"Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória" (Mateus 24:30).
Quando o Senhor esteve na terra, prometeu que viria novamente e o nosso texto é uma clara profecia de que Ele faria isso. A expectativa de Sua Segunda Vinda sempre fez parte integrante das esperanças daqueles que acreditam nas verdades contidas nas Escrituras Sagradas. Por isso, através dos séculos, os homens têm esperado o cumprimento da prometida redenção, procurando descobrir "o sinal do Filho do Homem". Mas a verdadeira significação da promessa, a natureza da Segunda Vinda, não foi compreendida.
Houve desvio de interpretação da seguinte passagem do livro Atos dos Apóstolos, capítulo l, versículos 9 a 11: "Ditas estas palavras, foi Jesus levado às alturas, à vista deles (discípulos), e uma nuvem O encobriu de seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes perguntaram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu O vistes ir". Uma interpretação literal dessa passagem e igual interpretação de nosso texto deu lugar a uma concepção natural do Segundo Advento.
Os adeptos da Primeira Igreja Cristã e das Igrejas dos Reformados acreditam que, depois de terríveis fenômenos celestes, o Senhor descerá através do ar, cercado de uma nuvem e aparecerá outra vez na carne. Acreditam que os mortos, despertados pelo som da trombeta angélica, ressuscitarão das sepulturas em corpos terrestres, para serem julgados. Acreditam, ainda, que, depois de o céu visível e da terra habitada serem destruídos, um novo céu será criado e formada uma nova terra, sobre a qual o Senhor reinará com os Seus eleitos.
Os Escritos da Nova Igreja são contrários a esse ponto de vista tradicional, ens esse ponto de vista tradicional, ensinando que o Segundo Advento do Senhor não foi uma vinda pessoal d'Ele e que, em lugar da idéia nebulosa que constitui aquele ponto de vista antigo, existe uma concepção racional que foi revelada à Nova Igreja. Como o Humano do Senhor Glorificado não era mais material, mas sim de substância Divina, Ele não podia vir em Pessoa, mas por meio de uma nova revelação, abrindo o sentido interno da Palavra. Essa revelação foi uma doação, através do céu, de uma nova doutrina que ensina que o Senhor Jesus Cristo é o único Deus do céu e da terra.
O Segundo Advento do Senhor é realmente expresso pelas palavras de nosso texto: "Verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória". Mas esse texto, como toda a Palavra, tem um sentido espiritual, como nos ensinam os Escritos. Pelo "Filho do Homem" é significado o Senhor quanto à Palavra; pelas "nuvens do céu" é significada a nova revelação em sua forma final, e pelo "poder e grande glória" são significadas as séries ascendentes das idéias espirituais manifestadas naquela revelação.
Durante Sua vida terrena, os discípulos viam o Senhor como um homem perfeito, e O aceitavam como Messias e Salvador da humanidade. Mas não conheciam realmente Sua natureza, não O conheciam como verdadeiro Deus. Mesmo quando os olhos dos discípulos foram abertos espiritualmente, para verem o corpo Divino depois da ressurreição, a verdade completa sobre o Senhor não lhes foi revelada, porque eles O viram como O tinham visto anteriormente no mundo, ainda com o sinal dos pregos nas mãos e com o sinal do ferimento no corpo. Não puderam ver n'Ele, porque ainda não era tempo, o Rei, sentado em Seu trono, que diria: "Eis que faço novas todas as coisas" (Apocalipse 21:5).
A primeira Igreja Cristã também reconheceu n'Ele o Messias e o Salvador do mundo, mas essa Igreja não conhecia Sua verdadeira natureza, porque a verdade completa sobre o Senhor somente foi conhecida após a revelação feita por intermédio de Emanuel Swedenborg. Assim, a identidade real de Jesus Cristo não era conhecida antes do aparecimento dos Escritos. Somente pelos Escritos foi revelado que Ele, o Messias, é o supremo e único Deus, e é plenamente Divino, mesmo quanto ao Seu Humano. Esta revelação, que faz o Senhor aparecer na Palavra como único e verdadeiro Deus, constitui a Sua Segunda Vinda.
Temos necessidade de compreender que, fazendo o Seu Segundo Advento desse modo, o Senhor veio, em essência, da mesma forma que antes. Se compreendermos isso, perceberemos que esse Advento é semelhante ao primeiro. É verdade que, em Sua Primeira Vinda, o Senhor assumiu uma natureza humana e um corpo material e, dessa forma, estava nos últimos da natureza, como um homem entre os homens. A Igreja Judaica era uma igreja representativa e o Senhor teria de renová-la.
O que efetivamente constituiu o Primeiro Advento foi a abertura pelo Senhor da significação interior da Palavra Hebraica, mostrando que ela tratava d'Ele e de Seu Reino. Mostrou, também, que todas as profecias da Palavra Hebraica eram cumpridas n'Ele, de modo que os homens podiam ver n'Ele o Messias e compreender as Escrituras de uma forma que não era compreendida antes.
Assim, a Primeira Vinda do Senhor foi uma revelação sintetizada na proclamação d'Ele Mesmo como Messias e como Filho de Deus. Mas não era apenas isso. Essa Primeira Vinda foi, na realidade, a revelação da verdade que habilita os homens a verem a Divindade do Senhor, e essa verdade lhes mostra a necessidade de prestarem culto a Aquele que é o Salvador do mundo.
Quando compreendemos isso, verificamos que a Doutrina da Segunda Vinda, pregada pela Nova Igreja, não apresenta dificuldade alguma para ser entendida. O Segundo Advento do Senhor foi realizado, também, por meio de uma revelação da Divina Verdade, porém a manifestação dessa revelação não implica que o Senhor viesse em Pessoa, mas em Espírito; era a vinda do Espírito da Verdade profetizada por Ele quando ainda estava neste mundo. Não havia necessidade de uma vinda na carne, novamente. O Senhor fez a Segunda Vinda na Palavra glorificada, o que é significado pelas "nuvens do céu" referidas em nosso texto. Contudo é um fato digno de nota que o Segundo Advento foi inaugurado pelo aparecimento do Senhor Jesus Cristo glorificado diante dos olhos espirituais de Swedenborg, segundo o testemunho dado por ele nos livros que escreveu. Esse aparecimento do Senhor Jesus Cristo como Deus-Messias simboliza a manifestação da nova revelação, por intermédio da qual seria estabelecida a Nova Igreja.
Como as revelações Divinas anteriores foram feitas através de instrumentos humanos, assim também a revelação que constitui a Segunda Vinda do Senhor foi feita por intermédio de um homem. Quando o Senhor revelou a Palavra do Antigo Testamento, Ele o fez por intermédio de Moisés e dos Profetas que se seguiram. Quando Ele Mesmo esteve no mundo, ensinou por meio de Seu humano nascido de Maria. Nas revelações dos Evangelhos e do Apocalipse, o Senhor utilizou os evangelistas. Em todos os casos, portanto, a Palavra foi dada por intermédio de homens, mas de homens inspirados por Ele, falando ou escrevendo as próprias palavras de Deus.
Os homens escolhidos para a realização de uso tão elevado eram preparados pelo Senhor. Suas mentes eram providas com pensamentos que, ordenados equilibradamente pelo Senhor, se tornavam a cobertura final da Divina Verdade. Quando chegou a ocasião de o Senhor fazer a Sua Segunda Vinda, Ele escolheu e preparou um homem por meio do qual nos deu a Palavra da Nova Igreja. Esse homem foi Emanuel Swedenborg.
Aparecendo em Pessoa diante do homem escolhido, o Senhor o encheu com Seu Espírito e lhe deu o encargo de escrever e ensinar as doutrinas da Nova Igreja, que o Próprio Senhor então lhe transmitiu. Nos estados de iluminação espiritual a que era elevado, Swedenborg recebeu do Senhor a Doutrina Celeste da Nova Jerusalém, na qual é revelado e exposto o sentido espiritual do Antigo e do Novo Testamentos.
Ao transmitir Seu influxo e Seu Espírito a Swedenborg, que era um estudioso pertinaz e possuidor de conhecimentos enciclopédicos, adquiridos durante sua preparação inconsciente para o exercício da missão que lhe seria confiada, o Senhor realizou Seu Segundo Advento, com o objetivo de colocar nas mentes e nos corações das criaturas humanas conhecimentos e sentimentos resultantes de uma nova doutrina religiosa que, se for aceita e praticada por aqueles que dela tomam conhecimento, lhes proporcionará a preparação de uma vida tranqüila e feliz no futuro.
Embora o Segundo Advento tenha sido realizado em sua plenitude pelo conjunto dos livros que constituem a obra teológica de Emanuel Swedenborg como um todo, pode-se dizer que esse Advento foi efetuado essencialmente pelo livro ARCANOS CELESTES que, em doze volumes, expõe o sentido espiritual dos dois primeiros livros da Bíblia: Gênesis e Êxodo. A publicação dessa obra foi completada em l756, nos dias que precederam a realização do Julgamento Final, ocorrido no plano espiritual, no ano de l757, em cumprimento às profecias contidas no último livro da Palavra (o Apocalipse). Nos ARCANOS CELESTES - primeira obra publicada por Swedenborg depois de recebida a missão do Senhor - está contida inteiramente a Doutrina Celeste da Nova Igreja, que é a Nova Jerusalém. Essa Doutrina é encontrada em todas as obras teológicas de Swedenborg, mas é essencialmente desenvolvida nos livros ARCANOS CELESTES (l756), APOCALIPSE REVELADO (l766) e VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ (1771).
Assim, o Senhor fez a Sua Segunda Vinda nos Escritos. Deve-se notar, entretanto, que, como aconteceu no Seu Primeiro Advento, o Senhor não se manifestou de modo a compelir alguém a crer. Quando o SenhQuando o Senhor esteve na terra, a Sua Divindade era tão velada que existiam opiniões diferentes a Seu respeito. Alguns diziam que Ele era um homem bom, outros que Ele tinha demônio, e um centurião, junto da cruz, disse que Ele era filho de Deus.
A mesma coisa ocorreu e ocorre quando se considera o Seu Segundo Advento. Algumas pessoas tiveram seus olhos abertos e viram nos Escritos a Divina Verdade que é a forma do Divino Bem. Outras encaram os ensinamentos neles contidos como alucinações de um cérebro desequilibrado ou como invenções falsas e deliberadas de um impostor. Outras pessoas, ainda, acham muita coisa boa nesses ensinamentos, mas negam que eles sejam de origem Divina, e os colocam no mesmo plano de outros escritos bons, porém de origem humana.
Somentnte com os olhos do amor e da fé podem os homens ver "o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória". Somente com caridade e sabedoria podem os homens ver os Escritos como a Palavra do Senhor. Somente com uma vontade e um entendimento esclarecidos podem eles perceber nos Escritos o Amor Infinito e a Sabedoria Infinita empregados pelo Senhor na criação e na conservação de Sua obra. Finalmente, a única maneira de compreendermos o Divino Amor e a Divina Misericórdia do Senhor pela humanidade é aceitarmos as verdades do Segundo Advento, reveladas nos Escritos destinados à Nova Igreja.
As verdades contidas nesses livros formam o corpo da nova Doutrina que aceitamos, corpo que tem a forma da Divina Sabedoria e a essência do Divino Amor, atributos que pertencem ao Senhor. Com eles, o Senhor pode reinar nas mentes e nos corações das criaturas humanas como nunca fez anteriormente. Como vimos no texto do livro VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ, foi para tornar conhecida a Sua nova revelação e para preservar Seu reino, que o Senhor mandou os Seus doze discípulos, que O acompanharam ao céu, a todo o mundo espiritual, no dia l9 de junho de l770, a fim de anunciarem a nova revelação e confirmarem que o reino do Senhor durará pelos séculos dos séculos. Comemorando hoje esse magno acontecimento, roguemos ao Senhor que abençoe a Sua Igreja. Amém.
Lições : Mat.24:29 a 31; Apoc. 11:15 a 19; VRC 77l.
Adaptação por J. Lopes Figueiredo