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O Juízo Final - Introdução

Primeira videoconferência de uma série

sobre o opúsculo O Juízo Final e a Babilônia Destruída, de E. Swedenborg

 

Apresentação

Com o intuito de auxiliar nosso estudo e possibilitar a boa compreensão dos eventos, circunstâncias e consequências relativos ao Juízo Final, tal como são expostos na obra “O Juízo Final e a Babilônia Destruída”, de E. Swedenborg, entendemos que seria proveitoso se intercalássemos aos tópicos dos livros alguns temas trazidos de outras obras do mesmo autor, a fim de propiciarem informações adicionais de apoio ao que estudaremos sobre o último Juízo.

Não resta dúvida de que, se fôssemos fazer uma simples leitura dos relatos do Juízo Final, muitas questões se levantariam em relação ao tema e que acabariam desviando nosso foco de estudo. Assim, antes de cada seção do livro em estudo, iremos abordar certos conceitos fundamentais das Doutrinas da Nova Jerusalém, os quais nos ajudarão a ampliar nosso entendimento do tema proposto.

Esses pontos intercalados são doutrinais ou ensinamentos fundamentais sobre a natureza de Deus e a natureza humana, a fé, a vida de caridade e assim por diante.

O primeiro capítulo da obra Verdadeira Religião Cristã trata de um ponto que é fundamental para toda religião: a ideia de Deus. Vemos ali uma ampla explanação que nos mostra que essa é, na mente humana, a principal de todas as ideias, e que dela depende todas as demais coisas da religião e, por conseguinte, da vida humana.

No mesmo capítulo aprendemos que existem conceitos ou pontos de fé que são essenciais a uma crença genuína, e esses pontos são apresentados como doutrinais universais e singulares da fé. No que se refere ao homem, o primeiro ponto singular da fé consiste no seguinte: “Há um único Deus em que está a Divina Trindade, e este Deus é o Senhor Deus Salvador Jesus Cristo”.

A importância da ideia de Deus.

Segue-se um extrato do primeiro capítulo de Verdadeira Religião Cristã:

“A Igreja que o Senhor tinha instaurado por eles [os discípulos], está hoje de tal modo consumada, que dela subsistem apenas alguns restos. Isso aconteceu porque se dividiu a Divina Trindade em três Pessoas, das quais cada uma é Deus e Senhor, e daí decorreu um frenesi em toda a Teologia, portanto, na Igreja que pelo nome do Senhor é chamada Cristã.

“Diz-se frenesi porque as mentes humanas foram por isso arrastadas a um delírio tal que não se sabe se há um único Deus ou se há três; não há senão um na linguagem da boca, mas há três no pensamento da mente; a mente está, portanto, em oposição com a boca ou o pensamento com a linguagem; desta oposição resulta que não se reconhece nenhum Deus; o naturalismo que reina hoje não tem outra origem. Faz disso, se quiseres, o exame: Quando a boca diz um e a mente pensa em três, não acontece que dentro, no meio do caminho, um expulsa o outro, e isso reciprocamente? Daí o homem dificilmente pensa de outro modo sobre Deus, se é que o pensa, a não ser segundo a palavra nua de Deus, sem nenhum sentido que envolva um conhecimento de Deus.

“Pois que a ideia de Deus, com toda noção que possa ter dela, foi assim dissipada, vou, em sua ordem, tratar de Deus Criador, do Senhor Redentor e do Espírito Santo em sua operação e da Divina Trindade; e isso a fim de que o que foi dissipado seja restabelecido, o que acontece quando a razão humana, segundo a Palavra e a luz que dela provêm, está convencida de que há uma Divina Trindade e que esta Trindade está no Senhor Deus Salvador Jesus Cristo, como a Alma, o Corpo e o Procedente estão no homem. E assim permanece em vigor esta passagem do Credo de Atanásio, que no Cristo, Deus e o Homem, ou o Divino e o Humano, não são dois, mas estão em uma única Pessoa; e que, como a Alma racional e a Carne, são um único homem, do mesmo modo, Deus e o Homem são um único Cristo.

Verdadeira Religião Cristã, 4

E é justamente essa, a ideia principal, aquela sobre a qual paira a maior obscuridade no cristianismo. E nem estamos nos referindo ao ateísmo, mas somente ao cristianismo em si. Porque, quem pode responder com certeza às perguntas: Quem é Deus? Quem é Jesus? Quem pode entender o chamado ‘mistério da Trindade’? E se, afinal, essa ideia é tão importante, será que não foi esclarecida abertamente na letra das Escrituras? Qual ideia é a correta a respeito de Deus?

A fim de analisarmos adequadamente estas questões e, talvez, chegarmos a uma resposta satisfatória para elas, vejamos a forma como o Rev. Douglas Taylor abordou esse tema, e como ele respondeu a dúvida “Quem é Jesus?”. E ele fez isso recorrendo exclusivamente à própria letra da Palavra, porque, sim, a Palavra tem a resposta para todas as nossas questões, principalmente para as que se referem à pessoa Divina.

Quem é Jesus?

 “E vindo Jesus às partes de Cesareia de Filipo, perguntou a seus discípulos, dizendo: Quem os homens dizem que eu sou, o Filho do homem? E eles disseram: Alguns, João Batista, e outros, Elias, e outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? (Mateus 16:13-16) (ARe)

O Senhor fez esta pergunta aos discípulos há dois mil anos, mas esta questão é eterna. Ainda é importante, nos dias de hoje, e sempre será. A resposta que dermos à pergunta “quem é Jesus?” tem um profundo efeito em nossa vida no mundo e na eternidade.

Está escrito que Simão Pedro respondeu à pergunta do Senhor, dizendo:

 “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mateus 16:16).

Por sua resposta, Pedro foi muito elogiado pelo Senhor, que lhe disse que aquela fora uma resposta divinamente inspirada (Mt.16:17). De tudo o que se pode concluir daí, uma coisa é clara: ensina-se que Jesus é, de alguma forma, DIVINO. E mais, somos avisados no Evangelho de João que:

 “Quem crê n'Ele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus (Jo.3:18).

Mas, será suficiente dizer que “Jesus é de algum modo Divino?” É bem sabido que não há ideia mais importante a ser claramente entendida do que a ideia sobre Deus. Não é somente uma questão de estudo sobre o qual os teólogos formulam teorias monótonas. A nossa ideia sobre Deus governa e controla todas as nossas vontades e pensamentos, mesmo quando não estamos conscientes dela, e mesmo que estejamos ou não. Até a ideia que um ateu tem sobre Deus penetra em todos os seus pensamentos e influencia suas emoções e sua vida muito além do que ele imagina.

O primeiro grande mandamento diz que devemos amar o Senhor com todo o nosso coração, alma, mente e força. Mas, quem é o Senhor? É Jehovah do Velho Testamento? ou Jesus do Novo Testamento? ou são eles a mesma Pessoa Divina?

Para que possamos viver a vida da religião, é necessário que tenhamos uma ideia clara de Deus.

A ideia cristã a respeito de Deus

A ideia de Deus que há séculos predomina no cristianismo é a de que HÁ TRÊS PESSOAS EM DEUS, sendo cada uma delas Deus, sem, no entanto, existirem três Deuses, mas somente um. Ninguém entende isto. Admite-se ser coisa completamente incompreensível. Por isso chamam esse conceito de “mistério”, que deve permanecer assim.

É claro que nunca poderemos entender TUDO sobre Deus, porque Ele é Infinito e nós somos finitos. Na verdade, precisaríamos de um entendimento “divino”, infinito, para compreender completamente o Infinito.

Neste ponto, muitos debates são encerrados. Mas o ponto onde a inteligência humana tem de parar e admitir que não pode ir mais além está muito mais distante do que normalmente se imagina.

A doutrina a respeito do Senhor e a resposta para a nossa pergunta “quem é Jesus?” podem ser extraídas não somente do sentido espiritual ou interno da Palavra de Deus, mas também das passagens literais do Velho e Novo Testamento, principalmente se seguirmos duas regras básicas de bom senso, regras que, infelizmente, têm sido postas de lado no campo do estudo bíblico: 1) Reunir todas as passagens sobre o assunto (ou, pelo menos, uma amostra que bem as represente). 2) Usar somente as frases explícitas, que tenham um só significado, como base e ponto de partida.

O que as escrituras ensinam sobre Deus

As passagens das Escrituras que ensinam sobre o assunto “quem é Jesus?” dividem-se naturalmente em dois grupos que, à primeira vista, são contraditórios.

O primeiro grupo de passagens parece dizer que Deus Pai (ou Jehovah, do Velho Testamento) é UMA pessoa, e Jesus, o Filho de Deus, é OUTRA pessoa, distinta e separada.

Mas há também o segundo grupo de passagens, as que ensinam que eles são UMA E A MESMA PESSOA. Que o Jehovah do Velho Testamento e o Jesus do Novo são a mesma Pessoa Divina.

Parece haver um conflito. Então, para que a verdadeira doutrina apareça, estes dois grupos aparentemente conflitantes devem ser conciliados.

Aqui estão alguns exemplos das passagens que parecem ensinar que Jehovah e Jesus são pessoas diferentes:

 Jesus disse: “...pois que Eu saí, e vim de Deus (João 8:42).

 “...o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai (João 5:19).

 Simão Pedro disse:

“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mateus 16:16).

No batismo do Senhor, ouviu-se uma voz do céu dizer:

 “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo (Mateus 3:17).

O Senhor também disse:

 “...Meu Pai é maior do que Eu (João 14:28).

 E: “Ninguém vem ao Pai, senão por Mim (João 14:6)

Jesus disse na cruz:

 “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).

 E: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27:46).

E também, após a ressurreição, o Senhor disse aos discípulos:

 “...ide e ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mateus 28:19).

Nesta última passagem, não só parece que o Pai e o Filho são distintos, como ainda há uma TERCEIRA Pessoa ou SER divino, o Espírito Santo.

Se fôssemos consultar somente passagens como estas e ignorar todas as outras que estão em conflito com elas, poderíamos chegar à conclusão de que Deus está em três Pessoas. Isto é muito estranho para quem refletir ao menos um pouco, porque o bom senso diz que simplesmente NÃO PODE HAVER TRÊS PESSOAS DIVINAS, ou três Seres Divinos, pois isto é o mesmo que dizer que há três Infinitos, ou três Deuses! É tarefa inútil tentar unir três divindades distintas num só Deus.

Uma das saídas para esta frustração é notar que jamais é dito de maneira explícita que o Pai e o Filho são duas pessoas distintas. Isto nunca foi dito na Palavra. Não obstante, é o que foi deduzido, sem um maior esclarecimento, pelos concílios da Igreja Cristã, de 325 AD em diante, e é o que tem sido impensadamente aceito como a fé ortodoxa cristã em si. Entretanto, por mais que se procure, nunca se encontrará uma única passagem na Palavra que diga explicitamente que o Pai e o Filho são dois; que aquele que vê o Filho tem ainda de ver o Pai. Na verdade, vamos encontrar exatamente o oposto, como veremos mais adiante.

A outra saída é também notar que, conquanto geralmente se pense que as palavras “Pai” e “Filho” nestas passagens sempre se referem a pessoas, isto não é necessariamente verdade. Não dizemos às vezes que “tal homem é o PAI dos pobres? ou que Sócrates foi o PAI da filosofia? Pois na Palavra achamos um emprego similar do termo “pai”:

 “...quando fala mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira (João 8:44).

Por estas considerações podemos ver como é arriscado tomar um só dos possíveis significados de um termo e sobre ele construir toda uma doutrina. Mesmo que o emprego real de “pai” e “filho” se refira a pessoas diferentes, se tomarmos isto como princípio, vamos encontrar várias dificuldades, especialmente com aquele segundo grupo de passagens mencionado acima, das que ensinam que Deus Pai e Deus Filho são a mesma e única Pessoa Divina.

Por exemplo, o que se pode dizer quando lemos no Velho Testamento esta conhecida profecia do Advento do Senhor?

 “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre seus ombros, e o seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz (Isaías 9:6).

Aqui não se pode duvidar que Aquele que é chamado de “menino” e “filho” é também chamado de “Deus forte” e “Pai”, “Pai da eternidade”.

Só há um Deus forte. Isto é o que nos dita a nossa razão e o que está conforme as próprias Escrituras:

 “...antes de Mim deus nenhum se formou, e depois de Mim nenhum haverá”. “Eu, eu sou o Senhor, e fora de Mim não há Salvador (Isaías 43:10,11).

 “Eu sou o primeiro e o último, e fora de Mim não há Deus (Isaías 44:6).

 “Eu sou o Senhor; este é o Meu nome; a Minha glória pois a outrem não darei (Isaías 42:8; 48:11).

 “...porventura não sou Eu, o Senhor? e não há outro Deus senão Eu. Deus justo e salvador não o há fora de Mim. Virai-vos para Mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu sou Deus, e não há outro (Isaías 45:22).

Há um só Deus

A doutrina de que não há outro Deus além de Jehovah define a nossa compreensão de outra profecia de Isaías:

 “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel (7:14).

Visto que o nome “Emanuel” não pode ser traduzido de outra maneira a não ser “Deus conosco”, segue-se, como conclusão irresistível, que era o Senhor Deus, Jehovah, o único Deus, que viria ao mundo como o Salvador, e nasceria aqui como o filho de uma virgem. Este é, de fato, o tema de todas as passagens do Velho Testamento que tratam do advento do Messias. Tomemos, por exemplo, as seguintes passagens:

 “E naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor... na Sua salvação pois gozaremos e nos alegraremos (Isaías 25:9).

 “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai no ermo a vereda do nosso Deus... Eis que o Senhor Jehovah virá contra o forte (Isaías 40:3,10).

Aqui, novamente, a mensagem é que o Senhor Criador, Ele mesmo, viria como o Redentor e Salvador.

E mais, no Velho Testamento o Senhor Jehovah diz que Ele é o Primeiro e o Último, enquanto no Novo Testamento, no Apocalipse, Jesus diz que ELE é o Primeiro e o Último. Ora, é impossível se ter DUAS pessoas cada uma delas sendo a primeira e a última. Obviamente, deve ser a MESMA PESSOA que está sendo descrita nos dois casos. Lembremo-nos também de que o Senhor, no Velho Testamento, diz que ELE é o único Salvador, e que a Sua glória Ele não daria a outrem. Contudo, no Novo Testamento, JESUS é chamado o Salvador.

Não se conclui, portanto, que Jesus deve ser JEHOVAH NA FORMA HUMANA? Pois esta ideia é reforçada quando se sabe que o nome “JESUS” quer dizer “Jehovah Salva”!

É em total conformidade com isto que vemos no Novo Testamento o Senhor dizer à multidão:

 “Eu e o Pai somos UM (João 10:30).

Não “dois”, mas “um”. E Ele não diz nada sobre eles serem “um em propósito” ou qualquer coisa assim. Ele diz simplesmente “um”. De qualquer forma, a Sua audiência entendeu muito bem o significado de Suas palavras (o único significado possível), e quando pegaram pedras para apedrejá-Lo, Ele perguntando porque o faziam, responderam:

 “...porque, sendo Tu homem, Te fazes Deus a Ti mesmo (João 10:33).

É interessante notar que a Igreja Judaica, que O rejeitou, podia ver claramente o que Ele estava dizendo, enquanto a Igreja Cristã , que O aceitou, ainda não compreendeu Suas palavras e não O conheceu completamente.

Além disso, está escrito no primeiro capítulo de João:

 “No princípio era o Verbo {a Palavra}, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus ...Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez... Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”. (João 1:1,3,10,14).

Aí se diz claramente que foi o Criador do mundo (chamado Verbo) que veio à terra na forma de um Homem.

