanto às faces e personalidades lá. Em um homem, onde há inúmeras partes que constituem o seu corpo e inúmeras afeições que constituem o seu caráter, nunca há qualquer coisa que seja absolutamente semelhante às que existem em outro homem ou que seja a mesma coisa. Daí vem que cada um tem uma vida distinta da vida do outro. O mesmo se dá em todas e em cada uma das coisas da natureza; essa variedade infinda existe em todas as coisas em geral e em particular, porque a origem de todas as coisas vem do Divino, que é Infinito.” (O Juízo Final e a Babilônia Destruída, 13)

O terceiro ponto de nosso roteiro nesta videoconferência é o capítulo 3 do livro, “O céu e o inferno procedem do gênero humano”. Este ponto é abordado exaustivamente em 8 páginas do livro, e resumir adequadamente toda essa abordagem aqui não é tarefa fácil, mas transcreveremos somente a introdução do tema, que já faz um bom sumário do assunto:

“No mundo cristão ignora-se totalmente que o céu e o inferno procedem do gênero humano. Com efeito, crê-se que os anjos foram criados desde o começo e que daí resultou o céu; e que o diabo ou satanás foi um anjo de luz, mas, ao tornar-se rebelde, foi precipitado com a sua tropa e disso resultou o inferno. Os anjos ficaram extremamente admirados de que tal fé exista no mundo cristão, ainda mais pelo fato de que não se sabe absolutamente coisa alguma a respeito do céu, quando a verdade é que esse é o principal da doutrina na igreja. E, como tal ignorância prevalecia, eles ficaram cheios de alegria porque aprouve ao Senhor revelar agora aos cristãos muitas verdades sobre o céu e também sobre o inferno e por esse modo dissipar, tanto quanto for possível, as trevas que crescem a cada dia, e foi por isso que a igreja chegou a seu fim. Por isso, eles desejam que eu afirme, como sendo de sua boca, que não há, em todo o céu, um só anjo que tenha sido criado desde o começo, nem diabo algum no inferno que tenha sido criado anjo de luz e precipitado, mas que todos, tanto no céu como no inferno, provêm do gênero humano: no céu, os que no mundo viveram no amor e na fé celestes, e no inferno, os que no mundo viveram no amor e na fé infernais; e que o inferno, em todo o complexo, é chamado diabo e satanás. O inferno que está atrás, onde se acham aqueles que são chamados maus gênios, é o diabo; e o inferno que está na frente, onde se acham os que são chamados maus espíritos, é chamado satanás. Qual é um e qual é outro infernos, vê-se no fim da obra O Céu e o Inferno. Se o mundo cristão aceitou tal fé a respeito dos que estão no céu e dos que estão no inferno, isso veio, diziam os anjos, de algumas passagens da Palavra que foram compreendidas somente segundo o sentido da letra, e não ilustradas nem explicadas pela doutrina genuína da Palavra. Quando, entretanto o sentido da letra, se não for esclarecido pela doutrina genuína da igreja, divide as mentes em diversas opiniões, de onde procedem as ignorâncias, as heresias e os erros.” (O Juízo Final e a Babilônia Destruída, 14).

Estes três capítulos iniciais do livro são, por conseguinte, premissas para que o restante conteúdo sobre o Juízo Final seja bem compreendido. Recapitulando, essas premissas são: I. O dia do juízo final não deve ser entendido como sendo o dia da destruição do mundo. II. As procriações do gênero humano na terra jamais cessarão. III. O céu e o inferno procedem do gênero humano.

É evidente que numa exposição de uma hora e pouco não é possível cobrir com maiores detalhe toda a explanação para cada um desses pontos, conforme é dada no livro, pelo que sugerimos a leitura do livro em si. Aqui temos somente uma amostra da exposição feita ali sobre o Juízo Final, com algumas das passagens das Escrituras que a confirmam. Que seja esta amostra um convite e um incentivo ao estudo e à reflexão do que nos é trazido na obra mesma.

 

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Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -