73. Cartas de João
73.1- Para referências quanto ao autor destas três
epístolas, vide os prefácios do Evangelho de João e do Apocalipse.
73.2- A Primeira Carta de João
73.2.1- É quase impossível determinar a época em
que foi escrita, mas a data mais provável é antes da destruição de
Jerusalém, talvez nos anos 68 ou 69, embora alguns achem que teria sido no
ano 80. A autoria desta foi atribuída a João sem questionamentos desde os
primeiros tempos da Igreja Cristã. A semelhança que se observa nas idéias e
na linguagem do quarto Evangelho e desta carta favorece essa crença. Com
efeito, esta epístola tem todo o caráter de um suplemento e comentário do
Evangelho, pois há expressões idênticas em um e outro livro. Crê-se que
foi escrita em Éfeso.
73.2.2- Mais difícil, porém, é saber a quem foi
dirigida. Na antigas versões latinas, era chamada "Epístola de João
aos Partos" (naturais de Parthos e, mais tarde, Parthia, um grande
império da antiguidade que sucedeu a Pérsia depois de 256 a.C.). Como não
há dedicatória alguma ou qualquer referência às pessoas destinatárias,
estabeleceu-se que esta era, também, uma epístola católica, isto é,
universal, como as duas que seguem e as duas que precederam, de Pedro. Além
disso, o livro se parece mais com um ensaio sobre a vida cristã do que uma
carta pastoral enviada a alguma igreja.
73.2.3- Nesta carta, João procura corroborar o
Evangelho, para isto entrando em debate com os que eram contrários às
verdades cristãs e ensinavam falsas doutrinas. Havia, já naquele tempo, quem
pusesse em dúvida a Divindade de Jesus Cristo; a esses, o apóstolo afirmou
categoricamente: "Jesus Cristo é o verdadeiro Deus e a vida eterna"
(5:20). Outros negavam a Humanidade de Jesus, Sua encarnação e Sua
história. O apóstolo rebateu essas idéias com energia: "E todo
espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus,
mas é o espírito do anti-cristo..."(4:3). E assim por diante, o
apóstolo expõe os erros e os refuta com ensinamentos positivos do Evangelho.
73.2.4- A Primeira Carta de João tem 5 capítulos e
105 versículos.
73.3- Assuntos da Primeira Carta de
João
1- O testemunho do apóstolo concernente à realidade
da pessoa e da doutrina de Jesus Cristo. Deus é luz, e se andarmos na luz,
Ele nos purifica do pecado. Ninguém pode dizer que não tem pecado. Mas, se
confessarmos nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos purificar. Cap.1.
2- Exorta-nos a não pecarmos; se, porém, pecarmos,
o próprio Senhor nos defende da acusação do pecado. Quem crê em Deus segue
o que Deus ordenou. O mandamento é que andemos na luz e amemos a nossos
irmãos. O apóstolo escreve a todas as idades e as instrui. Admoestação
contra o amor do mundo e contra o anti-cristo. Exortações à perseverança
na doutrina de Cristo. Cap.2.
3- O grande amor de Deus para com a raça humana e os
efeitos desse amor. O Senhor Se manifestou para remover o pecado contra a Lei.
Os filhos de Deus são conhecidos pela santidade de suas vidas, e os filhos do
diabos pela pecaminosidade das suas. Devemos amar uns aos outros, pois o que
odeia seu irmão é um assassino; como Cristo fez, devemos entregar nossas
vidas pelos nossos irmãos. A caridade é o fruto do amor fraterno, que deve
ser ativo. Como podemos saber que estamos na verdade. A necessidade de se
guardar os mandamentos de Cristo. Cap.3.
4- Cautela quanto aos espíritos, que devem ser
provados, pois há muitos falsos profetas. O que confessa que Jesus Cristo
veio em carne é espírito de Deus; a distinção entre o espírito da verdade
e o espírito do erro. Mostra a necessidade de se amar a Deus e amar-se ao
próximo, como Deus amou a todos. Deus enviou Seu Filho para salvar o mundo;
quem confessar esta verdade, está em Deus e Deus está nele. Deus é amor. A
natureza do perfeito amor. Amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro. A
mentira de quem diz amar a Deus mas aborrece a seu irmão. Cap.4.
5- Quem crê que Jesus é o Cristo, é nascido de
Deus, ama a Deus e guarda Seus mandamentos. Quem nasce de Deus vence o mundo.
As testemunhas terrenas e celestes. Quem é o que tem o testemunho em si e
qual é esse testemunho. Quem tem o Filho tem a vida. A razão por quê João
escreveu estas coisas. Sobre o pecado e sobre aquele que peca. O Filho de Deus
veio para nos dar entendimento. Jesus Cristo é o verdadeiro Deus e a vida
eterna. Cap.5.
73.4- A Segunda e a Terceira Cartas
de João
73.4.1- Quando se aceita a autoria e autenticidade da
primeira carta de João, aceita-se também a autoria e autenticidade das
outras duas, se considerar apenas a linguagem e o sentimento delas, por assim
dizer, pois elas concordam entre si de tal maneira, que a conclusão mais
lógica é que, quem escreveu uma, escreveu as outras. Esta é a opinião do
comentarista inglês Adam Clarke, do início do século passado.
73.4.2- No entanto, o próprio Adam Clarke relata as
várias controvérsias havidas desde o começo da era cristã a respeito das
duas últimas cartas de João, citando Eusébio, historiador do séc.IV, que
relacionou essas duas cartas entre as que não eram recebidas unanimemente
pelos cristãos. A explicação que Adam Clarke ajunta, porém, para a
dificuldade daqueles primeiros cristãos em aceitarem essas cartas, é
bastante lógica. É que essas duas cartas, tendo sido escritas não para
igrejas, mas para pessoas em particular, teriam ficado durante anos e anos em
poder das famílias para as quais foram enviadas, e, conseqüentemente, fora
do conhecimento geral dos cristãos daqueles primeiros tempos. Por serem de
caráter privado, não circularam durante um tempo considerável, impedindo
que, desde o começo, todos tivessem conhecimento de sua existência. Mais
tarde, após a morte do autor, quando elas se tornaram de conhecimento
público, a Igreja Cristã havia se espalhado e muitos outros escritos de
autoria duvidosa já tinham circulado e sido rejeitados. Era natural, pois,
que houvesse hesitação com relação a essas cartas de João. A quantidade
de "evangelhos", "cartas", "atos" e outras obras
espúrias que eram oferecidas aos cristãos naquela época é realmente
impressionante. Podem ser contados pelo menos 72 "evangelhos" que
circulavam naquela época e que foram depois rejeitados pelas igrejas, além
dos "Atos de Pedro", "Atos de Paulo, "Terceira Carta aos
Coríntios", "Carta aos Laodiceanos", "Livro de
Enoque", etc., banidos e esquecidos por causa de seu caráter dúbio, seu
estilo e sua doutrina pouco convincente. Devemos lembrar, ainda, que Eusébio
e outros grandes homens não disseram que as cartas não eram autênticas, e
sim que elas não eram recebida por todos.
73.4.3- Como já foi dito anteriormente neste curso,
o compreensível excesso de zelo de muitos cristãos tornou difícil a
aceitação de vários livros que hoje pertencem ao cânon do Novo Testamento,
fazendo que esses livros fossem "testados", por assim dizer, durante
décadas e até séculos. Além das duas últimas cartas de João, a segunda
carta de Pedro, a carta de Judas e o próprio Apocalipse não foram
reconhecidos unanimemente por todas as comunidades cristãs senão após o
terceiro século, ainda que outras comunidades as tivessem recebido plenamente
desde o começo.
73.4.4- De qualquer maneira, como observa o
comentarista Dr.Lardner, a primeira carta de João foi aceita por Policarpo,
bispo de Esmirna e contemporâneo do próprio João; por Papias, que foi
discípulo de João; por Irineu e por Clemente da Alexandria, entre outros
patriarcas. A segunda carta, ora em questão, foi citada por Irineu, foi
aceita por Clemente da Alexandria, citada por Orígenes e Dionísio da
Alexandria, todos patriarcas dos séculos I e II. E todas as três cartas
foram aceitas como autênticas por Atanásio, Cirilo, Jerônimo, Agostinho e
outros, ou seja, desde os primeiros séculos.
73.4.5- Tanto a Segunda quanto a Terceira Cartas de
João têm apenas 1 capítulo, a segunda com 13 versículos e a terceira com
15. As datas a elas atribuídas são fixadas entre 80 e 90.
73.5- Assuntos da Segunda Carta de
João
1- O apóstolo, chamando-se "Ancião"
dirige-se a certa senhora e aos seus filhos, alegrando-se pelo fato de os
filhos dela andarem na verdade e exorta-lhes a que continuem observando o
mandamento do amor mútuo. Define a caridade e faz um alerta contra falsos
mestres que negavam o nascimento de Jesus Cristo. Admoesta-os a não pecarem e
a que não recebam quem pregar doutrina diferente. Deixa para dizer outras
coisas quando fosse ter com eles e faz as saudações finais.
73.6- Assuntos da Terceira Carta de
João
1- Chamando-se agora "Presbítero", João
se dirige a um certo Gaio, fazendo-lhe votos de saúde e alegrando-se por sua
perseverança na verdade. Aconselha a Gaio a proceder com fidelidade e
hospitalidade para com os que saíram a anunciar o Evangelho. Fala da conduta
reprovável de um certo Diótrefes, que se opunha ao apóstolo e aos que
recebiam os irmãos. Pede a Gaio que não siga o mal, mas faça o bem. Fala
bem de Demétrio. Espera ir breve encontrar-se com Gaio e falar-lhe
pessoalmente.
***********************