E novamente, quando estava no mundo, o Senhor disse:

 “...antes que Abrahão existisse, Eu Sou (João 8:58).

“Eu Sou” só tem um sentido: é o nome de Jehovah, conforme se vê em Êxodo 2:14, e significa SER , o único Ser Divino e a Vida mesma. Naquela hora os judeus também entenderam o Senhor dizer: “EU SOU JEHOVAH”, e por isso quiseram apedrejá-lo por blasfêmia.

JEHOVAH e Jesus são a mesma pessoa

A partir de todas estas passagens, a mensagem torna-se clara: Jehovah (ou o Pai) e Jesus (o Filho) são realmente a mesma Pessoa Divina.

Mas é no 14º capítulo do Evangelho de João que este ensinamento é dado em sua forma mais clara. Ali, Jesus, tendo Se referido à Sua ida ao Pai, não é compreendido por Tomé e Filipe, que pensam que Ele está Se referindo a uma outra Pessoa. Filipe então diz:

 “Senhor, mostra-nos o Pai, e isto nos basta (João 14:8).

A resposta do Senhor aqui merece a nossa maior atenção, porque nela o mal-entendido se desfaz:

 “Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a Mim, vê o Pai; e como dizes tu, Mostra-nos o Pai? (14:9).

Será que poderia haver resposta mais direta do que esta? Que outro Pai pode haver senão Aquele que os olhos de Filipe contemplavam? O Senhor continuou então a dar uma explicação que fornece a chave para a compreensão de toda a doutrina. Ele disse:

 “...as palavras que Eu vos digo não as digo de Mim mesmo, mas o Pai, que está em Mim, é quem faz as obras”. (vers.10).

Ora, como devemos entender isto? O que é que “está em mim”, “faz as palavras serem ditas” e “faz as obras”? A alma. O que se encaixa mais nesta descrição a não ser a Alma Divina? Não é, por acaso, a alma como um “pai” para o corpo? E não é o corpo um tipo de descendência da alma?

Quando vemos que o “pai” significa o Divino em si ou a Alma Divina, que o “Filho de Deus” significa o Corpo Divino visível e compreensível ao homem, então estamos, pela primeira vez, em condições de entender alguma coisa sobre o Espírito Santo.

Compreendendo a Trindade

Existe uma trindade em cada homem --uma trindade humana. Não uma trindade de pessoas, mas uma trindade de essenciais, uma trindade de alma, corpo e aquela intocável influência que flui da união entre a alma e o corpo. Este espírito ou essa influência é, aproximadamente, o que se chama na linguagem popular de “personalidade”. É a esfera que emana da combinação da alma e o corpo, e é isto que tem influência nas outras pessoas.

O homem tem uma tal trindade de alma, corpo e espírito, porque ele foi criado à imagem de Deus, e em Deus há uma Divina Trindade: a Alma Divina, ou o Pai; o Corpo Divino, ou o Filho; e o Espírito Divino, ou o Espírito Santo.

Esta compreensão do relacionamento entre Deus e o Filho é verdadeira, porque ilumina toda a Palavra, tanto o Velho quanto o Novo Testamento. As doutrinas reais da Palavra tornam-se transparentemente claras quando todas as passagens são consideradas à luz destas explicações, e quando aquelas que ensinam sem deixar dúvida de que há um só Deus são tomadas como base.

Assim podemos ver de onde veio a obscuridade ou a confusão (o “mistério”). Veio quando se tomou como base o grupo errado de passagens, aquelas que pareciam ensinar (porque realmente não ensinam) que havia dois Seres Divinos separados. Sob este novo ponto de vista, estas mesmas passagens poderão ser entendidas de maneira diferente, como veremos agora:

 “...pois que Eu saí, e vim de Deus (João 8:42),

quer dizer, o Corpo veio da Alma.

 “...o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma se o não vir fazer ao Pai (João 5:19),

quer dizer, o Corpo não pode fazer nada por si próprio, mas somente o que a Alma o manda fazer.

 “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mateus 16:16),

quer dizer, o Messias, o Corpo do Divino Mesmo, que é a Vida mesma.

 “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo (João 14:28),

quer dizer, aquele era o Corpo Divino no qual agradou ao Senhor habitar enquanto estava na terra.

 “...Meu Pai é maior do que Eu (João 14:28),

a Alma é maior do que o Corpo, porque o domina.

 “Ninguém vem ao Pai, senão por Mim (João 14:28),

da mesma maneira que não podemos conhecer a alma de uma pessoa senão através do corpo, daquilo que o corpo nos revela, assim também, a única maneira de termos uma ideia da Alma Divina é através do Corpo Divino, que se fez visível ao homem. Ou como em outra passagem:

 “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, Ele no-Lo declarou (João 1:18).

E de novo:

 “Porque Deus... deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça... (João 3:16).

Na cruz, o Senhor disse:

 “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27:46)

Ele estava dolorosamente consciente no corpo da exclusão da Alma, na última de todas as Suas tentações, da mesma forma em que nos vemos de modo finito nas nossas tentações. Ali, Ele também disse:

 “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lucas 23:34).

A Alma Divina parece ter perdoado. O perdão vem da influência da alma, e não do corpo. O homem também tem de ser elevado acima da esfera do corpo para que seja capaz de perdoar.

Conclusão

Nesta visão da Trindade, não estamos mais obrigados a imaginar mais do que UMA ÚNICA PESSOA DIVINA, um Infinito. Como se vê, este assunto PODE ser entendido racionalmente. Podemos ver que é no Senhor Jesus Cristo que está a Trindade Divina, assim como em cada homem há uma trindade de alma, corpo e espírito (ou influência que procede da alma e do corpo).

Esta ideia foi conhecida pelos primeiros cristãos, e era assim que eles entendiam Deus, porque, ainda que tivessem sido mandados pelo Senhor batizar em nome do Pai, Filho e Espírito Santo (Mateus 28:19), eles usavam na verdade uma fórmula simplificada: batizavam “em nome de Jesus Cristo” (Atos 2:38; 8:16; 10:48), porque não havia dúvida de que Jesus era o Pai, o Filho e o Espírito Santo. E é assim que fazemos na Igreja da Nova Jerusalém.

A ideia que os apóstolos tiveram sobre o Senhor está agora restaurada e cheia de detalhes. Não que seja nova: ela sempre esteve ali, visível, nas Escrituras, e foi admiravelmente resumida por Paulo em uma de suas cartas, com estas palavras:

 “Porque n’Ele (Jesus Cristo) habita corporalmente a plenitude da Divindade (Aos Colossenses 2:9).

Esta é a visão do Senhor que é possível hoje em dia. É uma concepção capaz de se desenvolver incessantemente, e não uma ideia confusa impedida de prosseguir e estultificada pelo dogma de “mistério Divino”. Ela permite a todos imaginarem seu Criador assumindo uma frágil natureza humana a fim de estar mais perto da humanidade, uma natureza humana que podia ser tentada, mas que podia ao final ser glorificada ou feita Divina, tão Divina quanto à Alma, por meio de vitórias sobre aquelas tentações. É por isso que, no final, Jesus pôde verdadeiramente dizer aos discípulos:

 “É-Me dado todo o poder no céu e na terra (Mateus 28:18).

E Aquele que tem todo o poder é, evidentemente, o Todo-Poderoso. Assim, mesmo tendo duvidado no início, Tomé finalmente ADOROU A JESUS, dizendo:

 “SENHOR meu, e DEUS meu” (João 20:28).

Esta é a imagem do Senhor transfigurado, banhado em luz e glória, o Senhor como o DIVINO HUMANO -Divino desde a Sua Alma interna até os ossos do Seu Corpo. E Esta visão do Senhor é dada a todos os homens agora, porque está revelada em grandes detalhes nas Doutrinas Celestes para a Nova Jerusalém, no cumprimento da promessa do Senhor:

 “Ainda tenho muitas coisas que vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora... Chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai” (João 16:12,25). Amém.

 

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Atualização: Dezembro, 2022 - doutrinascelestes@gmail.com -